A dor crônica diminui a capacidade física, e traz sofrimento psicológico e
emocional. A fisioterapeuta Kelly Gama explica que as causas podem ser
diversas. “Temos as de origem músculo-esquelética, que podem ser as hérnias de
disco, fibromialgias, osteoartrites, artrites reumatóides, epicondilites, e as
tendinites. E ainda temos as dores neuropáticas, como as dores de cabeça, as
famosas enxaquecas”, diz.
A médica explica que o indivíduo que tem dor crônica sofre várias influências.
“É alguém que não dorme bem, que não consegue fazer uma atividade física e, às
vezes, não tem uma boa alimentação. São pacientes que têm um alto nível de
estresse, de ansiedade, alguns até têm humor depressivo”, afirma, ressaltando,
por isso, que muitas vezes é preciso um tipo de atendimento com aparato
multidimensional.
Os principais sintomas envolvem dor muscular e articular, fadiga, insônia,
queimação, pontadas, ansiedade, irritabilidade, e depressão. Os tratamentos
convencionais, como o medicamentoso, ajudam a melhorar o sono, os níveis de
estresse, ansiedade, e também podem melhorar na fadiga. “Quando o paciente tem
fadiga, ele não consegue se movimentar. A medicação é um aliado que nós temos
para ajudar a colocar essa pessoa de volta às suas atividades o mais rápido
possível”, afirma.
Tratamento
Devido às origens diversas das dores crônicas, Kelly Gama pensou num programa
diferente de tratamento que envolve educação, movimento guiado e estímulos
sensoriais: ela o chama de “RessignificaDor”. “Consiste em várias estratégias
terapêuticas, como a educação em neurociência da dor, exercícios controlados e
contingenciados por metas e/ou tarefas, terapia em espelho, imagética motora,
técnicas de respiração e relaxamento”, explica.
O plano de tratamento é construído de forma colaborativa e adaptado à rotina e
às limitações de cada pessoa. Segundo ela, a união desses procedimentos faz com
que o sistema de dor do paciente, que está sensível, alarmando dor o tempo
todo, seja reeducado, fazendo-o se expor a novas experiências e atividades.
Proporciona que ele também aprenda a se movimentar de forma segura, sem risco
de lesão.
“O paciente com dor crônica tem um sistema nervoso central desregulado,
disfuncional e mal adaptativo, ou seja, ele não funciona como ele deveria
funcionar corretamente”, acrescenta. Todas as estratégias de tratamento do
RessignificaDor são direcionadas ao sistema nervoso central, que está bastante
sensível e desregulado, visando sempre melhorar as alterações no seu
processamento central, que está mal adaptado.
O objetivo, segundo Kelly, é que o indivíduo reduza clinicamente a dor que está
sentindo e melhore suas capacidades funcionais, restabelecendo o significado de
sua participação social. Não deixando que a dor tome conta de sua vida.
A resposta para o alívio do tratamento depende muito de cada um, afirma a
fisioterapeuta. As dores crônicas mais recentes, que estão apenas com alguns
meses, podem ser resolvidas rapidamente. “Mas para aquele paciente com dor
crônica há mais de dois anos, o tratamento demora mais um pouquinho, em torno
de 40 dias, até dois meses. Isso vai depender de toda uma mudança de
comportamento do indivíduo”, afirma.
Kelly Gama ressalta que a educação do paciente sobre o seu problema é a parte
mais importante do tratamento. “À medida em que ele tem todas as informações
sobre a dor que está sentindo, ele é capaz de mudar os seus próprios
comportamentos”, diz. Segundo ela, a pessoa deve ter consciência de que a dor
faz parte do sistema de proteção do corpo, e que não deve abandonar suas
atividades por causa dela. A passividade e a medicação excessiva podem piorar o
caso.
Para pessoas que convivem com dor crônica, o mais importante é tentar
compreender qual é a causa da dor. “Toda dor começa por algum motivo. No
momento que você compreende o que está causando, você vai conseguir
solucionar”, afirma a fisioterapeuta. É importante enfatizar, segundo ela, que
o tratamento é individualizado e personalizado, porque cada caso é um caso. “As
pessoas são diferentes, têm hábitos de vida diferentes e se movimentam de
formas diferentes, e isso deve ser levado em conta no tratamento”, completa.
Dor de cabeça
A engenheira e professora Anna Giselle Ribeiro percebeu, aos 20 anos de idade,
que suas eventuais dores de cabeça não eram tão eventuais assim. As enxaquecas
eram um caso crônico, e ela tinha crises mensais que podiam durar até três
dias. “Eu passei a fazer aqueles tratamentos pontuais para dor, mas com o tempo
vi que os remédios tradicionais não estavam fazendo efeito. Precisei procurar
um especialista para direcionar melhor o uso da medicação”, conta.
A perda da qualidade de vida era evidente, e o caso passou bastante tempo sem
uma solução mais eficiente. Até que, há cerca de quatro anos, ela foi indicada
a um profissional fisioterapeuta. “Foi só assim que conheci uma melhora real.
Passei a fazer alguns procedimentos como a liberação miofascial, uma técnica
que alivia a tensão e a dor muscular, relaxa a musculatura, e ajuda muito em
casos de dor de cabeça como a minha”, afirma.
A partir das técnicas fisioterapêuticas, a melhora no quadro de enxaquecas de
Giselle foi evidente. “Agora tenho menos crise em quantidade e também na
duração de tempo. As crises duram menos dias, e são mais fáceis de controlar.
Me proporcionou uma qualidade de vida que há tempos eu não conhecia”, diz,
ressaltando que é muito importante manter a regularidade das sessões
fisioterapêuticas.
Tribuna do Norte

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