Destaque em todo o País pelo
cultivo de frutas como o melão, especialmente, o Rio Grande do Norte tem
despontado cada vez mais para as culturas não tradicionais no estado, mas já
bem estabelecidas em outras regiões do Brasil. De acordo com a Secretaria de
Agricultura, Pecuária e Pesca do RN (Sape), a produção de açaí, cacau e café
tem se desenvolvido em escala significativa nos últimos anos, fazendo com que
as chamadas cadeias exóticas avancem mais de 400% em cinco anos. Guilherme
Saldanha, titular da pasta, afirma que cerca de 150 hectares em todo o estado
estão reservados ao plantio dessas culturas atualmente, um número ainda
considerado pequeno diante do potencial local.
De olho em diferentes nichos
de mercado e de novas oportunidades de negócio para o campo, o Sebrae-RN atua
para fomentar o cultivo desses produtos. De acordo com Elton Alves, gestor da
área de culturas exóticas do Sebrae-RN, o café tem se mostrado como uma das
cadeias exóticas mais promissoras no estado, mas há casos bem sucedidos de
plantação de pitaya e morangos ecológicos.
De modo geral, o cultivo dos
produtos não tradicionais no RN é responsável por cerca de 500 postos de
trabalho, conforme o secretário Guilherme Saldanha. “São oportunidades geradas
direta e indiretamente”, afirma.
Batata-cenoura e batata-beterraba
também são produzidas pelo casal no Vale do Ceará-Mirim | Foto: Alex Régis
Ainda segundo Saldanha, as
áreas onde há o cultivo promissor dessas cadeias estão localizadas em
municípios como Martins, Jaçanã e Ceará-Mirim. Mas também existem bons exemplos
em Touros, Maxaranguape e Ceará-Mirim.
“O grande destaque é o café,
que já começou em escala significativa em Ceará-Mirim”, frisa o secretário.
Antes conhecida como a “terra da cana-de-açúcar”, o Vale do Ceará-Mirim é hoje
celeiro importante do cultivo de produtos não tradicionais. O local abraça
pequenos empreendedores que chegaram de diversas regiões do país.
É o caso de Silmara Campos, de
62 anos, que produz abacaxi ornamental desde 2013 em uma área da Fazenda
Tamanduá, onde ela mantém cinco hectares reservados à cultura. O mercado
principal é a Holanda, que responde por 95% do que é produzido. “Os holandeses
são loucos pelo nosso abacaxi. Quanto ao mercado nacional, nosso principal
destino é São Paulo. Só uma pequena fatia fica em Natal”, revela Silmara. A
beleza que o produto imprime faz do item uma verdadeira joia para o mercado
europeu.
O sucesso das exportações é
tão grande que a meta para 2026, de acordo com a produtora, é conseguir atender
a todos os pedidos que chegam da Holanda. “Há, de fato, uma demanda que nós não
estamos conseguindo suprir. Então, nossa meta é ampliar a quantidade enviada,
que gira em torno de cinco hastes, o equivalente a cerca de 230 quilos de
abacaxi a cada 15 dias. A gente quer aumentar esse número para 300 quilos por
quinzena”, revela.
Carlos André e Ana Luiza cultivam
manga e se preparam para o cultivo do café na propriedade | Foto: Alex Régis
Os principais desafios,
segundo aponta, são manter o abacaxi apto à exportação e lidar com as
constantes flutuações do mercado externo. “Ganhar confiança no mercado não é
fácil, levando em conta que o Brasil tem certa fama de não cumprir
compromissos. Nesse aspecto, no começo foi muito difícil, mas felizmente nunca
tivemos problemas e conseguimos manter regularidade com qualidade”, conta a
produtora.
Tradição familiar
Depois de consolidada a produção de abacaxi ornamental em Ceará-Mirim, Silmara
começou a alçar novos voos. Em março deste ano, ela iniciou a plantação de café
Robusta Amazônico, da espécie canéfora. A escolha pela nova cultura se deve aos
incentivos do Sebrae para estruturar a produção dessa cadeia no Estado, mas tem
a ver, sobretudo, com um importante apelo familiar, segundo a empreendedora.
Natural do interior Paraná,
Silmara vive no RN há 40 anos. Ela conta que o avô materno era proprietário de
uma fazenda de café no estado natal, mas a propriedade foi dizimada por uma
forte geada em 1975.
“A geada negra, como a que
ocorreu naquele ano, queima a seiva da planta. Meu avô perdeu todo o cafezal.
Já aqui em Ceará-Mirim, 50 anos depois, vi meu vizinho plantando café, então,
toda a história da minha família me veio à cabeça. Procurei o Sebrae, descobri
que essa cadeia estava sendo reestruturada no Rio Grande do Norte e resolvi
apostar, porque tornou-se algo com um sentido todo especial para mim, de
resgate de toda uma memória”, relata.
Elton alves, gestor da área de
culturas exóticas do Sebrae-RN | Foto: Divulgação
Por enquanto, a área reservada
é de um hectare, mas Silmara tem planos de expandir para até 5 ha, se os
resultados forem positivos. A expectativa é de que as primeiras colheitas
aconteçam em maio de 2027.
Quem também se prepara para o
cultivo da espécie no Vale do Ceará-Mirim é o casal Carlos André Mendes e Ana
Luiza Coelho, ambos de 48 anos. Para o cultivo, eles aguardam a chegada das
mudas do Espírito Santo, com expectativa de iniciar o plantio em dezembro no
assentamento Vale Verde, onde os dois já produzem outras culturas.
“Reservamos um hectare para a
plantação, mas poderemos ampliar para mais um, a depender da evolução dessa
cultura”, menciona André. Por enquanto, ele e a esposa cultivam uma variedade
de frutas como a manga, que é o carro-chefe da produção, além de banana e
goiaba. Em áreas menores, estão o cultivo de macaxeira, mini jerimum, maracujá,
batata-cenoura, batata-beterraba, abacate, pepino, jambo, abacaxi e outros.
“Existe uma ansiedade muito grande pelo café. Nem plantamos ainda, e muita gente já nos procura por causa desse produto”, fala Ana Luiza, animada. De acordo com Carlos André, o grande diferencial do negócio atualmente é a certificação orgânica alcançada por todos os produtos, os quais são comercializados no espaço Frutos Vale Verde, no Mercado da Agricultura Familiar, em Natal, e também por meio de programas como o de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo do Estado, e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Felipe Salustino/Repórter
Tribuna do Vale

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