O Rio Grande do Norte vive um
ciclo de expansão no setor mineral, impulsionado por novos levantamentos
geológicos, aumento de investimentos e a chegada de grandes empresas. Para
explicar esse cenário, a TRIBUNA DO NORTE ouviu Paulo Morais, coordenador de
Desenvolvimento Mineral da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado
(Sedec). Ele destaca que a mineração potiguar não apenas mantém crescimento
contínuo desde 2019, como também ganhou relevância estratégica diante da
corrida global por minerais críticos. Morais afirma que “não existe transição
energética sem a mineração” e projeta uma forte expansão nos próximos anos, com
a produção do RN devendo “quadruplicar em médio prazo” graças ao avanço de
projetos de ouro, ferro e estudos para extração de lítio e terras raras. A
seguir, ele detalha as oportunidades, os gargalos e o potencial econômico que
reposicionam o Estado no mapa mineral brasileiro.
Qual é cenário atual da
mineração no Rio Grande do Norte?
A partir do levantamento de uma série histórica que fizemos recentemente na
Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) da produção mineral do Estado,
foi possível notar que a partir de 2019 o setor mineral vem só crescendo a sua
produção. Nós temos uma diversidade gigantesca de produção de calcário, água
mineral, rochas ornamentais – que são aquelas rochas decorativas, os granitos,
os mármores -, a produção de tungstênio, que provém da xelita, as gemas,
principalmente a turmalina paraíba. Temos também minerais industriais, por
exemplo, o feldspato, o quartzo, o caulim. Atualmente, a maior produção do
estado é calcário, com dois tipos principais: o calcário para cimento, sendo o
mais extraído aqui no estado; e o calcário para corretivo de solo.
Quais fatores têm atraído
investidores para o RN?
Hoje, os principais investimentos são na parte de pesquisa mineral em ferro, da
empresa Fomento do Brasil, com previsão de início dos trabalhos de lavra e
extração para o ano de 2027. E tivemos recentemente um grande investimento em
ouro já em fase de extração, em Currais Novos, pela Aura Minerals. O último
mapa de recursos minerais que tivemos no Rio Grande do Norte foi de 2006, com
apenas mil substâncias catalogadas. Com a atualização que fizemos, esse número
chegou a mais de 3 mil ocorrências. Isso ajuda muito na atração de
investimentos, porque as empresas começam a ver mais áreas no estado que têm um
certo potencial, mas que necessita de pesquisas para ter um conhecimento
geológico mais aprofundado e verificar se compensa investir mais em pesquisa ou
não.
Há incentivo governamental?
Antes de 2019, a gente percebia uns altos e baixos. E isso é estimulado
principalmente por programas de estímulo ao desenvolvimento industrial, como o
PROEDI, que atrai empresas e indústrias para o Estado e principalmente no setor
mineral. Hoje o setor mineral no RN emprega mais de 10 mil pessoas diretamente.
E no setor mineral, para cada emprego direto, você tem pelo menos três
indiretos. Então, a gente está falando de 40 mil empregos. Antes do PROEDI, os
empregos na área ficavam em, no máximo, 5 mil.
Há mais empresas interessadas
em investir no RN?
Sim. A gente recebe diariamente empresários que estão explorando até outros
bens minerais, só que em fase de pesquisa mineral. São empresas interessadas em
lítio, em terras raras, principalmente agora que começou essa corrida pelos
minerais críticos e estratégicos, até porque não existe transição energética
sem a mineração, porque todos os aerogeradores, todas as tecnologias para essa
transição energética precisam de mineração. E esses minerais são considerados
críticos.
E por que eles são
considerados críticos?
Porque nós temos poucas reservas no mundo inteiro. Então, existe uma corrida em
busca de se descobrir novas jazidas para assim iniciar a extração. E essas
jazidas não são descobertas do dia para a noite. São necessários muitos
estudos. O projeto da Fomento do Brasil, de ferro, tem mais de 10 anos que
estão pesquisando. Então não é algo que se descobre do dia para a noite. Tem
todo um tempo de maturação, porque precisa ter certeza das informações, se
realmente existe uma jazida mineral, a quantidade. A quantidade que nós temos
do minério de ferro, por exemplo, é suficiente para cobrir todos os
investimentos.
