De acordo com a entidade, mais de 66 mil
novos casos foram registrados no Brasil em 2020, e mais de 15 mil pacientes
morreram em 2018 pela doença. O cenário que envolve o câncer masculino também
não passou batido pelos efeitos do coronavírus em 2020. Em todo Brasil, a
procura por exames de rotina para rastreamento do câncer de próstata diminuiu
no primeiro ano da pandemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU),
a coleta de biópsia da próstata teve redução de 44% e os exame Antígeno
Prostático Específico (PSA) de 20%. Fato que torna o Novembro Azul ainda mais
importante em 2021.
A redução no número de atendimentos nos consultórios privados e nos
ambulatórios do SUS refletiu em 2021 num aumento da demanda de pacientes, além
do diagnóstico de muitos casos de câncer em fase tardia devido ao atraso do
diagnóstico. “Nós da Liga Contra o Câncer temos aumentado o número de
atendimentos de pacientes em nossos ambulatórios de maneira a fazer frente à
essa demanda reprimida, bem como implementamos um esforço concentrado no
sentido de operar os pacientes o mais rápido possível”, afirma Kallyandre
Medeiros, chefe da unidade de urologia da Liga.
O médico acredita que as campanhas de conscientização veiculadas por órgãos
como a Sociedade Brasileira de Urologia têm contribuído para aumentar a
conscientização do homem com o autocuidado, assim como uma redução no
preconceito com o exame de próstata. “De toda forma é extremamente importante
um trabalho de educação continuada nesse sentido bem como uma maior facilidade
de acesso aos pacientes do serviço público saúde talvez pelo atendimento em
horários alternativos, como à noite, já que muitos trabalham os dois expedientes”,
diz.
O câncer de próstata é inicialmente assintomático, o que torna a prevenção
fundamental: 20% dos diagnósticos são feitos já em estágios avançados.
Dados do Ministério da Saúde, indicam que a doença causou 15.576 óbitos em
homens somente em 2018. Kallyandre explica que muitas vezes os homens procuram
o médico devido aos sintomas do crescimento benigno da próstata, que incluem
dificuldade ou esforço para urinar, jato urinário fraco, sensação de não
esvaziar completamente a bexiga, urinar em pouca quantidade (polaciúria),
e também acordar muitas vezes á noite para urinar.
Segundo o médico, quando o câncer de próstata se torna sintomático, usualmente
reflete a invasão de outros órgãos como a bexiga, provocando a presença de
sangue na urina (também conhecida como hematúria) ou mesmo dor óssea que pode
corresponder à presença de metástases ósseas. O exame é tranquilo, necessário e
traz muitos benefícios, porque quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores
são as chances de tratamento. Assim, o exame de PSA (antígeno prostático
específico) e, quando necessário, o exame de toque.
Kallyandre afirma que as campanhas, no geral, têm surtido efeitos
positivos. “Temos observado que muitos homens estão vencendo o
preconceito e procurando atendimento médico não só durante o mês de novembro,
mas durante o ano inteiro. Infelizmente, ainda não temos a facilidade de acesso
que gostaríamos de proporcionar aos pacientes, mas pouco a pouco temos
conseguido conscientizar mais pessoas da importância da prevenção”, diz.
O médico explica que o Rio Grande do Norte enfrenta uma grande dificuldade
especialmente relacionada às cirurgias urológicas para as doenças benignas do
aparelho urinário, especialmente o cálculo urinário e a hiperplasia benigna da
próstata, principalmente o que leva muitos homens a permanecerem em uso de
sonda urinária por um longo tempo, aguardando procedimentos cirúrgicos que
levam às vezes anos para serem realizados.
O urologista Maryo Kempes, o assunto ainda envolve certo preconceito e precisa
ser sempre abordado e esclarecido para que os homens possam tomar medidas
adequadas e garantir mais tempo de vida. “O mais recomendado é fazer
exames periodicamente”, sugere. Sociedades médicas recomendam que homens a
partir dos 50 anos de idade façam o exame de próstata anualmente, e acima dos
45, se estiver inserido nos fatores de risco. Estimativas do Inca apontam que
mais de 70 mil novos casos da doença serão registrados neste ano.
Maryo ressalta o fato de que
os homens vivem cerca de sete anos a menos que as mulheres. Um dos motivos para
a diferença reside na postura comum a eles de não procurarem preventivamente
atendimento médico. Para ajudar a quebrar essa resistência, há iniciativas
como o Novembro Azul, para conscientizá-los sobre a importância do diagnóstico
precoce do câncer de próstata, o mais comum entre o público masculino.
Fora da curva e atento
Humberto Torres, 72 anos, aposentado, é um ponto fora da curva quando se fala
na relação do homem com sua saúde. Desde os 40 anos ele segue os protocolos de
controle da próstata. Ele sempre foi de ler e ficar atento sobre o assunto. Boa
parte disso se deve a outros casos da doença que teve na família, com avô
paterno, pais e irmãos – embora nenhum tenha morrido por esse problema.
“Excetuando o meu pai, todos faleceram com idade bem acima dos 90 anos, então
não descuidei”, ressalta.
A descoberta do câncer de próstata veio, segundo ele, quase “por acaso”, já que
ele sempre foi de fazer exames. Ao completar 68 anos, o médico sugeriu que ele
fizesse uma biópsia de controle. O exame, a princípio, não detectou nada.
“Outros exames foram feitos, todos dando negativo; aguardei seis meses e repeti
os exames, e fiz um muito específico, que não é processado no Brasil, e neste
veio a indicação de doença”, conta.
A solução apresentada seria
radioterapia ou cirurgia radical, remoção total junto com os gânglios
associados na região. Humberto optou pela prostatectomia com esvaziamento
dos gânglios.. A cirurgia foi feita em fevereiro de 2018. Entre
internação e alta foram dois dias e meio. Uma semana com sonda, e
encerrado o procedimento. Ele descreve todo o processo com naturalidade e
confiança. Nunca fumou e nem bebe. Admite que está sedentário devido a
pandemia, mas cuida da alimentação, e faz consultas regulares ao cardiologista,
urologista e dermatologista. Não é azul só em novembro.

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