Informações do Anuário da
Educação Básica 2025 revelam números alarmantes em relação à aprendizagem
adequada de Língua Portuguesa e Matemática nas escolas públicas do RN. O Estado
tem taxa de 6,4% (a terceira maior do Nordeste, atrás do Ceará, com 7,2%, e de
Pernambuco, com 6,6%). Em outras palavras, de cada 100 estudantes potiguares,
apenas 6,4 concluem o Ensino Médio com nível adequado. A média nacional é de
4,5%, e no Nordeste, 4,3%. Os dados são de 2023.
O estudante Diego Guilherme,
de 18 anos, confessa que matemática não está entre as matérias que ele
considera ter o melhor desempenho. Aluno do Atheneu, em Natal, Guilherme
revelou que as dificuldades com cálculo fazem com que ele tenha menos estímulo
para encarar a disciplina. “Essa dificuldade acaba gerando um desinteresse.
Imagino que isso pode me afetar no futuro de alguma forma, como na participação
de um concurso público, por exemplo”, fala o estudante.
Maria Beatriz, de 18 anos,
também está concluindo o Ensino Médio. Ela comenta não ser fácil lidar com
fórmulas e operações matemáticas, questão que lhe acompanhou durante toda a
trajetória escolar. “Acho que não aprendi o suficiente. Creio que as mudanças
que tiveram, com o novo Ensino Médio, contribuíram para a falta de aprendizado
adequado nesta etapa, porque tudo ficou muito confuso”, relata.
Gustavo Fernandes, mestre em
Educação e especialista em Gestão Escolar, analisa que o baixo índice de
aprendizagem na última fase da Educação Básica está diretamente relacionado às
primeiras etapas. Segundo o anuário, nos anos iniciais do Ensino Fundamental
(do 1º ao 5º ano), o índice de aprendizagem de alunos de escolas públicas no RN
em Língua Portuguesa e Matemática ficou em 19,6%; nos anos finais do Ensino
Fundamental (do 6º ao 9º ano), a taxa ficou em 6,6% nas escolas públicas do
estado.
“Existem municípios onde mais
de 50% dos alunos não são alfabetizados no Ensino Fundamental. Então, esse
aluno chega no Ensino Médio e não consegue ter um bom aproveitamento por conta
das lacunas acumuladas. É também no Ensino Médio onde o problema se potencializa,
principalmente na área de exatas”, discorre Fernandes, que é secretário de
Educação no Município de Nísia Floresta, na Grande Natal.
Sobre o desempenho da rede
estadual, a SEEC informou que, para buscar reverter este e os demais dados
disponibilizados pelo anuário, vem executando um conjunto de iniciativas para
fortalecer o ensino. “Entre as iniciativas estão a reestruturação física das
escolas, com um investimento superior a R$ 420 milhões com obras de reforma,
ampliação e modernização dos espaços; a ampliação da conectividade, com
instalação de internet de alta velocidade em toda a rede e entrega de novos
equipamentos de informática, com investimento superior a R$ 77 milhões”, disse
a pasta.
A Secretaria mencionou que tem
implementado ações de recomposição das aprendizagens voltadas à recuperação das
habilidades essenciais; além da intensificação da Busca Ativa Escolar,
realizada em parceria com os municípios para assegurar o retorno dos estudantes
que se encontram fora da sala de aula. “Somam-se a essas ações o fortalecimento
das iniciativas de formação docente e o desenvolvimento de políticas que
integram inovação, tecnologia e novas metodologias de ensino”, escreveu a SEEC
em nota.
Sobre os baixos níveis de
aprendizagem no Ensino Fundamental, de responsabilidade majoritariamente dos
municípios, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação no RN
(Undime/RN), explicou que o cenário é resultado de fatores como desigualdades sociais,
lacunas históricas de formação docente e ausência prolongada de políticas
nacionais de recomposição das aprendizagens.
“Para reverter esse quadro, a
Undime defende a continuidade e o fortalecimento de ações como expansão da
educação integral, formação de professores, recomposição das aprendizagens,
avaliações diagnósticas e gestão educacional estruturada. Os dados mostram que
o estado está avançando e que os municípios têm atuado de forma comprometida
para melhorar a qualidade da educação”, comentou a entidade.
Evasão e reprovação são
frequentes
Mesmo com uma melhora de 5,4
pontos percentuais em 10 anos, o Rio Grande do Norte apresentou uma taxa de
reprovação de 11,8% no Ensino Médio em 2024, a mais alta entre todos os estados
do Brasil e o DF e bem acima das médias nacional (5,1%) e do Nordeste (4,4%). O
RN também ficou na lanterna do País no ranking que mede o abandono escolar
nesta etapa, com taxa de 6,8%, novamente acima dos índices nacional (3,2%) e do
Nordeste (3,5%). Os números de evasão e reprovação também incluem a rede
federal e privada.
