O caso é investigado pelo
Departamento de Vigilância em Saúde (DVS), vinculado à Secretaria Municipal de
Natal, por meio de equipes do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância
em Saúde (CIEVS) e a da Vigilância Sanitária de Natal (VISA Natal). A investigação
também é acompanhada pela Secretaria Estadual da Saúde Pública (Sesap), que
havia publicado em 16 de abril uma nota informativa para profissionais da saúde
ficarem atentos às intoxicações exógenas associadas ao consumo de pescados
contaminados por toxinas, dentre elas a ciguatera.
Com
suspeita de intoxicação, médicas são internadas em UTI após consumir peixe em
restaurante
Na nota, a Sesap destacava que
a magnitude da doença no Brasil ainda é pouco conhecida, entretanto há relatos
de casos descritos no estado de Pernambuco, especificamente a partir do ano de
2022 com ocorrências nos anos subsequentes no arquipélago de Fernando de
Noronha. Apesar da suspeita, a pasta destaca que é preciso haver cautela e a
aproveitou para reforçar a necessidade de higienização (lavagem) adequada do
pescado.
Presidente do Sindicato da
Indústria da Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindpesca/RN), Arimar
Filho, afirmou que ainda não é possível determinar a causa da intoxicação que
levou médicas à UTI, mas destacou que os sintomas são compatíveis com a ciguatera,
uma toxina natural e rara no Brasil e mais comum no Caribe. Em entrevista ao
Ligado nas Cidades, da Jovem Pan News Natal (93,5 FM), ele também apontou a
possibilidade de histamina como causa, caso tenha havido falhas na cadeia de
frio após a pesca.
“Ainda é cedo para afirmarmos
a causa exata. Os sintomas podem indicar ciguatera, que é uma toxina natural
presente em algas consumidas por peixes. No entanto, outras hipóteses, como a
histamina, também precisam ser consideradas”, afirmou Arimar.
Essas toxinas se acumulam ao
longo da cadeia alimentar: primeiro nos peixes herbívoros que consomem as algas
e depois nos peixes carnívoros que os devoram — e, por fim, nos humanos. “Se
for realmente ciguatera, é uma fatalidade. É algo que não pode ser detectado
antes do consumo e que ocorre de forma natural no ambiente marinho”, explicou
Arimar.
Uma das espécies de peixe
envolvida no caso é o dourado. Embora não seja um peixe de recife — o tipo mais
associado à toxina —, o presidente do Sindipesca explica que, por ser
carnívoro, o dourado pode bioacumular a toxina, ao se alimentar de peixes contaminados.
“É por isso que reforçamos a
importância de saber a origem do pescado. Estabelecimentos com inspeção federal
fazem análises regulares e garantem rastreabilidade. No caso da ciguatera,
mesmo isso não evita o problema, mas reduz outros riscos”, pontuou o presidente
do Sindpesca.
Arimar também sugere que outra
hipótese considerada é a intoxicação por histamina, que ocorre quando há falha
na refrigeração do pescado, geralmente durante o transporte ou manuseio. Essa
condição também pode provocar sintomas gastrointestinais e costuma estar
associada à quebra da cadeia do frio.
O que é ciguatera?
Ciguatera é uma toxina que acomente seres humanos pela ingestão de peixes
contaminados pelo consumo de diversas espécies de algas que crescem em recifes
de corais. Essas toxinas não têm cheiro, sabor e não são destruídas pelo
cozimento ou congelamento. Entre os sintomas estão dores abdominais, vômitos,
diarreia, sensação de formigamento, inversão térmica (frio parece quente e
vice-versa) e problemas cardíacos. O diagnóstico é clínico e não há tratamento
específico, sendo essencial o atendimento médico imediato.
Os sintomas variam de náuseas
e diarreia a distúrbios neurológicos como formigamento, inversão térmica (frio
parece quente e vice-versa), fraqueza muscular e até problemas cardíacos.
Segundo manuais sanitários, não existe teste específico para confirmar a doença
em humanos, e o diagnóstico depende do histórico alimentar do paciente. Embora
seja mais comum no Caribe, autoridades brasileiras alertam que há risco na
costa brasileira, e casos podem estar subnotificados
Nota Informativa da Sesap
Segundo nota informativa
emitida pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), em virtude da Semana Santa,
a contaminação por ciguatera é rara no Brasil, mas já foi registrada em
Fernando de Noronha a partir de 2022. A pasta alerta que não existe tratamento
específico para a condição, reforçando a importância da notificação e da
análise laboratorial dos casos suspeitos.
“Não há tratamento específico para a ciguatera. O manejo é feito com hidratação
e cuidados sintomáticos. Também não há teste laboratorial em humanos — o
diagnóstico é clínico, com base nos sintomas e na história alimentar”, afirma o
documento da Sesap.
A intoxicação por Ciguatera
ocorre após a ingestão de peixes de recifes contaminados com ciguatoxinas, que
são toxinas potentes e se originam do Gambierdiscus toxicus, um pequeno
organismo marinho (dinoflagelado) que cresce em recifes de corais e ao redor
deles. Esses dinoflagelados são ingeridos por peixes herbívoros e passam pela
cadeia alimentar marinha para os peixes carnívoros e, finalmente, para os
humanos.
As ciguatoxinas são
concentradas no fígado, intestinos, ovas e cabeças dos peixes.
Manifestações clínicas da
ciguatera
As manifestações clínicas da
Ciguatera em humanos geralmente envolvem uma combinação de sinais e sintomas
gastrointestinais, neurológicos e cardiovasculares
Sintomas Gastrointestinais: inicia-se
dentro de pouco minutos até aproximadamente 48 horas e caracteriza-se por dores
abdominais; náuseas; vômitos e diarreias.
Manifestações Neurológicas: geralmente
duram de alguns dias a várias semanas, mas podem persistir por meses ou até
anos e dentre elas estão as disestesia paradoxal (inversão térmica); astenia,
parestesias; disestesias intensas periorais na boca, faringe, tronco, órgãos
genitais, períneo e extremidades; cefaleias; mialgias e/ou cãibras; sabor
metálico na boca; fraqueza muscular e visão turva.
Alterações cardiovasculares: são
transitórias e eventuais, tais como, bradicardia; hipotensão arterial; bloqueio
da condução cardíaca ou choque cardiogênico.
Assista a íntegra da entrevista:

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