sábado, 2 de agosto de 2025

Disputa pelo Senado ameaça união da base de Lula no RN

Impasses políticos na preservação de alianças para 2026 podem rachar a base aliada de Lula no Nordeste e trazer dificuldades à sua reeleição, inclusive no Rio Grande do Norte, onde a governadora Fátima Bezerra (PT) já confirmou que vai deixar o cargo em abril para disputar uma das duas vagas para o Senado Federal.

A principal concorrente de Fátima Bezerra é a senadora Zenaide Maia (PSD), que é vice-líder do governo Lula naquela Casa, enquanto em todas as pesquisas de intenções de votos divulgadas até hoje, o senador Styvenson Valetim (PSDB) aparece com folgada liderança.

Em 2018, Zenaide Maia elegeu-se para o primeiro mandato na coligação que elegeu Fátima Bezerra para chefe do Executivo estadual, porém, as divergências políticas entre as duas começaram em 2024, depois que a candidatura de reeleição do então prefeito do PT em São Gonçalo do Amarante, Eraldo Paiva, perdeu o pleito para o marido de Zenaide, Jaime Calado (PSD).

No eventual acirramento pelo segundo voto para o Senado, Zenaide Maia tenta atrair o apoio do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), pré-candidato a governador e opositor de Fátima Bezerra e do presidente Lula.

A refrega política entre Fátima e Zenaide ganhou novos contornos depois do dia 11, quando em visita a Pau dos Ferros, a governadora sugeriu o nome da reeleita prefeita Marianna Almeida, que é do mesmo partido da senadora, para ser companheira de chapa de Cadu Xavier, o secretário estadual da Fazenda, já lançado pré-candidato do PT a governador em 2026.

Mulher sentada com a mão

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Zenaide vai tentar reeleição | Foto: Saulo cruz/agência senaado

Já na quinta-feira (24), Zenaide apressou-se a postar fotos nas redes sociais ao lado da prefeita Marianna Almeida, reafirmando a “sólida” parceria pelo desenvolvimento do município do Oeste potiguar. “É uma grande parceria que veio para ficar”, dizia a senadora.

“A senadora Zenaide Maia é uma parceira e amiga do povo de Pau dos Ferros. Muitos dos avanços que já conquistamos em nosso município garantiram a efetivação de políticas públicas importantes para nossas pessoas”, declarava a prefeita, que é presidente do PSD Mulher no Rio Grande do Norte.”

Frente

Para o presidente estadual da Frente Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV), ex-vereador Milklei Leite, o distanciamento da senadora pessedista não deve afetar o desempenho eleitoral de Lula no Rio Grande do Norte: “O perfil dela sempre foi mais à esquerda e apoiando Lula, esse afastamento tem relação direta com a vaga para o Senado Federal enxergando o segundo voto, quem vota no senador Styvenson Valentim (PSDB) pode votar nela, mas quem vota nele, não vota em Fátima”.

Milklei Leite acha que essa distensão política “pode afetar o eleitorado dela, mas para Lula eu acho que não interfere, porque ela sempre apoiou o Lula, a questão é mais local no voto de Senado”.

Leite acredita que a senadora continuará pedindo voto para Lula – “a não ser que apareça alguma coisa extraordinária”, porque “se mudar radicalmente quem passou a vida toda com opinião e uma fala voltada para as minorias, para o público dos programas sociais, enfim, depois mudar, vai perder o eleitorado dela”.

Finalmente, o dirigente da Federação PT/PC do B/PV diz que “até o eleitorado dela já vota em Lula, independente da posição política que tomar, porque é uma classe social que ela sempre defendeu, a questão da área de saúde, povo mais humilde que gosta dela, mas que tendencialmente pode votar em Lula”.

Desafios

Presidente estadual do PT até agosto, o ex-deputado estadual Júnior Souto disse que “sem dissimulações temos uma disputa para o Senado Federal bem desafiadora”.

Segundo Júnior Souto, garantir uma vaga no Senado para o PT “trata-se de uma prioridade em razao do papel estratégico que essa Casa vem cumprindo e deverá crescer em importância progressivamente”.

Souto relata que “nesse contexto as candidaturas da governadora Fátima Bezerra (PT) e de reeleição da senadora Zenaide Maia (PSD) corresponderiam, precisamente, a uma concepção tática de disputa politica com a extrema direita em defesa do projeto de reconstrucao do pais que vem sendo realizado concretamente pelo Governo federal sob a liderança de Lula”.

Para Souto, nesse sentido a senadora Zenaide Maia “tem mantido uma postura merecedora de justos reconhecimentos pelo compromisso invariável com as pautas do nosso governo”. Porém, admite o dirigente do PT, “é fato que tivemos um duro enfrentamento nas ultimas eleições em São Gonçalo”.

Souto confia que “considerando todas as evidencias de que temos capacidade política, experiencia e lucidez sobre a natureza da disputa com a direta extrema e os riscos que isso representa para o presente e o futuro do pais , haveremos de levar ao limiteos esforços construir um projeto vitorioso para Governo e Senado”.

“Sabemos também que as negociações no plano nacional orientarão sempre que possível as composições estaduais”, completou, para adiantar que “não há dificuldades em observar que o ambiente eleitoral ja foi antecipado em boa medida, contudo é cedo para definições últimas, até porque mudanças conjunturais ocorrem a todo o tempo reconfigurando cenários, alimentando expectativas e impulsionando tendências, temos candidatura própria (Cadú Xavier) ao Governo crescendo em competitividade e cercada de otimismos”.