Em 2014, as taxas de
reprovação e abandono escolar no Ensino Médio potiguar eram de 17,2% e de 10%,
respectivamente. No ano passado, a segunda unidade federativa com maior índice
do País em reprovação nesta etapa foi o Rio de Janeiro (11,2%); quanto ao abandono,
a Bahia foi o segundo estado brasileiro com maior taxa (5,8%). Em nota, a
Secretaria de Estado da Educação (SEEC/RN) afirmou que os dados do anuário
“refletem um histórico de abandono e ausência de investimentos estruturantes
que marcaram a educação pública potiguar por muitos anos”.
Segundo a pasta, “desde o
início da atual gestão, o Governo implantou uma estratégia contínua de
recuperação da rede estadual, com foco na reestruturação das unidades
escolares, na melhoria da infraestrutura e na valorização das condições de
ensino e aprendizagem”. A SEEC pontuou que os resultados desse processo não são
imediatos. “A superação das desigualdades educacionais, bem como a elevação dos
indicadores de aprendizagem, demanda tempo, continuidade das políticas e ações
sistemáticas em todas as regiões do estado”.
Maioria dos alunos sai sem saber
matemática básica | Foto: Magnus Nascimento
Para Gustavo Fernandes, mestre
em Educação e especialista em Gestão Escolar, os índices de reprovação e
abandono no Ensino Médio potiguar são puxados por outro dado que coloca o
estado na primeira posição do ranking nacional e mostra o quanto o cenário local
precisa de políticas públicas para avançar: é a chamada distorção idade-série,
ou seja, o atraso na trajetória escolar, que registra taxa de 34% no RN,
segundo o anuário.
“Essa distorção ainda é muito
alta”, aponta. O especialista afirma ser necessário o que ele chama de
“acompanhamento severo” nas escolas da rede, especialmente naquelas mais
afastadas dos grandes centros, para mudar o quadro. Fernandes avalia que as
razões dos variados problemas estão todas interligadas e cita a falta de
professores como uma das principais causas dos gargalos na rede. “O abandono
escolar e a baixa aprendizagem estão diretamente relacionados à prática docente
se nós considerarmos que a ausência de professores em sala de aula é muito
forte”, avalia.
“Sem aulas, os alunos
encontram um ambiente escolar pouco atrativo. É preciso pensar em uma escola
que produza uma motivação maior para garantir a permanência e o aprendizado do
estudante. E isso se faz com um acompanhamento eficaz que passa, de modo muito
importante, pela presença dos professores em sala.”, diz.
Ensino Fundamental em crise
Não é apenas no Ensino Médio
que o RN apresenta os dados mais elevados do Brasil quanto ao desempenho dos
estudantes. De acordo com o Anuário da Educação Básica, nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, o índice de reprovação foi de 4,7% em 2024, o segundo maior
do País (o Pará ocupa a primeira posição, com taxa de 5%). Já nos anos finais
do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), a taxa de reprovação entre estudantes
potiguares é de 13,8% (o mais alto do Brasil, seguido por Sergipe, com 8,8%).
Para a Undime, apesar dos
dados, os municípios têm avançado de forma consistente. “Dados do MEC mostram
que o RN criou 13.327 novas matrículas em 2023, ampliou em 8.484 o número de
matrículas entre os Censos de 2023 e 2024 e alcançou 21.811 matrículas declaradas,
o que representa 199% de execução em relação ao pactuado com o Programa Escola
em Tempo Integral. Esse crescimento evidencia o esforço das redes municipais em
reorganizar infraestrutura, equipes e práticas”, assinalou.
Taxa de reprovação no
Ensino Médio (ano base 2024)
RN: 11,8%
RJ: 11,2%
SC: 10,2%
RS: 9,9%
PB: 8,5%
DF: 8,4%
AC: 7,8%
AP: 7,5%
RR: 7,2%
MG: 6,6%
AM: 6,3%
MS: 5,8%
SE: 5,5%
AL: 5,3%
RO: 5,2%
PR: 5,1%
BA: 4,9%
MA: 4,4%
TO: 4,1%
MT: 3,5%
SP: 3,1%
PE: 3%
ES: 2,2%
GO: 1,9%
PI: 1,5%
CE: 1,2%
PA: 1,1%
Taxa de abandono no Ensino
Médio (ano base 2024)
RN: 6,8%
BA: 5,8%
PB: 5,8%
MG: 5,2%
AC: 4,8%
RS: 4,6%
RJ: 4,5%
SC: 4,1%
AM: 4%
RO: 4%
AL: 3,7%
RR: 3,6%
AP: 3,5%
MA: 3,3%
MT: 2,9%
DF: 2,7%
SP: 2,1%
MS: 2%
TO: 2%
PA: 1,9%
CE: 1,8%
SE: 1,6%
PR: 1,3%
GO: 1,2%
ES: 1,1%
PE: 0,7%
Fonte: Anuário da Educação
Básica 2025
Felipe Salustino/Repórter
Tribuna do Norte

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