O oftalmologista Márcio
Florêncio explica que o ceratocone é uma condição em que a córnea, que
normalmente é redonda, se torna mais fina e toma a forma de um cone. “Isso pode
distorcer a visão, resultando em dificuldades para ver de forma nítida, principalmente
ao olhar para longas distâncias”, diz. A curvatura e afinamento progressivo da
córnea podem levar à perda significativa da visão.
A doença tende a ser mais
comum na população com idade entre 10 e 25 anos de idade, e não tem uma causa
exata, mas pode se desenvolver em decorrência do ato de esfregar ou coçar os
olhos com frequência ou por alterações oculares congênitas, como a catarata e a
esclerótica azul (parte branca do olho).
“As causas exatas do
ceratocone ainda não são completamente compreendidas, mas fatores genéticos,
ambientais e estilos de vida parecem contribuir para seu desenvolvimento.
Fatores de risco incluem história familiar, alergias oculares, e fricção
excessiva dos olhos”, ressalta. Nos estágios iniciais, a dificuldade visual é
pequena e pode passar despercebida, mas nas fases intermediárias e avançadas, a
visão pode ficar muito comprometida.
A presença do ceratocone pode
ser indicada por alguns sintomas como: visão embaçada ou distorcida, mesmo com
uso de óculos; aumento da sensibilidade à luz; mudanças frequentes na
prescrição dos óculos; visão dupla em um dos olhos; dificuldade para realizar
atividades rotineiras como ler e dirigir, e surgimento ou agravamento de miopia
e astigmatismo.
O oftalmologista explica que o
diagnóstico é geralmente feito por meio de um exame oftalmológico completo, que
pode incluir a ceratometria, topografia, ou tomografia da córnea para
diagnosticar a doença. Em casos mais avançados, exames simples como o uso da
lanterna de fenda ou a esquiascopia podem ser suficientes para a detecção do
problema.
“Recomenda-se que os pacientes
façam exames oftalmológicos regulares (anual ou conforme orientação médica),
especialmente se houver fatores de risco, como o aumento do grau das lentes em
menos de um ano, por exemplo”, diz. A doença não tem preferência por homens ou
mulheres. O público mais afetado é o de adolescentes, pré-adolescentes ou
adultos jovens. Portanto, a detecção precoce é crucial para evitar o
agravamento.
Se não tratado, o ceratocone
pode progredir e levar a uma severa deformidade da córnea, o que pode resultar
em perda significativa da visão e, em casos extremos, exigir um transplante de
córnea. “Ainda não existe uma cura para o ceratocone, mas muitos tratamentos
podem controlar a progressão da doença e melhorar a visão”, afirma o médico.
Os tratamentos da doença
variam conforme a gravidade, e podem incluir:
óculos ou lentes de contato
rígidas para casos mais leves; anéis intracorneanos para melhorar a qualidade
visual;
‘cross-linking’ da córnea para
estabilizar a doença, e em casos avançados, o transplante de córnea pode ser
necessário.
“Para aqueles diagnosticados
com ceratocone, é essencial seguir as recomendações do seu oftalmologista sobre
o uso de lentes e tratamentos”, enfatiza Márcio Florêncio. Para prevenção,
recomenda-se evitar coçar os olhos para não piorar a deformação da córnea, e
fazer exames regulares para avaliar se a doença está estável ou não.
Crianças e adolescentes que
possuem alergias oculares e coçam os olhos frequentemente podem desenvolver
esta deformidade da córnea. Portanto, como primeira frente de tratamento
deve-se parar de coçar os olhos e, caso necessário, tratar alergias oculares adequadamente
com cuidados ambientais e colírios.
Nesse contexto, o médico
destaca as ações do Junho Violeta para ressaltar a importância do check-up na
saúde ocular. “A campanha incentiva as pessoas a se submeterem a exames
oftalmológicos regulares e a buscarem assistência médica. Os adolescentes e jovens
adultos que estão com o grau aumentando com frequência devem ser avaliados
quanto à necessidade de investigar a doença, além de pacientes alérgicos que
coçam bastante os olhos e que vêm apresentando embaçamento visual”, completa.
Ainda não existe uma cura para o
ceratocone, mas tratamentos podem controlar progressão da doença”, diz Márcio
Florêncio, oftalmologista | Foto: Cedida
Enxergando além
A nutricionista e empresária
Érika Bonifácio descobriu o ceratocone em 2015, entre as muitas visitas que já
fazia ao oftalmologista devido ao seu astigmatismo de grau elevado. O médico
recomendou-a a cirurgia dos anéis intracorneanos. “Foi implantado um anel em
cada olho e isso melhorou muito minha visão e, claro, minha qualidade de vida.
Porque além de eu ter a dificuldade de enxergar de longe, devido ao
astigmatismo, o ceratocone piorava esse quadro”, lembra.
O procedimento quase zerou o
grau de astigmatismo da empresária e ela afirma que, mesmo ainda tendo a
necessidade de usar óculos, consegue enxergar até melhor sem eles. Ela afirma
que sua rotina melhorou bastante, principalmente a segurança para fazer coisas
cotidianas, como dirigir. “Poucas pessoas têm conhecimento do ceratocone, e eu
acho importante, principalmente para quem já usa óculos e tem problemas de
visão, fazer exames específicos para ter logo um diagnóstico”, diz.
Érika lembra que, dependendo
do grau do ceratocone, a pessoa pode ser enquadrada como PCD. “Isso pode ser
importante para devidos fins como, por exemplo, um concurso pela questão da
inclusão, por se tratar de uma deficiência visual. Quem tem ceratocone apresenta
baixa visão. Então, através do laudo médico, o portador pode se utilizar desse
benefício”, diz. Ela considera importante uma maior divulgação da doença, para
que o diagnóstico seja breve e o controle mais eficiente.
Tádzio França
Repórter

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