Dos 20 anos da organização em
Natal, Sônia vivienciou 16 deles. A Nova Acrópole foi fundada em Buenos Aires,
em 1957, pelo professor Jorge Ángel Livraga Rizzi. A organização atua hoje em
mais de 50 países e tem sede internacional em Bruxelas, na Bélgica. No Brasil,
onde chegou em 1984, são mais de quatro mil alunos, segundo estimativas da
instituição. A estrutura da Nova Acrópole no RN inclui unidades em Tirol, Morro
Branco, Candelária, Nova Parnamirim, Ponta Negra e na Zona Norte da capital.
Mais de 200 pessoas circulam semanalmente pela sede onde Sônia atua, na Avenida
Campos Sales.
De acordo com Sônia Gurgel,
professora e aluna, os pilares que norteiam a atuação da Nova Acrópole são a
filosofia, a cultura e o voluntariado. A proposta é resgatar o valor da
sabedoria ancestral por meio da prática cotidiana, aplicando os ensinamentos dos
grandes pensadores da antiguidade à realidade atual. “Nós estudamos
principalmente os filósofos clássicos, que é a nossa grande base. A nossa ideia
é diferente, é a filosofia em ação. Por isso que o nome do curso é Filosofia
para Viver”, relata.
O curso de Filosofia para
Viver é a principal atividade desenvolvida nas escolas. Ele é dividido em sete
níveis, sendo o primeiro com duração de seis meses. A cada etapa, os alunos
passam por uma entrevista e uma avaliação para avançar. Segundo Sônia, não há
um tempo determinado para concluir a formação. “A evolução não para nunca.
Então a gente nunca vai parar de estudar, porque isso é alimento espiritual”,
explica.
O diferencial da abordagem
está na tentativa de promover uma mudança concreta no comportamento das
pessoas. Questionada por um aluno sobre as transformações percebidas ao longo
de 16 anos na instituição, Sônia identificou duas principais: o aprimoramento
das relações interpessoais, com mais empatia e escuta ativa, e a compreensão
mais profunda das leis da natureza, que permitiu enxergar os desafios da vida
sob uma nova perspectiva.
Dentro da atuação, a
organização busca oferecer um contraponto ao ritmo acelerado da vida moderna,
incentivando o cultivo de virtudes e o fortalecimento de laços humanos. “Não
adianta só você ser bem-sucedido profissionalmente, financeiramente, se você não
for aquele ser humano íntegro, honesto, que conhece a si mesmo. A ideia é
proporcionar essa construção”, afirma Sônia.
A Nova Acrópole tem como
princípios a fraternidade, o conhecimento e o desenvolvimento. Defende o
respeito à dignidade humana e valoriza a convivência entre diferentes culturas.
Estimula o amor à sabedoria com o estudo comparativo de filosofia, artes e ciências
e promove o autoconhecimento como caminho para transformar o indivíduo e a
sociedade. Esses pilares unem reflexão interior e ação prática no cotidiano.
Dentro dessa proposta, o
cultivo das virtudes ocupa um papel central. A instituição entende que a
verdadeira felicidade está diretamente ligada ao desenvolvimento de qualidades
como empatia, coragem, paciência e generosidade. Além das aulas, as escolas promovem
eventos abertos ao público, como palestras, apresentações artísticas e
atividades culturais inspiradas na tradição clássica greco-romana. A filosofia
estóica, as obras de Platão, a ética de Aristóteles e os ensinamentos budistas
integram os conteúdos ministrados.
Com base na filosofia
clássica, o curso também estimula uma formação ética voltada para a convivência
e o engajamento. “Nosso diretor internacional dizia: ‘Nós não viemos fazer
coisas, viemos construir a nós mesmos’. Então todo dia a gente tá nesse processo
de construção. É um excessinho que você tira, é um pouco menos egoísta, é um
pouco menos chata, é um pouco menos intolerante. É o que a gente busca. Ninguém
quer estar em conflito com os outros, quer uma harmonia na convivência”,
relata.
As escolas também promovem
atividades externas, como o Dia da Terra e a Semana da Arte | Foto: Divulgação
Atuação na juventude
Entre os jovens, a filosofia
também tem espaço garantido. A instituição procura mostrar que o cultivo das
virtudes pode e deve ser iniciado ainda na infância. Em Natal, os programas
voltados são para diferentes faixas etárias, como o Janos, para adolescentes
entre 14 e 17 anos, e o Merlim, voltado às crianças, filhos de alunos.
O objetivo, segundo a
professora, é oferecer desde cedo referências que ajudem crianças e jovens a
desenvolverem sensibilidade, senso de responsabilidade e identidade. Por meio
de atividades simples, mas significativas, a proposta é mostrar que servir também
é uma forma de aprender. Ao vivenciarem experiências como o trabalho em grupo,
a prática da generosidade e a valorização do esforço, os participantes ampliam
sua compreensão sobre si mesmos e sobre o papel que podem exercer na
coletividade.
“Como aqui é voluntariado,
eles aprendem a pintar uma parede, aprendem a cozinhar, começam a entender a
importância do serviço e não viver só com os seus prazeres. Porque tem os
prazeres sensíveis e os inteligíveis. Quanto mais você vive em função dos prazeres
sensíveis, mais você deseja, porque não é isso que satisfaz”, explica. Sônia
ainda destaca que esse contato inicial com a filosofia contribui para formar
indivíduos mais conscientes e menos centrados apenas nos desejos imediatos.
No Brasil, algumas escolas
possuem projetos sociais mais estruturados, como o Criança para o Bem, em
Brasília, que atende cerca de 190 crianças com atividades de arte, educação e
saúde. No Pará, o Instituto Ipearte também desenvolve ações com 170 crianças em
situação de vulnerabilidade. Em Natal, essas ações ainda não foram implantadas,
mas a instituição local mantém apoio.
As comemorações pelos 41 anos
da Nova Acrópole no Brasil ocorreram no último dia 26 de abril, com celebrações
simultâneas em diferentes cidades. Na capital do RN, a programação incluiu um
vídeo institucional e atividades nas turmas durante a semana. A festa principal
está prevista para julho, mês em que a organização completa 20 anos de atuação
no estado.
Tribuna do Norte

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