O professor e geólogo Alexandre Rocha explica que minerais estratégicos são
aqueles que possuem ampla usabilidade, como os utilizados na indústria da
defesa e tecnologia. Já os críticos, mesmo com ampla utilização, estão pouco
disponíveis na natureza. Eles contêm os minerais terras raras, formados por 17
elementos, dos quais 15 pertencem à família dos lantanídeos (à exceção são o
escândio e o ítrio). Esses elementos são qualificados como raros por conta do
processo de extração nos locais onde se acumulam. “É um processamento difícil,
que depende de muita tecnologia”, explica Rocha.
Os 17 elementos são os seguintes: lantânio, cério, praseodímio, neodímio,
promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio,
itérbio, lutécio, escândio e ítrio.
No início desta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que os
minerais críticos e as terras raras podem entrar nas negociações tarifárias com
os Estados Unidos. Segundo ele, um acordo sobre os dois temas pode ser assinado
com o governo estadunidense.
“Temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses
minerais. Podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais
eficientes”, disse Haddad.
No Rio Grande do Norte, segundo Alexandre Rocha, que é professor do Instituto
Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), está sendo desenvolvido, junto a três
empresas brasileiras, a retirada de terras raras associadas à argila. “É um
trabalho que ocorre em Currais Novos”, conta. Alexandre Rocha explica que, após
a separação, os elementos são utilizados em uma infinidade de aplicações, a
exemplo de itens de nanotecnologia, como os microchips, além de super ímãs,
usados na indústria de carros elétricos, energia eólica e fones de ouvido.
“Nossos fones têm neodímio, praseodímio, disprósio e térbio. Aviões como o F-35
[norte-americano] chegam a ter 420 quilos de algum tipo de terra rara. Um
aspecto que chama atenção nesses elementos é o alto valor agregado. Para efeito
de comparação, uma tonelada de cobre custa em torno de US$ 9 mil. Já uma
tonelada de dérbio, por exemplo, tem custo estimado em US$ 980 mil”, explica
Alexandre Rocha.
É um processamento difícil, que
depende de muita tecnologia”, diz Alexandre Rocha| Foto: Adriano Abreu
Lítio, nióbio, tungstênio e tântalo são minerais críticos. O professor do IFRN
aponta que o Rio Grande do Norte desponta como um estado com forte potencial
para esses recursos, com abundância no Seridó, mas também em municípios como
São Paulo do Potengi e Tangará. O tântalo é utilizado em capacitores e metais
especiais, enquanto o nióbio tem seu uso aplicado em turbinas de avião,
gasodutos, tomógrafos de ressonância magnética, indústrias bélica e nuclear,
dentre outras. Já o lítio é bastante aplicado em baterias.
Falta de pesquisas
O potencial do RN para minerais críticos e estratégicos é de conhecimento de
quem atua no setor, mas um panorama assertivo sobre a real capacidade do estado
ainda carece de investimentos em pesquisa e tecnologia. Em fevereiro do ano
passado, o Centro de Tecnologia Mineral do IFRN (CT Mineral/IFRN), em Currais
Novos, se reuniu com o Consórcio Nordeste e representações de outros estados
para analisar um projeto que envolve estudos na província pegmatítica da
Borborema, para levantamento do potencial da região em relação aos minerais
críticos, em especial, o lítio.
O CT Mineral (Currais Novos) busca
soluções para extração e beneficiamento de minérios| Foto: c
À época, a proposta foi apresentada pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). A
atuação se daria na região da Borborema, que abrange os estados da Paraíba, Rio
Grande do Norte e, em menor escala, Ceará. Rafael Passos, diretor-geral do CT
Mineral, explicou que tanto o RN quanto a Paraíba entregaram os projetos a
serem desenvolvidos, os quais possuem uma demanda por recursos da ordem de R$
40 milhões (R$ 20 milhões para cada estado). Ao Consórcio Nordeste coube a
busca pelos investimentos.
“Essa busca se deu junto a entidades como a Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e o Ministério de Minas e Energia (MME), mas o financiamento, até o momento,
não chegou. Os recursos são referentes à compra de equipamentos para
aperfeiçoar os laboratórios de pesquisa, contratação de equipes de campo para
atuar na coleta e envio das amostras, entre outras despesas. O produto desse
trabalho seria o mapeamento minucioso da província da Borborema, com foco nos
minerais críticos, mas com possibilidade de encontrar outras oportunidades de
exploração”, pontuou Passos.
