Entre os nomes que se destacam
nesse movimento de transformação está Matt Dantas, idealizador e proprietário
do Seu Nelson na Brasa, uma steakhouse e hamburgueria localizada na Av.
Maranguape. Fundado em 2021, o negócio começou de forma despretensiosa, com a
venda de hambúrgueres para amigos e vizinhos durante a pandemia. Com o tempo, a
proposta evoluiu para um espaço que reúne hambúrguer, petisco e costela, tudo
na brasa, em um ambiente pensado para toda a família. Hoje, a marca conta com
três unidades, entre zona Norte, Areia Preta e Parnamirim, e emprega
diretamente cerca de 50 pessoas.
Com a inspiração na cozinha do
avô, Seu Nelson, e a vontade de criar um espaço com identidade própria, Matt
construiu um modelo de negócio centrado na experiência gastronômica. “Eu acho
que meu diferencial é que tudo aqui é uma criação realmente nossa. É focar nas
coisas que eu gosto, nas coisas que meu avô fazia, mas principalmente perguntar
aos clientes se está bom ou não. Nós escutamos o cliente para fornecer aquilo
que ele quer ter, a experiência que ele quer ter do que seja feito através da
nossa churrasqueira”, conta.
A trajetória do Seu Nelson na
Brasa reflete a mudança no comportamento do consumidor da região, que passou a
valorizar mais os estabelecimentos locais, especialmente devido aos problemas
de mobilidade que dificultam o trânsito ente a zona Norte e outras regiões
administrativas da cidade. “Quando houve problemas com a ponte, muita gente que
ia para outras zonas passou a consumir aqui. Hoje, o público mora, trabalha e
se diverte na zona Norte”, avalia.
A história de Matt se
entrelaça com a própria evolução da zona Norte como destino gastronômico. O Seu
Nelson na Brasa hoje é um dos principais pontos de encontro da região, com
movimentação de aproximadamente 600 pessoas por noite durante os fins de semana
e um ticket médio superior às demais unidades. Enquanto os clientes de Areia
Preta e Parnamirim gastam cerca de R$ 40,00, na unidade da zona Norte o valor
costuma ser superior a R$ 100,00.
“Eu sempre ouvi que aqui não
ia dar certo, que ninguém pagaria R$ 20,00 em um hambúrguer aqui. Mas eu
acreditava no potencial do público da zona Norte, sempre quis oferecer algo de
qualidade, como se fosse um churrasco de família, e isso se tornou nosso diferencial.
Tudo gira em torno da brasa, das receitas que aprendi com meu avô e do contato
direto com os clientes”, conta Matt.
Segundo Thales Medeiros,
gerente da Agência Sebrae Grande Natal, esse cenário de crescimento de negócios
demonstra o potencial econômico da região. “A gente percebe que é um espaço
promissor de desenvolvimento de negócios na cadeia de alimentos e bebidas, com
uma certa variação entre abertura e fechamento de empresa, com saldo positivo
de mais de 50 empresas”, afirma.
A Jacuba Lanches, de César
Kemps, é outro negócio que exemplifica essa transformação. Inaugurada em
dezembro de 2021, a empresa nasceu para gerar renda à família e rapidamente
cresceu, tornando-se um dos pontos mais movimentados da região e totalizando 11
funcionários. “Antigamente, tudo tinha que ser resolvido no centro ou na zona
Sul. Hoje, o pessoal prefere ficar por aqui mesmo. Isso ajudou bastante, porque
quem mora aqui quer resolver tudo perto de casa”, relata.
A aposta na qualidade também
tem sido um diferencial. Situada nas proximidades da Av. Dr. João Medeiros
Filho, o empreendimento recebe desde pessoas que circulam na região até os
clientes fiéis. “Eu comecei com salgados comuns, mas percebi que precisava oferecer
algo melhor. Foi aí que comecei a trabalhar com receitas diferenciadas, como o
pastel de Tangará e uma coxinha de receita própria, que alavancaram as vendas”,
diz. Hoje o espaço conta com uma circulação média de 200 pessoas por dia em
loja física, além de cerca de 70 vendas através do delivery.
Essas ações são reiteradas
pelo Sebrae como boas práticas que favorecem o fortalecimento dos negócios na
região. “Na experiência com o cliente, nós também estamos dialogando com ele,
estamos interessados em atender às suas reais necessidades, e por isso a gente
também vai sempre procurar entender o que seria mais interessante para o
cliente, o que ele procura mais em termos de serviços, de experiência, o que
ele está disposto a pagar também”, considera Thales Medeiros.
