sábado, 21 de junho de 2025

Ceratocone: o perigo que ameaça a visão

Alterações visuais suspeitas em crianças, adolescentes e jovens adultos podem ser sinais de ceratocone, uma doença genética e progressiva que atinge cerca de 150 mil pessoas por ano no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A campanha Junho Violeta alerta para a importância da prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento dessa doença da córnea que pode levar à perda significativa da visão. Se não for devidamente tratada, pode levar à necessidade de um transplante de córnea.

O oftalmologista Márcio Florêncio explica que o ceratocone é uma condição em que a córnea, que normalmente é redonda, se torna mais fina e toma a forma de um cone. “Isso pode distorcer a visão, resultando em dificuldades para ver de forma nítida, principalmente ao olhar para longas distâncias”, diz. A curvatura e afinamento progressivo da córnea podem levar à perda significativa da visão.

A doença tende a ser mais comum na população com idade entre 10 e 25 anos de idade, e não tem uma causa exata, mas pode se desenvolver em decorrência do ato de esfregar ou coçar os olhos com frequência ou por alterações oculares congênitas, como a catarata e a esclerótica azul (parte branca do olho).

“As causas exatas do ceratocone ainda não são completamente compreendidas, mas fatores genéticos, ambientais e estilos de vida parecem contribuir para seu desenvolvimento. Fatores de risco incluem história familiar, alergias oculares, e fricção excessiva dos olhos”, ressalta. Nos estágios iniciais, a dificuldade visual é pequena e pode passar despercebida, mas nas fases intermediárias e avançadas, a visão pode ficar muito comprometida.

A presença do ceratocone pode ser indicada por alguns sintomas como: visão embaçada ou distorcida, mesmo com uso de óculos; aumento da sensibilidade à luz; mudanças frequentes na prescrição dos óculos; visão dupla em um dos olhos; dificuldade para realizar atividades rotineiras como ler e dirigir, e surgimento ou agravamento de miopia e astigmatismo.

O oftalmologista explica que o diagnóstico é geralmente feito por meio de um exame oftalmológico completo, que pode incluir a ceratometria, topografia, ou tomografia da córnea para diagnosticar a doença. Em casos mais avançados, exames simples como o uso da lanterna de fenda ou a esquiascopia podem ser suficientes para a detecção do problema.

“Recomenda-se que os pacientes façam exames oftalmológicos regulares (anual ou conforme orientação médica), especialmente se houver fatores de risco, como o aumento do grau das lentes em menos de um ano, por exemplo”, diz. A doença não tem preferência por homens ou mulheres. O público mais afetado é o de adolescentes, pré-adolescentes ou adultos jovens. Portanto, a detecção precoce é crucial para evitar o agravamento.

Se não tratado, o ceratocone pode progredir e levar a uma severa deformidade da córnea, o que pode resultar em perda significativa da visão e, em casos extremos, exigir um transplante de córnea. “Ainda não existe uma cura para o ceratocone, mas muitos tratamentos podem controlar a progressão da doença e melhorar a visão”, afirma o médico.

Os tratamentos da doença variam conforme a gravidade, e podem incluir:

óculos ou lentes de contato rígidas para casos mais leves; anéis intracorneanos para melhorar a qualidade visual;

‘cross-linking’ da córnea para estabilizar a doença, e em casos avançados, o transplante de córnea pode ser necessário.

“Para aqueles diagnosticados com ceratocone, é essencial seguir as recomendações do seu oftalmologista sobre o uso de lentes e tratamentos”, enfatiza Márcio Florêncio. Para prevenção, recomenda-se evitar coçar os olhos para não piorar a deformação da córnea, e fazer exames regulares para avaliar se a doença está estável ou não.

Crianças e adolescentes que possuem alergias oculares e coçam os olhos frequentemente podem desenvolver esta deformidade da córnea. Portanto, como primeira frente de tratamento deve-se parar de coçar os olhos e, caso necessário, tratar alergias oculares adequadamente com cuidados ambientais e colírios.

Nesse contexto, o médico destaca as ações do Junho Violeta para ressaltar a importância do check-up na saúde ocular. “A campanha incentiva as pessoas a se submeterem a exames oftalmológicos regulares e a buscarem assistência médica. Os adolescentes e jovens adultos que estão com o grau aumentando com frequência devem ser avaliados quanto à necessidade de investigar a doença, além de pacientes alérgicos que coçam bastante os olhos e que vêm apresentando embaçamento visual”, completa.

Homem jogando vídeo game ao lado de computador

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Ainda não existe uma cura para o ceratocone, mas tratamentos podem controlar progressão da doença”, diz Márcio Florêncio, oftalmologista | Foto: Cedida

Enxergando além

A nutricionista e empresária Érika Bonifácio descobriu o ceratocone em 2015, entre as muitas visitas que já fazia ao oftalmologista devido ao seu astigmatismo de grau elevado. O médico recomendou-a a cirurgia dos anéis intracorneanos. “Foi implantado um anel em cada olho e isso melhorou muito minha visão e, claro, minha qualidade de vida. Porque além de eu ter a dificuldade de enxergar de longe, devido ao astigmatismo, o ceratocone piorava esse quadro”, lembra.

O procedimento quase zerou o grau de astigmatismo da empresária e ela afirma que, mesmo ainda tendo a necessidade de usar óculos, consegue enxergar até melhor sem eles. Ela afirma que sua rotina melhorou bastante, principalmente a segurança para fazer coisas cotidianas, como dirigir. “Poucas pessoas têm conhecimento do ceratocone, e eu acho importante, principalmente para quem já usa óculos e tem problemas de visão, fazer exames específicos para ter logo um diagnóstico”, diz.

Érika lembra que, dependendo do grau do ceratocone, a pessoa pode ser enquadrada como PCD. “Isso pode ser importante para devidos fins como, por exemplo, um concurso pela questão da inclusão, por se tratar de uma deficiência visual. Quem tem ceratocone apresenta baixa visão. Então, através do laudo médico, o portador pode se utilizar desse benefício”, diz. Ela considera importante uma maior divulgação da doença, para que o diagnóstico seja breve e o controle mais eficiente.

Tádzio França
Repórter

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