quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Veto a pagamento por “curtailment” afasta investidores, dizem entidades

As empresas do RN já tiveram um prejuízo de R$ 1,43 bilhão devido a cortes de geração entre os meses de janeiro e outubro| Foto: Adriano Abreu

Oveto ao ressarcimento por cortes de geração de energias renováveis deve afugentar investidores e provocar impactos diretos no mercado potiguar, segundo entidades do setor. Entre os vetos à MP 1.304/2025, que atualiza o marco regulatório do setor elétrico, a derrubada do pagamento de uma compensação pelos chamados curtailments (cortes) foi apontada como a medida mais preocupante. Na avaliação das associações, a decisão pode desestimular novos projetos e até gerar demissões no estado. O veto parcial ao Projeto de Lei de Conversão nº 10/2025 foi publicado na última terça (25) no Diário Oficial da União.

Segundo Sérgio Azevedo, presidente da Comissão Técnica de Energias Renováveis da Fiern (Coere), a medida significou um “golpe” na indústria eólica e no setor de renováveis. “O veto à emenda do deputado Danilo Forte no PL 304, somado à exclusão do critério de adicionalidade para a autoprodução de energia, cria um ambiente de forte insegurança regulatória no Brasil. Isso já leva a indústria a falar em suspensão de investimentos e risco real de demissões”, declara.

O presidente do Coere/Fiern afirma que o impacto no estado é mais direto, devido à liderança do RN em geração eólica no Brasil. Ele defende que é preciso assegurar condições que permitam a continuidade e a expansão das renováveis. “O Brasil – e especialmente o RN – não pode pagar o preço de uma insegurança que atinge justamente o setor que mais gera desenvolvimento, empregos e energia limpa”, disse.

O dispositivo vetado previa o ressarcimento, via encargos, de todos os eventos de redução da produção de energia elétrica (o chamado curtailment) que tenham sido originados externamente às instalações dos respectivos empreendimentos de geração.

Williman Oliveira, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), defende um diálogo entre o poder público e o setor de geração centralizada para resolver o problema. “Os prejuízos estão fazendo com que grandes investidores deixem o RN”, diz.

Entre as soluções apontadas por ele estão melhorias em linhas de transmissão, para escoar a energia, e sistemas de armazenamento, como os bancos de baterias.

A avaliação da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) é de que o veto à compensação aos geradores afetados pelos cortes representa um “grave risco aos projetos existentes e pode levar à perda de credibilidade, fuga de capital, fechamento de empresas, perda de empregos e retrocesso na transição energética no País”.

Para a associação, o veto ao artigo 1º-A da Lei nº 10.848/2004 mina a confiança dos investidores e prejudica a atratividade do Brasil em energia limpa. A Absolar afirma que o veto transfere custos dos cortes aos geradores renováveis, “violando regras vigentes quando estas usinas foram contratadas, projetadas e construídas. Assim, a medida do Governo Federal eleva a percepção de insegurança jurídica e instabilidade regulatória e se traduz, na prática, em um desincentivo ao desenvolvimento de novos projetos de energia solar e eólica no País”.

Os “curtailments” são determinados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e ocorrem especialmente em dois cenários: quando a energia produzida é maior do que a consumida em determinado horário e quando as linhas de transmissão não conseguem escoar a energia que seria produzida.

Segundo dados da consultoria Volt Robotics, baseados em índices do Operador Nacional do Sistema (ONS), o RN teve um prejuízo de R$ 1,43 bilhão devido a cortes de geração entre os meses de janeiro e outubro de 2025. No Brasil, nesse período, os cortes geraram uma perda de receita de R$ 5,4 bilhões nas usinas eólicas e solares centralizadas.

Lorena Roosevelt, gerente do Polo Sebrae de Energias Renováveis, pontua que a expansão das renováveis esbarrou na “baixa ampliação da infraestrutura e logística, bem como no crescimento da demanda por energia”.

Tarifas

A Frente Nacional dos Consumidores de Energia Elétrica havia enviado uma carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendendo oito vetos na MP aprovada pelo Congresso neste mês. Segundo a entidade, sem os vetos, os custos para os consumidores subiriam até atingir R$ 15 bilhões, o que significaria um aumento de 6% na conta de luz. A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) contesta essa conta.