César Kemps lançou a Jacuba Lanches
em 2021 para gerar renda para a família e atualmente já conta com 11
funcionários | Foto: Magnus Nascimento
Plano Diretor impulsiona
investimentos
O novo Plano Diretor de Natal
tem sido apontado como um dos principais motores da retomada de investimentos
na cidade, especialmente na zona Norte. As alterações nas regras urbanísticas e
a desburocratização dos licenciamentos abriram caminho para a multiplicação de
empreendimentos, incluindo novos bares, restaurantes e projetos imobiliários. A
região, que já se destaca pela força do comércio e do setor gastronômico, vem
recebendo atenção crescente do mercado e da construção civil.
“A primeira mudança
significativa que a gente tinha convicção que em todas as regiões
administrativas ia aumentar, mas especialmente na zona Norte e zona Sul, é o
uso misto em todas as regiões administrativas. Ou seja, qualquer área, qualquer
lote do município de Natal, você pode construir tanto a parte comercial quanto
a parte residencial”, explica Thiago Mesquita, secretário de Meio Ambiente e
Urbanismo de Natal (Semurb).
Entre os avanços urbanísticos,
o secretário destaca que a zona Norte foi beneficiada com maior potencial
construtivo e incentivos em eixos de mobilidade, como as avenidas João Medeiros
Filho, Pompeia e Paulistana. “Na zona Norte, há empreendimentos licenciados com
mais de 1.000 unidades na modalidade Minha Casa Minha Vida, e a expectativa é
que nos próximos anos tenhamos entre 3.000 e 5.000 novas unidades residenciais
na região”, avalia Mesquita.
O coeficiente de
aproveitamento na zona Norte, que antes era 1.2, foi ampliado e varia agora de
1.5 a 5. Já o gabarito de altura dos prédios também subiu de 60 metros para até
140 metros em 90% da região. Outras ações também são pontuadas pelo secretário
da Semurb como facilitadoras do crescimento da região, como a simplificação dos
processos, com mais de 500 atividades que dispensam licenciamento, além dos
formatos de autodeclaração, que podem ser executados de forma online.
Na percepção de Sérgio
Azevedo, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande
do Norte (Sinduscon-RN), os empreendimentos da área ainda são majoritariamente
horizontais, com foco em habitação de interesse social e loteamentos, sobretudo
em áreas como Redinha, Santa Catarina e Pajuçara. “O potencial é enorme, mas a
infraestrutura existente ainda é um entrave para projetos de maior porte. Os
problemas mais críticos estão ligados à mobilidade, drenagem, saneamento e
abastecimento de água e energia”, avalia.
Diante das limitações do
município e do estado, Sérgio Azevedo sugere como solução a implementação de
Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, principalmente para saneamento
e abastecimento, além de drenagem de urbanização de áreas estratégicas com
potencial habitacional. “A zona Norte precisa ser tratada como vetor
estratégico de crescimento da cidade, mas isso só será viável com modelos que
atraiam capital privado para destravar a infraestrutura”, afirma Sérgio
Azevedo.
A percepção é compartilhada
por Roberto Peres, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis
(CRECI-RN), que confirma um aumento na procura por imóveis na zona Norte. “A
gente notou que realmente houve vários lançamentos na região, mais concentrados
em imóveis em condomínios horizontais. Tem um grande empreendimento com mais de
400 lotes na Tomaz Landim e venderam 70% em uma semana”, relata.
Peres observa que as avenidas
Paulistana, Maranguape e Itapetinga têm sido alvos de interesse tanto para
empreendimentos comerciais, enquanto as adjacentes são procuradas para fins
residenciais. Apesar disso, ele reforça que ainda existem desafios que precisam
ser superados para que a zona Norte experimente um crescimento mais
consistente. “Precisa de transporte urbano, ruas asfaltadas, bom acesso e
saneamento básico. Ainda existem muitas ruas sem, e isso dificulta até para
financiamento e liberação de crédito”, considera.
De acordo com Thiago Mesquita,
a Prefeitura de Natal está trabalhando em melhorias de infraestrutura da área.
Ele destaca que está sendo cadastrado no Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) um projeto para pavimentar todas as ruas da região. Além disso, na
mobilidade urbana, já foi iniciada a viabilização do projeto Via Mangue, uma
proposta que pretende ligar as duas pontes que dão acesso à zona Norte.
Larissa Duarte/Repórter
Tribuna do Norte

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