“Se a
revista piauí quis agir de má-fé, eu não vou gastar o meu tempo
[processando]. Eu acredito na justiça de Deus. Se eu dobrasse o lucro [da
empresa], eu receberia 30% a mais. Isso era uma cláusula padrão, na época, com
todos os outros meus contratos, não só bets. Em momento algum [falava sobre]
perdas dos meus seguidores, nunca teve [dispositivo] sobre isso no contrato”,
disse.
A influenciadora também
afirmou que não conhecia as acusações de irregularidades contra a empresa
Esportes da Sorte, com quem firmou contratos de publicidade. A empresa foi alvo
da Polícia Civil de Pernambuco em 2024 no âmbito de uma investigação sobre
lavagem de dinheiro envolvendo jogos ilegais.
O depoimento de Virgínia
atendeu a pedido da senadora Soraya. A CPI investiga supostas irregularidades
no setor de apostas e o uso de influenciadores digitais na divulgação de jogos
online.
As apostas esportivas online e
os jogos de azar online tiveram sua atuação legalizada em 2018, com a Lei
13.756. O setor recebeu novas regras em 2023 (Lei 14.790) e, após seis meses de
transição, passou a ter a regulamentação totalmente vigente a partir de janeiro
de 2025. Antes da reunião, Soraya afirmou em coletiva de imprensa que “é
possível haver uma discussão em relação à legalidade ou não” das operações de
apostas e sua promoção no período entre 2018 e 2025.
Alertas
Virgínia explicou que seu
contrato atual exige uma publicação por semana na rede social Instagram, onde
possui perfil com mais de 50 milhões de seguidores. Segundo ela, suas
postagens que divulgam jogos de apostas começaram em dezembro de 2022 e
observam as regras sobre publicidade de apostas à medida que surgem.
“Quando eu posto, sempre deixo
muito claro que é um jogo, para se divertir, que [o usuário] pode ganhar e pode
perder. Que para menores de 18 anos é proibido, que se possui qualquer tipo de
vício o recomendado é não entrar, para jogar com responsabilidade… Coloco todas
imagens exigidas pelo Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária]. Nunca falei para a pessoa entrar para fazer o dinheiro da vida
dela. Não estou fazendo nada fora da lei”, completou.
A senadora Soraya Thronicke
afirmou que teve dificuldades em encontrar esses avisos nas publicações e que
“gostaria de encontrar mais” desses alertas. A relatora questionou
Virgínia sobre um vídeo, apresentado na reunião, em que considera que não há
avisos claros sobre os riscos envolvidos. Em resposta, Virgínia argumentou que
se trata de vídeo anterior às regras mais rígidas para propaganda.
“Lá atrás era diferente do que
é hoje. Ainda não tinham essas exigências do Conar de que era para falar [sobre
jogo responsável] no início do vídeo. O Conar está sempre mudando e mandando
mais exigências. As casas de apostas já mandam tudo certinho, o que não pode
falar. Por exemplo, as minhas filhas não podem aparecer”, disse.
O Conar é um órgão privado de
autorregulação — em que os agentes do setor privado se submetem às suas normas
e às suas decisões — sem fins lucrativos, e possui parceria em curso com o
Ministério da Fazenda, responsável por desenvolver e implementar as regras no
setor de apostas.
Algoritmos
Soraya questionou se Virgínia,
para produzir as peças de propagandas, utiliza a mesma conta que os usuários
comuns. Segundo a relatora, há contas e aplicativos que empresas de apostas
disponibilizam a quem divulga a empresa que enviesam os resultados para fins de
publicidade. “A conta que é feita para eu jogar não necessariamente é uma
conta fake. [Eu jogo] na mesma plataforma [que todos os outros usuários],
ganha e perde”.
Segundo Soraya, irregularidade
em algoritmos de apostas onlines é um dos pontos que a CPI investiga. A
senadora defendeu que o relatório final será satisfatório em sua apuração e nas
providências a serem tomadas. Diante de críticas de senadores quanto ao prazo
curto para apresentação do documento, Soraya assegurou que a CPI “não será
inefetiva”.
“Há documentos que são
sigilosos e a nossa equipe está trabalhando há muito tempo. Jamais vai terminar
em pizza. Só se não aprovarem o relatório”, asssegurou.
Debate
O senador Dr. Hiran (PP-RR),
presidente da CPI, afirmou que Virgínia está amparada por habeas corpus
concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que a protege de ser presa.
Ele apontou que o objetivo da reunião não seria “apontar o dedo” ou “criminalizar”
a influenciadora.
O senador Jorge Kajuru
(PBS-GO) criticou a convocação de Virgínia e elogiou a disposição da
influenciadora en colaborar. Ele afirmou que foi instado a criticar Virgínia
durante a reunião, mas que suas propagandas não são ilegais. “O que ela faz é
testemunhar um produto. Eu pergunto: o produto que ela testemunha está ilegal?
Não”.
Os senadores Cleitinho
(Republicanos-MG) e Eduardo Girão (NOVO-CE) criticaram a legalização dos jogos
de azar digitais em razão dos danos financeiros e mentais associados. Girão
sugeriu a Virgínia que a influenciadora reavaliasse sua produção de conteúdos
que envolvam apostas.
Tribuna do Norte

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