Qual o destino do minério
potiguar?
Maior parte da produção é para o mercado interno. Temos pedras ornamentais
exportadas para os Estados Unidos, uma parte de gemas que também vai para a
China. O ouro é exportado para alguns países, como o Canadá.
Quanto o setor movimenta e no
RN?
Em 2019, nós tivemos uma produção mineral total de R$ 260 milhões. Em 2024, a
gente já atingiu quase R$ 600 milhões. Então, a gente mais do que dobrou a
produção do Estado. E com a chegada da Aura com sua produção expressiva e que
deve chegar no seu ápice em 2026. Quando começar a extração de ferro eu
acredito que dobra mais uma vez esse número, porque nós estamos falando de
empresas que trabalham em larga escala e têm um impacto gigantesco na balança.
Sem contar que estamos falando de commodities ou seja, de minérios, ouro,
ferro, que têm um valor agregado bem maior do que o calcário, feldspato e
rochas ornamentais.
Há gargalos em relação aos
processos de licenciamento?
Os problemas em relação ao licenciamento, eu creio que é similar ao de todos os
empreendimentos, dadas suas devidas proporções de níveis de impacto ambiental
que é gerado. Claro que a empresa que gera mais impacto tem mais obrigações,
ela tem uma maior dificuldade de obter uma licença ambiental. O problema que eu
vejo é a rotatividade de profissionais no IDEMA, porque sempre tem que fazer
processo seletivo, treinar os bolsistas e isso leva tempo nos processos. Com o
concurso público, acredito que vai ter mais celeridade nos processos, que era
uma espécie de gargalo, já que não se conseguia garantir uma previsão. É
necessário a gente frisar que a lei estadual ambiental está passando por uma
modernização, prezando pelo desenvolvimento sustentável do Estado, mas de forma
que facilite a vida do empreendedor sem isentar das responsabilidades que
qualquer empreendedor do setor tem.
De que forma se pode amenizar
o impacto ambiental da atividade mineradora?
Qualquer tipo de atividade econômica, não só de mineração, vai gerar um
impacto. Só que está na responsabilidade da empresa mitigá-los e ver se está
condizente o respeito às comunidades tradicionais existentes na região, entre
outros fatores. As empresas têm criado uma cultura de ESG, de respeito às
comunidades, de compensações. E a gente tem muita tecnologia no setor. Há
empresas de desmonte de rochas com tecnologias de ponta, onde consegue mitigar
ruídos, vibrações e até a quantidade de gases tóxicos que são gerados durante
as detonações. Temos softwares de planejamento que veem melhores rotas para os
caminhões. Em Currais Novos, no projeto de ouro, a Aura utiliza água de esgoto da
cidade no seu processo de beneficiamento, tratando, usando e reutilizando. A
gente tem que aprender a conviver com a mineração, porque tudo vem dela. Desde
a casa onde moramos até as tecnologias que usamos.
Quais são as expectativas a
médio prazo para o setor da mineração potiguar?
Com certeza, nos próximos 2, 3 anos, a produção de mineração no estado vai quadruplicar. Acreditamos que, no próximo ano, quando a gente for fazer todo o levantamento da produção 2025, o ouro provavelmente já vai passar o calcário, até porque nós estamos falando de um bem mineral com valor agregado maior. Temos a extração de ouro da Aura que ainda vai aumentar, e temos o projeto da extração de ferro, que ainda vai começar. Esse ambiente propício dá mais segurança para os investidores, porque eles viram que grandes empresas estão presentes dando certo. Estamos em contato com um grupo interessado em investir em pesquisa mineral e quando aumentar o nível de conhecimento geológico, aumentam as chances de ter uma mina produzindo lítio, que é uma substância imprescindível para a transição energética. Eu acredito que a chance do setor é agora. Quando todo mundo só fala em transição energética, e a gente sabe que ela é impossível, impossível sem a mineração.
Cláudio Oliveira/Repórter
Tribuna do Norte

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