sexta-feira, 9 de maio de 2025

O que é ciguatera? Toxina suspeita de causar intoxicação em médicas em Natal

Um caso de intoxicação alimentar, que levou duas médicas à UTI após o consumo de peixe em um restaurante em Natal, acendeu o alerta para um risco pouco conhecido na costa brasileira: a ciguatera. A toxina é conhecida como originada de diversas espécies de algas (dinoflagelados). A intoxicação por ciguatera em humanos é causada pelo consumo de peixes marinhos com barbatanas, de regiões subtropicais e tropicais, que tenham acumulado a toxina naturalmente devido à dieta. A confirmação da causa da internação das médicas ainda vai ser confirmada. Amostras dos alimentos consumidos por elas foram coletadas e enviadas para análise no Laboratório Central de Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Lacen).

O caso é investigado pelo Departamento de Vigilância em Saúde (DVS), vinculado à Secretaria Municipal de Natal, por meio de equipes do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) e a da Vigilância Sanitária de Natal (VISA Natal). A investigação também é acompanhada pela Secretaria Estadual da Saúde Pública (Sesap), que havia publicado em 16 de abril uma nota informativa para profissionais da saúde ficarem atentos às intoxicações exógenas associadas ao consumo de pescados contaminados por toxinas, dentre elas a ciguatera.

Com suspeita de intoxicação, médicas são internadas em UTI após consumir peixe em restaurante

Na nota, a Sesap destacava que a magnitude da doença no Brasil ainda é pouco conhecida, entretanto há relatos de casos descritos no estado de Pernambuco, especificamente a partir do ano de 2022 com ocorrências nos anos subsequentes no arquipélago de Fernando de Noronha. Apesar da suspeita, a pasta destaca que é preciso haver cautela e a aproveitou para reforçar a necessidade de higienização (lavagem) adequada do pescado.

Presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindpesca/RN), Arimar Filho, afirmou que ainda não é possível determinar a causa da intoxicação que levou médicas à UTI, mas destacou que os sintomas são compatíveis com a ciguatera, uma toxina natural e rara no Brasil e mais comum no Caribe. Em entrevista ao Ligado nas Cidades, da Jovem Pan News Natal (93,5 FM), ele também apontou a possibilidade de histamina como causa, caso tenha havido falhas na cadeia de frio após a pesca.

“Ainda é cedo para afirmarmos a causa exata. Os sintomas podem indicar ciguatera, que é uma toxina natural presente em algas consumidas por peixes. No entanto, outras hipóteses, como a histamina, também precisam ser consideradas”, afirmou Arimar.

Essas toxinas se acumulam ao longo da cadeia alimentar: primeiro nos peixes herbívoros que consomem as algas e depois nos peixes carnívoros que os devoram — e, por fim, nos humanos. “Se for realmente ciguatera, é uma fatalidade. É algo que não pode ser detectado antes do consumo e que ocorre de forma natural no ambiente marinho”, explicou Arimar.

Uma das espécies de peixe envolvida no caso é o dourado. Embora não seja um peixe de recife — o tipo mais associado à toxina —, o presidente do Sindipesca explica que, por ser carnívoro, o dourado pode bioacumular a toxina, ao se alimentar de peixes contaminados.

“É por isso que reforçamos a importância de saber a origem do pescado. Estabelecimentos com inspeção federal fazem análises regulares e garantem rastreabilidade. No caso da ciguatera, mesmo isso não evita o problema, mas reduz outros riscos”, pontuou o presidente do Sindpesca.

Arimar também sugere que outra hipótese considerada é a intoxicação por histamina, que ocorre quando há falha na refrigeração do pescado, geralmente durante o transporte ou manuseio. Essa condição também pode provocar sintomas gastrointestinais e costuma estar associada à quebra da cadeia do frio.

O que é ciguatera?

Ciguatera é uma toxina que acomente seres humanos pela ingestão de peixes contaminados pelo consumo de diversas espécies de algas que crescem em recifes de corais. Essas toxinas não têm cheiro, sabor e não são destruídas pelo cozimento ou congelamento. Entre os sintomas estão dores abdominais, vômitos, diarreia, sensação de formigamento, inversão térmica (frio parece quente e vice-versa) e problemas cardíacos. O diagnóstico é clínico e não há tratamento específico, sendo essencial o atendimento médico imediato.

Os sintomas variam de náuseas e diarreia a distúrbios neurológicos como formigamento, inversão térmica (frio parece quente e vice-versa), fraqueza muscular e até problemas cardíacos. Segundo manuais sanitários, não existe teste específico para confirmar a doença em humanos, e o diagnóstico depende do histórico alimentar do paciente. Embora seja mais comum no Caribe, autoridades brasileiras alertam que há risco na costa brasileira, e casos podem estar subnotificados

Nota Informativa da Sesap

Segundo nota informativa emitida pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), em virtude da Semana Santa, a contaminação por ciguatera é rara no Brasil, mas já foi registrada em Fernando de Noronha a partir de 2022. A pasta alerta que não existe tratamento específico para a condição, reforçando a importância da notificação e da análise laboratorial dos casos suspeitos.

“Não há tratamento específico para a ciguatera. O manejo é feito com hidratação e cuidados sintomáticos. Também não há teste laboratorial em humanos — o diagnóstico é clínico, com base nos sintomas e na história alimentar”, afirma o documento da Sesap.

A intoxicação por Ciguatera ocorre após a ingestão de peixes de recifes contaminados com ciguatoxinas, que são toxinas potentes e se originam do Gambierdiscus toxicus, um pequeno organismo marinho (dinoflagelado) que cresce em recifes de corais e ao redor deles. Esses dinoflagelados são ingeridos por peixes herbívoros e passam pela cadeia alimentar marinha para os peixes carnívoros e, finalmente, para os humanos.

As ciguatoxinas são concentradas no fígado, intestinos, ovas e cabeças dos peixes.

Manifestações clínicas da ciguatera

As manifestações clínicas da Ciguatera em humanos geralmente envolvem uma combinação de sinais e sintomas
gastrointestinais, neurológicos e cardiovasculares

Sintomas Gastrointestinais: inicia-se dentro de pouco minutos até aproximadamente 48 horas e caracteriza-se por dores abdominais; náuseas; vômitos e diarreias.

Manifestações Neurológicas: geralmente duram de alguns dias a várias semanas, mas podem persistir por meses ou até anos e dentre elas estão as disestesia paradoxal (inversão térmica); astenia, parestesias; disestesias intensas periorais na boca, faringe, tronco, órgãos genitais, períneo e extremidades; cefaleias; mialgias e/ou cãibras; sabor metálico na boca; fraqueza muscular e visão turva.

Alterações cardiovasculares: são transitórias e eventuais, tais como, bradicardia; hipotensão arterial; bloqueio da condução cardíaca ou choque cardiogênico.

Assista a íntegra da entrevista:

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