domingo, 23 de novembro de 2025

Natal acelera lançamentos e vendas; cidades vizinhas ficam estagnadas

Estudo da Brain/Sebrae/Sinduscon revela ritmo acelerado de lançamentos na capital e colapso da oferta na Região Metropolitana| Foto: Alex Régis

O mercado imobiliário da Grande Natal entrou no terceiro trimestre de 2025 dividido em duas velocidades. Enquanto a capital registrou uma disparada inédita nos lançamentos e nas vendas de imóveis verticais, a Região Metropolitana (RM) encolheu e não teve nenhum novo empreendimento no período. O contraste, apontado pelo Panorama do Mercado Imobiliário – 3º Trimestre de 2025, estudo elaborado pela Brain Inteligência Estratégica, encomendado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do RN (Sebrae/RN) e Sindicato da Indústria da Construção Civil do RN (Sinduscon/RN).

Em Natal, os lançamentos de unidades verticais cresceram 204%, movimentando um VGV de R$ 109 milhões, alta de 72% sobre o mesmo trimestre de 2024. Nas vendas, o salto foi ainda mais expressivo: avanço de 255% no volume de unidades comercializadas e um VGV de R$ 238 milhões, 147% acima do ano anterior.

Já na Região Metropolitana, o cenário foi oposto. Não houve nenhum lançamento no trimestre, após um ciclo anterior impulsionado quase exclusivamente pelo Mirante Green Park, em São Gonçalo do Amarante. As vendas despencaram 76%, refletindo a ausência de novos produtos e o esgotamento do impulso provocado pelo empreendimento.

O reflexo dessa ruptura aparece também na oferta. A capital teve aumento de 11% no estoque de unidades verticais, enquanto a RM encolheu 45%. O padrão econômico segue como carro-chefe, representando 37,7% das unidades disponíveis, e os apartamentos de dois quartos continuam dominantes, com 66% da oferta total. O preço do metro quadrado em Natal ficou em R$ 8.407, com variação tímida de 0,2% no trimestre e alta acumulada de 7% no ano, indicando estabilidade de preços mesmo diante da demanda aquecida.

A disparada da construção na capital, porém, não elimina as preocupações do setor. O presidente do Sinduscon/RN, Sérgio Azevedo, destaca que o desempenho positivo esbarra em entraves macroeconômicos que afetam diretamente a disposição do comprador. “Apesar de resultados que podem animar à primeira vista, nós seguimos preocupados com o cenário macroeconômico. A taxa de juros segue muito elevada, e isso afeta diretamente a demanda — o comprador pensa duas vezes antes de assumir um financiamento de longo prazo”, afirmou.

Segundo ele, o cenário também afasta investidores, que preferem aplicações de renda fixa rendendo cerca de 15% ao ano, enquanto imóveis em construção têm reajuste médio de 6% a 7% pelo INCC. “Na prática, isso leva as construtoras a subsidiar parte dos juros na fase de obra para manter o ritmo de vendas e preservar a atividade. É um esforço do setor privado para sustentar empregos e investimentos mesmo diante de um ambiente ainda desafiador”, explicou Azevedo.

Além dos juros, o presidente do Sinduscon/RN alerta para um segundo fator de risco: a fragilidade fiscal do Estado. Ele afirma que sinais de desequilíbrio nas contas públicas podem contaminar rapidamente a confiança do mercado, especialmente nos municípios da RM, já mais vulneráveis à retração. “Qualquer sinal de instabilidade nas finanças do Estado, como atrasos no pagamento de salários e fornecedores, repercute imediatamente sobre o comércio, o consumo e a confiança do investidor. Isso enfraquece o mercado local e cria um efeito em cadeia sobre todos os setores produtivos”, disse.

Otimismo

A combinação de incerteza fiscal e juros altos ajuda a explicar por que Natal dispara enquanto cidades do entorno recuam. Sem previsibilidade institucional, o capital se concentra onde há menor risco e, hoje, esse lugar é a capital potiguar. O estudo mostra que a oferta final de imóveis verticais permanece estável em termos gerais, com padrões médio e econômico liderando o volume de lançamentos e vendas, enquanto o segmento econômico, especialmente do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), ainda enfrenta limitações de renda e custos elevados de produção.

Apesar das divergências entre capital e RM, o setor continua sendo um dos principais motores da economia potiguar, responsável por milhares de empregos diretos e indiretos. Para Azevedo, a prioridade nos próximos meses deve ser criar condições para que o ciclo de retomada se torne sustentável.

“A construção civil tem mostrado resiliência e segue apostando no Rio Grande do Norte, mas é fundamental que o ambiente institucional e econômico seja mais previsível, com juros menores e estabilidade fiscal, para que o mercado volte a crescer de forma sustentável”, concluiu.

Para Marcelo Toscano, diretor de operações do Sebrae/RN, os números reforçam a importância da construção civil no desenvolvimento econômico do estado. “O desempenho de Natal mostra que há espaço para o crescimento sustentável, com foco em inovação, qualificação e novos modelos de negócio”, ressalta.

Toscano também destacou que a parceria entre o Sebrae e o Sinduscon/RN tem sido essencial para ampliar a competitividade das empresas locais. “Temos trabalhado juntos para fortalecer o setor, especialmente as pequenas e médias construtoras, que são responsáveis por boa parte da geração de empregos e renda. O cenário é favorável, e o desafio agora é manter esse ritmo de crescimento com planejamento e eficiência”, completa.

Tribuna do Norte

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