O SENAI-RN, por meio do
Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), e a empresa DOIS A
Engenharia e Tecnologia anunciaram, nesta terça-feira (28), no Brazil
Windpower, em São Paulo, o edital multiclientes do primeiro projeto de energia
eólica offshore do Brasil.
O projeto, uma planta-piloto voltada ao desenvolvimento de estudos e tecnologias para subsidiar investimentos no offshore, formar cadeia de fornecedores e ampliar o conteúdo nacional na indústria, foi concebido para o mar de Areia Branca, município do Rio Grande do Norte a 330 km da capital, Natal. Foi o primeiro projeto de energia eólica offshore do Brasil a receber licença prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Edital
Detalhes do edital para
atração de investidores foram antecipados pelo diretor do SENAI-RN e do ISI-ER,
Rodrigo Mello, durante o painel “Transferência de Conhecimentos e os Projetos
Piloto em Desenvolvimento”, na Arena Offshore do Brazil Windpower, maior evento
de energia eólica da América Latina.
“O projeto da planta-piloto do
Rio Grande do Norte deixou de ser apenas uma ideia, um sonho. Estamos falando
de algo concreto, que existe. Nós temos a licença em mãos e estamos em fase
final de análise jurídica do edital para reunir parceiros que irão trabalhar
conosco para desenvolver a primeira turbina para o mar do Brasil”, disse o
diretor.
A apresentação, frisou ele,
marca o “dia zero” para que as empresas possam analisar as condições de
participação no projeto e manifestar formalmente o interesse na iniciativa. A
expectativa é que os contratos sejam assinados a partir de dezembro deste ano e
que o projeto, por meio da cooperação, tenha início em abril de 2026.
O desenvolvimento da
planta-piloto seguirá o modelo Joint Industry Project (JIP) – um
projeto industrial conjunto que deverá reunir o SENAI-RN, por meio do ISI-ER, a
DOIS A Engenharia e empresas investidoras interessadas em colaborar no
desenvolvimento, nacionalização e validação das soluções previstas.
“A previsão é captar parceiros
interessados em desenvolver tecnologia nacional e soluções de construção e
logística para fixação de aerogeradores nas condições da Margem Equatorial
brasileira, ou seja, adaptadas a águas rasas, com até 70 metros de profundidade”,
diz o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias
Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.
“O Brasil é muito competitivo
em qualidade de ventos”, acrescentou ele. “Mas precisamos desenvolver soluções
locais para a instalação do setor, então o contexto não é simplesmente validar
as ótimas condições de potencial eólico que temos, mas também validar
tecnologias consolidadas no ambiente internacional e especialmente desenvolver
soluções para condições brasileiras com a sua respectiva logística e conteúdo
nacional”, reforçou.
Serão investidos
aproximadamente R$ 42 milhões na primeira etapa do empreendimento, que envolve
projetos de engenharia e análises de condições de produção, com
compartilhamento de riscos financeiros, tecnológicos e de conhecimento entre os
participantes. Segundo o diretor do SENAI-RN, a duração prevista dessa fase
será de 16 a 18 meses, a contar da assinatura do contrato com o grupo de
investidores. A segunda etapa, por sua vez, englobará a chamada “engenharia
final”, com atividades de construção, montagem, comissionamento, testes e
validações.
As empresas interessadas em
integrar o “Arranjo Cooperativo Multilateral” do projeto poderão acessar o
edital e realizar inscrição a partir de 28 de novembro, na Plataforma Inovação
para a Indústria (https://plataforma.editaldeinovacao.com.br).
Acompanharam o anúncio no
Brazil Windpower o CEO da DOIS A Engenharia, Sérgio Azevedo, o diretor técnico
da empresa, Nelson Faria, o diretor de Offshore da Esteyco, Víctor de Dios
Castillo, o coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI-ER, Antonio
Medeiros, o pesquisador-líder do laboratório de Energia Eólica do ISI-ER,
Luciano Bezerra, a pesquisadora do ISI-ER que lidera a equipe envolvida nos
estudos ambientais e socioeconômicos da planta-piloto, Mariana Torres, e
Leonardo Oliveira, do Laboratório de Energia Eólica do Instituto.
Planta-piloto
A planta-piloto terá, entre
outras funções, a de sítio de testes, em condições reais de operação, para
futuros aerogeradores que serão implantados no mar do Brasil. A expectativa do
SENAI é que o início da operação ocorra em até 36 meses, a partir da assinatura
do contrato com as empresas parceiras.
O projeto licenciado pelo
Ibama prevê a instalação de dois aerogeradores, com potência somada de 24,5
Megawatts (MW). As máquinas deverão ser implantadas a 4,5 km de distância do
Porto-Ilha de Areia Branca, principal ponto de escoamento do sal produzido no
Brasil. A região é considerada rasa e, segundo estudos desenvolvidos pelo
ISI-ER, está distante de recifes de coral e das tradicionais zonas de pesca.
O sistema de implantação
previsto se baseia em um modelo criado pela empresa espanhola Esteyco, e
licenciado no Brasil pela DOIS A Engenharia, que possibilita a montagem total
das torres em terra e que elas sejam então levadas até o destino, no mar, com o
apoio de rebocadores – ou seja, sem a necessidade de grandes estruturas de
navios, atualmente escassas e caras no mundo. As máquinas seriam então
posicionadas, sem perfuração.
A expectativa com a
participação de empresas investidoras, segundo o edital, é acelerar a
nacionalização de soluções previstas e reduzir a dependência de embarcações e
equipamentos especializados geralmente indisponíveis no país. O documento
destaca o desafio, no campo tecnológico, de projetar e construir uma versão
nacional da solução patenteada pela Esteyco, adaptada às condições específicas
da costa brasileira, considerando aspectos estruturais, ambientais e
logísticos.
Para isso, será necessário
desenvolver localmente versões customizadas dos principais componentes do
modelo espanhol. Entre eles estão fundações do tipo gravity-base (base
gravitacional, em tradução literal) – ou seja, tipo de fundação que fica
apoiada sobre o leito marítimo, sem necessidade de perfuração para instalação
da turbina; torres telescópicas de concreto pré-moldado – tecnologia que
permite a montagem do aerogerador sobre a torre sem a necessidade de grandes
guindastes, além de possibilitar que esses equipamentos sejam transportados por
rebocador comum até o ponto final de instalação, onde só então o aerogerador
será erguido até a altura em que irá operar. Outro componente a ser
desenvolvido serão sistemas flutuantes auxiliares, utilizados para estabilizar
e transportar a estrutura da turbina no mar.
De acordo com informações do
edital, o valor previsto do investimento será igualmente rateado entre as
empresas integrantes do arranjo, cabendo a cada uma das participantes uma
cota-parte proporcional. O objetivo, segundo o SENAI-RN, o ISI-ER e a DOIS A Engenharia,
é viabilizar um projeto cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento &
Inovação, estruturado como resposta a um conjunto de desafios técnicos,
logísticos, regulatórios, financeiros e operacionais relacionados à nova
fronteira energética.
“É preciso registrar que este
é um projeto de desenvolvimento, um projeto de pesquisa e inovação, e não um
projeto de geração de energia. A indústria de energia eólica está começando no
Brasil. E para qualquer mercado que se abre, qualquer cadeia industrial que se
inicia, há que se ter de forma sólida a tecnologia que será usada. Então,
entendemos que o passo que estamos dando agora é fundamental para que o país
possa desenvolver sua cadeia industrial com tecnologias sólidas e adaptadas
para aplicação no litoral brasileiro”, frisou Rodrigo Mello.
Tribuna do Norte
 
 
 
 
 
 

 
 
 
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