Valdir Silveira, diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB, avalia que a
pesquisa representará um marco para o Nordeste e um primeiro passo para as
pesquisas em minerais críticos na região. “A gente aguarda esses estudos com
muita ansiedade. O projeto é muito interessante, mas precisa de investimentos
também do Governo do Estado e da iniciativa privada. Deve haver uma soma de
esforços para encontrar esses bens minerais que estão no subsolo do nosso
estado e de estados vizinhos, especialmente, Ceará, Bahia, Piauí, Maranhão,
Paraíba, e Pernambuco”, disse Silveira.
A TRIBUNA DO NORTE fez contato com a Finep, o CNPq e o MME para obter um
posicionamento sobre a liberação de recursos para o projeto, mas não houve
retorno até o fechamento desta edição. Já o Consórcio explicou, em nota, que
elaborou o Programa de Minerais Críticos e Estratégicos do Nordeste em parceria
com os estados da região. O programa visa a estruturação da Rede de PD&I em
Minerais Críticos e Estratégicos e o aumento da disponibilidade de recursos
para pesquisa, desenvolvimento e inovação no Nordeste.
“É o primeiro programa pensado para o desenvolvimento das rotas tecnológicas
para transformação desses minerais na região, que conta com apoio do Governo
Federal, por meio da Finep, do MCTI e do BNB, pensado e estruturado no ano
passado. A etapa atual é a fase final de aprovação dos recursos, que devem
superar, inicialmente, os R$ 100 milhões. A previsão é que a publicação de
editais ou chamadas para aprovação dos projetos ocorra ainda neste ano”,
esclareceu o Consórcio, ao explicar que os estudos na Borborema poderão ser
contemplados com esses investimentos.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec) disse que tem buscado
fortalecer parcerias com instituições de pesquisa, universidades e o setor
produtivo, para a atração de investimentos para o setor de minerais críticos.
Segundo a pasta, o projeto do CT Mineral está na Finep, cumprindo trâmites
processuais. “Seguimos acompanhando esse processo de perto, em diálogo com os
órgãos federais envolvidos, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
e a própria Finep, com o objetivo de garantir que o RN avance nas etapas
necessárias para consolidar sua posição como um polo estratégico para a
produção de minerais críticos no Brasil”, falou Alan Silveira, secretário da
pasta.
CT Mineral
Além das expectativas em torno
do projeto para estudar minerais críticos na Borborema potiguar, o Centro de
Tecnologia Mineral do IFRN desenvolve soluções tecnológicas para os desafios da
indústria da mineração em conjunto com o setor produtivo. “Nascemos em 2019 e
desde 2023 somos também uma das 93 Unidades Embrapii [Empresa Brasileira de
Pesquisa e Inovação Industrial] espalhadas pelo Brasil e uma das poucas que
trabalham com tecnologias da mineração”, descreve Rafael Passos, diretor-geral
do CT.
Ele explica que o Centro de Tecnologia já possui projetos de PD&I com
empresas que buscam soluções para extração e beneficiamentos de minérios
associados a terras raras, mas as tecnologias para o beneficiamento de minerais
ricos nesses elementos são limitadas e, portanto, carecem de mais estudos e de
desenvolvimento.
“Nos últimos dois anos, o CT Mineral já desenvolveu ou desenvolve quatro
projetos com empresas para aperfeiçoamento dessa técnica. Portanto, estamos nos
especializando em metodologias para atender a essa necessidade latente da
indústria de forma geral. Tanto o RN quanto o Brasil têm um potencial muito
promissor para os minerais críticos”, fala Rafael Passos.
Valdir Silveira, do SGB, afirma que, diante dessa capacidade, o campo de
pesquisa em todo o País é enorme. “Diante do potencial do RN, que é fantástico,
se tivéssemos um olhar diferente para o estado poderíamos estar em outro
patamar”, disse, ao comentar sobre os interesses do governo norte-americano nos
minerais críticos brasileiros. “É importante salientar que nós somos um país
soberano, estamos no centro das atenções mundiais nesse tema, mas a decisão de
aceitar ou não qualquer tipo de imposição será sempre do governo brasileiro”,
assinala.
Tribuna do Norte

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