"O acordo entre EUA e
China, em Genebra, é uma demonstração, pura e simplesmente, de que tudo seria
mais fácil se antes de anunciar de forma unilateral as taxações, os EUA
tivessem conversado com a China. Seria muito mais fácil, muito mais
simples e muito menos penoso para o mundo. É uma demonstração de que tarda, mas
não falha. A sabedoria leva a gente sempre à mesa de negociação", disse
Lula durante entrevista à imprensa, em Pequim, capital chinesa, onde o presidente brasileiro cumpriu visita oficial nos últimos
dias.
Ele ainda defendeu a volta da
Organização Mundial do Comércio (OMC) como principal mecanismo para discussão
de tarifas comerciais.
Ambos os países anunciaram que
reduzirão tarifas recíprocas extras impostas no mês passado. Pelo lado
norte-americano, as tarifas contra produtos chineses cairão de 145% para 30%.
Do lado oposto, os chineses reduzirão as taxas extras contra os EUA de 125%
para 10%. As negociações entre as duas maiores potências econômicas do planeta
prosseguirão, mas já trouxe alívio imediato para a economia mundial.
Nova ordem mundial
Lula voltou a defender a
revitalização do sistema de governança global, argumentando que não há espaço
para ações unilaterais, citando o desafio de conter o aquecimento global e suas
consequências catastróficas para a vida humana no planeta.
"Se não tiver a ONU
[Organização das Nações Unidas] com força, a questão climática vai ser tratada
de forma secundária. Não adianta tomar decisão na COPs [conferências do clima
da ONU], se depois você não tem uma instância de governança mundial que obriga
a execução. Isso vai cansando, porque você toma decisão e não acontece nada.
Chega um dia e desanima", pontuou.
Para o presidente brasileiro,
a visita à China fortaleceu a visão compartilhada com o líder do país, Xi
Jinping, sobre a importância do multilateralismo na coordenação das
questões globais.
"A China merece ser
olhada com mais carinho e sem preconceitos. A China é a novidade econômica e
tecnológica do século XXI. Os Brics é outra novidade extraordinária desse
século", destacou Lula, lembrando da Cúpula dos Brics que o Brasil sediará
em julho, no Rio de Janeiro.
"Nós queremos tomar
decisões importantes para ver se a gente muda o eixo da geopolítica
mundial", garantiu.
Regulação das redes
Durante a coletiva, em Pequim,
Lula foi questionado sobre a conversa que teve com o presidente chinês, na
noite anterior, em jantar de boas-vindas, a respeito dos impactos negativos de
redes sociais na inflamação da violência política, como o TikTok, que é uma
plataforma criada e controlada pela China.
Ao responder, Lula
disse que ele abordou o tema com Xi Jinping e manifestou irritação
com o vazamento do teor da conversa, que envolveu um comentário da
primeira-dama Janja da Silva.
O presidente contou que
perguntou a Xi Jinping se ele poderia enviar um representante ao Brasil para
discutir a questão do funcionamento das redes sociais, em especial o Tik
Tok.
"E aí a Janja pediu a
palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as
mulheres e contra as crianças. Foi só isso", disse Lula. "A
pergunta foi minha. Eu não me senti nenhum pouco incomodado. O fato da minha
mulher pedir a palavra é porque minha mulher não é cidadã de segunda classe.
Ela entende mais de direito digital do que eu e resolveu falar",
destacou o presidente.
"A primeira coisa que eu
acho estranho é como essa pergunta chegou à imprensa, porque só estavam meus
ministros lá, o [Davi] Alcolumbre [presidente do Senado] e o Elmar [Nascimento,
2º vice-presidente da Câmara dos Deputados]. Então, alguém teve a pachorra de
ligar para alguém e contar uma conversa que teve num jantar, que era uma coisa
muito confidencial e muito pessoal", criticou.
Ainda sobre a conversa
com o presidente chinês, Lula revelou que Xi Jinping respondeu
"que o Brasil tem direito de fazer a regulamentação".
"Ainda bem que estava o
Elmar, em nome da Câmara, e o Davi, que sabem que nós temos que regulamentar
[as redes sociais]. Não é possível a gente continuar com as redes digitais
cometendo os absurdos que cometem, e a gente não ter capacidade de fazer uma
regulamentação", afirmou.
Agência Brasil

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