Para a presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum, da forma como foi sancionado o projeto prejudica a indústria de energias renováveis em todo o país, colocando em risco projetos já em operação e investimentos futuros. “Não é risco, é incerteza absoluta no futuro, e isso vai prejudicar muito os investimentos futuros”, afirmou à TRIBUNA DO NORTE na terça-feira (25).

Na justificativa do veto, o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, afirmou que o artigo sobre a compensação contraria o interesse público ao abranger “todos os eventos de origem externa, independentemente da causa, o que ampliaria o escopo de compensações e transferiria aos consumidores os custos desses ressarcimentos”. Segundo a mensagem de veto, a medida teria alto impacto tarifário.

Líder em eólica, Vestas impulsiona a geração de empregos no RN

A empresa dinamarquesa Vestas, líder mundial na fabricação e manutenção de turbinas eólicas, escolheu o Rio Grande do Norte para centralizar suas operações. Na cidade de Parnamirim, na Grande Natal, o Hub Regional de Serviços da Vestas, inaugurado em setembro deste ano, já gerou cerca de 400 empregos diretos. Além disso, a estrutura consolida o estado como polo estratégico para operações de serviços da empresa na América Latina.

Hub de Serviços da Vestas recebeu ontem (26) a governadora Fátima e lideranças empresariais| Foto: Adriano Abreu

Do RN, a empresa centraliza uma estrutura voltada a controlar a operação de 60 parques e 3,2 mil turbinas em todo Brasil. A companhia atingiu, neste ano, o marco de 12 gigawatts (GW) em capacidade de energia eólica instalada em todo o país. A escolha da empresaa, que recebeu visita da governadora Fátima Bezerra nesta quarta-feira (26), considerou o RN como um dos maiores mercados de energia eólica do Brasil.

Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para a América Latina, afirma que o Hub amplia a capacidade da Vestas em oferecer soluções de operação e manutenção. “Se olhar os últimos cinco anos, crescemos muito. A gente tinha 1,6 GW de contratos de operação e manutenção no Brasil; hoje temos 12 GW. Por isso, temos quase 800 colaboradores trabalhando na empresa [a nível nacional]”, disse.

Entre 2023 e 2025, a Vestas formou mais de 8,6 mil profissionais em cursos técnicos e avançados. Segundo Ricotta, as capacitações devem evoluir nos próximos anos. “Temos o crescimento de novos parques que devem entrar nos próximos anos, e também a repotencialização de turbinas, que são turbinas mais antigas, que precisamos trocar por turbinas mais novas. Isso gera mais empregos para a região”, diz ele.

Para a governadora Fátima Bezerra, uma política estadual de incentivo fiscal no setor de serviços “atraiu e consolidou esse investimento” no RN. Segundo ela, o Governo do Estado pretende avançar na política de incentivos fiscais e tributários “para não só consolidar investimentos dessa natureza, mas atrair cada vez mais investimentos, gerando empregos com qualidade e apostando na qualificação”.

Leonardo Euler, vice-presidente de assuntos institucionais da empresa, frisa que o Rio Grande do Norte tem recursos excepcionais que o tornam referência na produção de energias renováveis: ventos constantes e unidirecionais, no contexto das eólicas. Reconhecendo esse potencial, a Vestas começou a investir no RN, e hoje controla suas operações nacionais direto do estado.

“Era natural que quiséssemos formar capital humano perto de onde temos esses parques de geração. À medida que essa operação foi se expandindo, fez sentido termos a operação e a manutenção aqui”, explica Euler sobre o potencial do RN.

De acordo com ele, possíveis expansões para outras fontes renováveis, como o hidrogênio verde, devem gerar mais desenvolvimento.

“Continuamos com a perspectiva [de crescimento], mesmo num cenário nacional desafiador em termos da expansão das renováveis em função de uma série de variáveis, como cortes de geração por restrição de transmissão, etc”, afirma. “Com esses novos vetores, como o hidrogênio verde, como o data center, cria-se uma demanda importante para que esse processo de crescimento não pare”, acrescenta.

A estrutura, localizada na Av. Ayrton Senna, se integra a dois ativos já existentes no Estado: o Warehouse Central, com 5,6 mil m², responsável pelo fornecimento de peças e componentes estratégicos para toda a América Latina; e o Vestas LATAM Service & CPX Academy. Esses equipamentos reforçam a atuação do Rio Grande do Norte no setor e consolidam parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em capacitação técnica e intercâmbio internacional de instrutores.

Tribuna do Norte

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