Para determinar esses
percentuais, os cientistas combinaram informações da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF 2017–2018) com dados do Censo de 2010. Embora a média
brasileira gire em torno de 20%, algumas cidades potiguares ultrapassam esse
índice. É o caso de Natal, onde os ultraprocessados representam 21,2% das
calorias diárias e Parnamirim 20,3%. O estudo aponta ainda que, em geral, as
capitais tendem a registrar percentuais mais altos de consumo do que os demais
municípios de seus respectivos estados.
Em comparação com outras
regiões do país, o Nordeste apresenta uma das médias mais baixas de consumo de
ultraprocessados: apenas 14,4% das calorias diárias vêm desse tipo de alimento.
Entre os estados com menor participação estão, em ordem crescente, Piauí,
Maranhão e Paraíba.
Outras cidades em destaque no
consumo de ultraprocessados são Mossoró 18,0%, Caicó 17,5% e Extremoz 17,3%.
Por outro lado, os municípios que menos consomem são Paraná e Jardim de Angicos
com 13,2%.
A classificação Nova, criada
para agrupar alimentos conforme seu grau de processamento industrial, divide-os
em quatro grupos. Os mais saudáveis são os in natura, obtidos diretamente de
plantas ou animais sem alterações. Os minimamente processados são os que passam
por etapas como moagem, secagem ou pasteurização, sem adição de substâncias,
como arroz e feijão. Já os processados recebem adição de sal, açúcar ou outros
ingredientes para aumentar a durabilidade e o sabor, como conservas.
De acordo com a nutricionista
Leticya Almeida, os ultraprocessados são formulações industriais feitas, em
grande parte, de substâncias extraídas ou sintetizadas, com aditivos como
corantes, aromatizantes e emulsificantes. Esse tipo de alimento tem baixa densidade
nutricional, ou seja, oferece pouco ou quase nenhum nutriente essencial, como
vitaminas, minerais e fibras. “Eles apresentam alta densidade calórica,
concentrando muitas calorias em porções pequenas. Isso quer dizer que em um
baixo volume do alimento tem alta quantidade de calorias. Esses alimentos têm
impacto direto na saúde dos indivíduos”, explicou.
Dados do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, revelam que até maio
de 2025, 42,09% da população adulta do Rio Grande do Norte apresentava algum
grau de obesidade. Conforme a pesquisa, o estado tem o segundo maior índice de
obesidade entre adultos em todo o país.
O aumento da ingestão de
alimentos ultraprocessados acende um alerta sobre os impactos desse padrão
alimentar na saúde pública. “O excesso pode contribuir diretamente para doenças
crônicas não transmissíveis, a exemplo da diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade,
doenças cardiovasculares”, explica a nutricionista
Em contrapartida, aos
ultraprocessados, Almeida reforça que os alimentos in natura ou minimamente
processados são ricos em nutrientes essenciais, além de contribuírem para o
fortalecimento da saúde e para a prevenção dessas doenças. “Alimentos in natura
têm propriedades anti-inflamatória, antioxidante, antidiabética,
anti-obesidade, anticancerígena”, conta.
Aditivos para atrair o cérebro
De acordo com Almeida, esses
produtos são desenvolvidos para serem altamente atrativos ao paladar. “Contêm
aditivos como corantes, aromatizantes, emulsificantes e estabilizantes. Esses
compostos conferem cor, sabor, textura e cheiro mais intensos, tornando-os
hiperpalatáveis, que é justamente para atrair os consumidores e fazer com que
eles consumam cada vez mais”, disse.
O açúcar é um ingrediente
comum e muitas vezes escondido em alimentos ultraprocessados. O consumidor Gil
França é católico e fez recentemente o voto de passar 40 dias sem consumir
açúcar. Ele aproveitou a oportunidade para adotar um estilo de vida mais saudável,
com atividade física e alimentação. Ele conta que seu esposo gosta muito de
doces e, por isso, costuma levar guloseimas do supermercado para agradá-lo,
como biscoitos recheados. “Acho que tem que existir o equilíbrio, né? Eu vivi
esse amor radical, mas foi meu propósito mesmo”, contou.