O olhar político e eleitoral sobre o Rio Grande do Norte está inserido dentro deste contexto. Da mesma forma se comportam aqui os representantes dessas forças. Porém, com um objetivo adicional: desestabilizar também o projeto político liderado pela Governadora Fátima Bezerra.

Diálogo

Já o presidente estadual do PC do B, Divanilton Pereira, destacou que Lula e Fátima Bezerra foram eleitos com uma ampla frente política, mas “como toda concertação, requer capacidade de diálogo, respeito aos legítimos interesses de quem a integra e um projeto que os unifique.

Na avaliação de Pereira, a governadora do Estado e o seu vice, Walter Alves, “têm liderado esse processo com convicção, parcimônia e respeito ao programa que os orientam”.

Nessa direção, continua Pereira, “consideramos que as especulações, diálogos diversos e plurais, fazem parte dessa fase. Ainda estamos a mais de um ano para as eleições e, portanto, nem todas as variáveis estão dadas, muitas águas passarão ainda por debaixo da ponte”.

Assim, Pereira considera “uma precipitação” afirmar que a base do presidente Lula sairá dividida no próximo ano: “Existem arranjos diversos e novas condições objetivas que podem garantir a atual unidade, inclusive aqui no Rio Grande do Norte”.

“Em nosso estado, por exemplo, a atual senadora Zenaide Maia, atual vice-líder do Governo Lula e eleita juntamente com a atual governadora, tem uma trajetória e uma ação parlamentar identificada com a causa democrática, a soberania nacional e social. Um perfil que mais nos aproximam do que nos distanciam”.

Lideranças temem desagregação no Nordeste

A base de Lula na região Nordeste ainda enfrenta dificuldades na Paraíba, onde o governador João Azevêdo (PSB) tende a sair do cargo para disputar o Senado, o vice-governador Lucas Ribeiro (PP), sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) e filho da senadora Daniella Ribeiro (PP), deve assumir o governo em abril e tende a ser candidato à reeleição, mas e, âmbito nacional, o PP deve apoiar uma candidatura de oposição a Lula.

Já o presidente da Assembleia da Paraíba, Adriano Galdino (Republicanos), pretende sair candidato a governador com apoio de Lula: “Me preocupo porque, dos pré-candidatos a governador, só eu faço uma defesa de Lula. Os demais ou são bolsonaristas ou são enrustidos e não se declaram, ficam em cima do muro”, diz Galdino, aliado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

O governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), deve ficar no cargo até o fim do mandato, impedido a investidura do ice Felipe Camarão (PT), que poderá ser candidato ao governo sem a máquina na mão.

Acordo de 2022 previa que Brandão, como apoio ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino, sairia para o Senado e o vice na disputa pelo governo. Brandão e Dino se afastaram e o atual governador maranhense tem costurado o nome de seu sobrinho e secretário estadual Orleans Brandão (MDB) para substitui-lo no cargo.

Em Pernambuco, o PT deve apoiar a candidatura do prefeito do Recife, João Campos (PSB). Como o prefeito preside o PSB nacional, colocará Pernambuco como prioridade do partido em contrapartida ao apoio da legenda à reeleição de Lula.

Mesmo assim, há alas do partido que apoiam dois palanques para Lula, se houver disposição da governadora Raquel Lyra (PSD) em apoiar o presidente. A prioridade do partido em Pernambuco é reeleger o senador Humberto Costa (PT), segundo o presidente eleito do PT de Pernambuco, deputado federal Carlos Veras, independente da posição em relação à disputa para o governo.

Na Bahia, há possibilidade de o PT rifar o senador Ângelo Coronel (PSD) e lançar uma chapa puro-sangue com os ex-governadores petistas Rui Costa e Jaques Wagner —atual senador— como candidatos ao Senado na coligação encabeçada pelo governador Jerônimo Rodrigues, candidato à reeleição.

No Ceará, o entorno do ministro Camilo Santana (PT) trabalha para manter a unidade do grupo político, pois há cinco pré-candidatos ao Senado. O temor é que eventuais cisões prejudiquem as campanhas à reeleição de Lula e do governador Elmano de Freitas.

Em Sergipe, o governo Lula quer atrair o apoio do governador Fábio Mitidieri (PSD), mas o gestor tem veto a uma eventual presença do senador Rogério Carvalho (PT) na sua chapa. A disputa acirrada pelo governo sergipano em 2022, protagonizada pelos dois, deixou sequelas. O chefe do Executivo sergipano é próximo do ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo (PT).

No Piauí, o PT comunicou ao MDB que o partido não terá a vaga de vice na chapa do governador Rafael Fonteles em 2026, mas os emedebistas serão contemplados na chapa com o candidato à reeleição no Senado Marcelo Castro (MDB). O outro candidato a senador será o deputado federal Júlio César (PSD).

Já em Alagoas, Lula agradou o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) ao fechar um acordo com o prefeito de Maceió, JHC (PL), para que ele saia do partido de Bolsonaro e não seja candidato a senador, sem atrapalhar os planos do deputado. A tendência é que Lira não faça campanha para o presidente, mas contribua para a governabilidade de Lula no Congresso.

JHC deve se filiar ao PSB com aval do prefeito do Recife, João Campos. Para a outra vaga do Senado, o favorito é o senador Renan Calheiros (MDB), que estará em palanque diferente do de Lira e apoiará Lula, com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), como candidato a governador.

Tribuna do Norte

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