Vera acompanhou a primeira
edição da campanha, em 2021, e celebrou a iniciativa.
“Quando começou essa nova
jornada, do cadastro nacional e do banco de DNA, levantou uma esperança muito
grande de encontrar, principalmente, os que estão desaparecidos há muito mais
tempo. Vimos a possibilidade de uma resposta”, relembrou.
Vera define que ter um
familiar desaparecido é um processo longo, difícil e muito doloroso, mas que
segue com sua luta.
“A gente tem seguido em frente
e acreditando em todas as possibilidades”, disse Vera saudando a campanha do
governo federal.
Campanha
A campanha nacional incentiva
a coleta voluntária de material genético de familiares de pessoas desaparecidas
para inclusão nos bancos de dados estaduais, distrital e nacional de perfis
genéticos.
Nesta edição, há 334 pontos de coleta, distribuídos nas 27 unidades da
federação, com peritos preparados para receber os familiares que ainda não
tenham doado material genético.
Durante a cerimônia de
lançamento da terceira edição da campanha, o secretário Nacional de
Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Mario
Sarrubbo, lembrou que a mobilização tem o objetivo de resgatar a dignidade e
dar uma resposta às famílias de desaparecidos.
“É um projeto que diz respeito
à dignidade das famílias, porque, enquanto não resolvido o processo de
desaparecimento, a dor é muito maior, é um caso que não se encerra, é uma
interrogação que fica para sempre na vida das famílias e que, portanto, precisa
ser respondida”, disse.
Coleta de DNA
De acordo com o MJSP, devem doar material biológico, preferencialmente,
familiares de primeiro grau da pessoa desaparecida, seguindo a ordem pai e mãe,
filhos e o genitor do filho da pessoa desaparecida e irmãos. Os familiares
também podem fornecer itens de uso pessoal do desaparecido, como escova de dente,
além de amostras biológicas, como um dente de leite.
A diretora do Sistema Único de
Segurança Pública do Ministério da Justiça, Isabel Seixas de Figueiredo,
explicou que o procedimento de coleta é contínuo e está disponível à população
durante todo o ano nos institutos de Criminalística das polícias Civil dos
estados e do Distrito Federal para identificação de pessoas desaparecidas.
“Nesses dez dias de campanha,
a gente intensifica a divulgação desse serviço e a articulação interfederativa
de laboratórios para ampliar a capacidade total de recebimento dos familiares
de pessoas desaparecidas para coletar o DNA e processá-lo. Não basta o familiar
doar seu padrão genético, se a gente não tiver o processamento e a inserção
disso no Banco Nacional de Perfis Genéticos [BNPG]”, ressalta Isabel de
Figueiredo.
Para proceder a coleta, os
familiares devem apresentar um documento de identificação e a cópia do boletim
de ocorrência do desaparecimento, com número, estado de registro e delegacia.
Deve também assinar um termo de consentimento para análise do material.
A coleta do DNA consiste em
esfregar um cotonete na bochecha do familiar ou na retirada de uma gota de
sangue do dedo do voluntário. O DNA somente será usado para a finalidade
de encontrar parentes desaparecidos, garante o ministério.
Procedimento
As informações genéticas
coletadas são inseridas no Banco Nacional de Perfis Genéticos e cruzadas com os
dados de restos mortais humanos não identificados e, também, de material de
indivíduos vivos com identidade desconhecida que estão, por exemplo, em hospitais,
casas de repouso, abrigos e outras instituições de saúde e assistência social.
Caso o resultado seja positivo
da comparação dos perfis genéticos do familiar com um perfil genético do banco,
a instituição responsável entrará em contato com o doador.
Se a pessoa estiver viva, a
família será informada sobre sua localização. Se o resultado for positivo
para uma pessoa morta, a família será acionada para realizar os procedimentos
legais. Se a pessoa desaparecida não for localizada, o banco de perfis
genéticos continua a busca automaticamente, a cada atualização da base de dados.
“A gente imagina que a
resposta vai ser imediata, mas a segurança continua trabalhando. É importante
esse DNA ir para o banco, porque a gente alimenta um sistema que segue girando
e, às vezes, quatro, cinco anos depois, dá a resposta que a gente não gostaria
de ouvir, mas pelo menos nos dá uma resposta”, explica a diretora do Ministério
da Justiça e Segurança Pública, Isabel de Figueiredo, sobre os casos que há a
confirmação do vínculo genético de familiares com desaparecidos.
Desfechos
Na segunda edição da Campanha
Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, em 2024,
foram coletadas 1.645 amostras de familiares e, a partir da análise científica,
foram identificadas 35 pessoas desaparecidas. Dessas, nove tiveram as suas
histórias reunidas no caderno digital Transformando Números em Histórias, também
lançado nesta terça-feira.
“Parece que foram poucos esses
35 casos resolvidos. Mas são 35 famílias que põem um ponto final em uma agonia,
em um desaparecimento, em uma interrogação que impedia que elas pudessem viver
dignamente”, ressalta o secretário do Ministério da Justiça, Mario
Sarrubbo.
“A gente não está falando de
números, mas de pessoas, de casos. A gente está falando de dores reais. Esse
caderno traz um pouco dessas histórias para que a gente se lembre sempre que
cada caso é um caso verídico, é uma dor real”, reforça Isabel de Figueiredo.
Um dos casos expostos na
cerimônia de lançamento da publicação digital é do filho mais velho da
servidora aposentada Glaucia Lira, de Brasília, que desapareceu há 12 anos, em
2013. Em 2021, ela e o marido coletaram sangue na edição da campanha de 2021. A
confirmação do óbito do filho chegou quatro anos depois, em 2025. Apesar de não
ser o desfecho que a mãe desejava, a identificação dos restos mortais do filho
colocaram fim à espera familiar.
“Gostaria muito que tivesse
terminado tudo diferente. Meu filho, infelizmente, não está mais aqui. Mas
hoje, eu sei que ele está em um determinado local, o que aconteceu a ele. Eu
tenho essas informações e esse trabalho é importante e precisa ser valorizado”,
disse ao elogiar o resultado da primeira edição da Campanha Nacional de Coleta
de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas.
Agência Brasil

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