Dicas para comer mais saudável
A principal dica é evitar
levar ultraprocessados para casa. “Se esses alimentos estão disponíveis, em um
momento de fome, as pessoas acabam cedendo e consumindo”, alerta. A dona de
casa Maria Lourdes segue bem essa dica e evita o máximo produtos industrializados
no carrinho. “ Aconselho que não comprem. Não gosto quando vejo o pessoal dando
salgadinho para crianças comerem. Tem que comprar coisas que façam bem”, disse
enquanto enchia o carrinho de verduras.
Segundo a nutricionista, é
comum que a praticidade dos ultraprocessados seduza quem tem pouco tempo
disponível, mas ela defende que há alternativas viáveis e saudáveis mesmo para
as rotinas mais corridas. “Uma dica é já deixar porcionado e cortado. Por exemplo,
comprou fruta no supermercado, quando chegar, já higieniza e já deixa
separado”. Ela indica ainda uma opção de lanche saudável: “É só pegar aquela
fruta que já está cortada, com iogurte e uma aveia, pronto. Já tem uma opção de
lanche prático, saudável e bem rapidinho”, explica.
O rótulo dos produtos
industrializados pode ser uma importante ferramenta de avaliação. Ela orienta
que os consumidores observem a lista de ingredientes: “por lei é obrigatório
que esses ingredientes sejam dispostos em ordem decrescente de quantidade, isso
quer dizer que, quando a gente olha na lista de ingredientes, o que aparece
primeiro quer dizer que está presente em maior quantidade e o último em menor
quantidade.”
Os alimentos in natura ou
minimamente processados são ricos em nutrientes essenciais, além de
contribuírem para o fortalecimento da saúde e para a prevenção de doenças
crônicas. “Alimentos in natura têm propriedades anti-inflamatória,
antioxidante, antidiabética, anti-obesidade, anticancerígena”, conclui.
Como identificar alimentos
ultraprocessados
Um dos sinais mais evidentes
de que um produto é ultraprocessado está na embalagem. Enquanto alimentos in
natura chegam à mesa sem rótulos, os industrializados vêm cercados de
informações que, quando bem interpretadas, ajudam a identificar sua composição
e nível de processamento.
A leitura da lista de
ingredientes é essencial. Produtos com muitos itens, nomes técnicos ou
substâncias pouco familiares ao cotidiano doméstico — como espessantes,
emulsificantes, aromatizantes ou realçadores de sabor — são fortes candidatos a
ultraprocessados. Esses ingredientes, muitas vezes produzidos exclusivamente
para uso industrial, dificilmente seriam usados em uma cozinha comum.
Outro indício importante está
na complexidade do produto. Alimentos como salsichas, biscoitos recheados,
salgadinhos e sucos em pó são exemplos clássicos de itens que não podem ser
reproduzidos em casa com ingredientes simples. Isso acontece porque sua fabricação
depende de processos e substâncias que extrapolam a culinária convencional.
A proporção entre ingredientes
naturais e artificiais também deve ser observada. Em ultraprocessados, frutas,
cereais ou leite costumam aparecer em quantidade mínima ou diluída, apenas como
atrativo comercial. O destaque, nesses casos, vai para o açúcar, sal, gordura e
aditivos, usados em excesso para acentuar sabor, textura e durabilidade.
Por fim, o impacto no consumo
diário ajuda a reconhecer esse tipo de alimento: os ultraprocessados tendem a
substituir refeições completas ou itens nutritivos, como frutas e leite, por
versões empobrecidas e calóricas. Essa substituição, muitas vezes imperceptível
na rotina, é um dos maiores desafios para uma alimentação realmente saudável.
Tribuna do Norte

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