quarta-feira, 19 de abril de 2023

Como o WhatsApp está fazendo as pessoas trabalharem cada vez mais

Uso do app para conversas privadas e profissionais, aliado à falta de controle por parte das empresas, faz parte do problema; especialistas apontam falhas na cultura organizacional

Instalado em 99% dos celulares brasileiros, o WhatsApp tornou a comunicação entre amigos e parentes muito mais prática e definiu uma plataforma padrão para mensagens, grupos e chamadas. Com todos cadastrados no aplicativo, não demorou para que ele começasse a ser usado também para a comunicação nas empresas. Afinal, mandar um “zap” é quase o mesmo que esbarrar em alguém no corredor - só que virtualmente.

Mas se antes era possível esbarrar em alguém somente quando se compartilhava o mesmo ambiente, agora a disponibilidade é ilimitada. Pedir uma informação leva somente alguns segundos, independentemente do momento, de segunda a segunda.

“Eu me sinto invadida pelo meu trabalho em vários momentos da minha vida, nos momentos de lazer, no fim de semana, quando eu estou de folga”, afirma Érica Duarte (nome fictício dado a ela por não querer se expor), que trabalha em uma empresa de comunicação com sede em Florianópolis. Ela diz receber mensagens recorrentes sobre o trabalho fora do horário de expediente e até nos finais de semana.

Com a popularização da plataforma, membros de diferentes empresas passaram a criar grupos para o compartilhamento de informações e arquivos de forma mais rápida e prática do que o antigo e-mail corporativo. Os avisos, antes endereçados em um meio controlado pela companhia, foram transferidos para um app instalado nos equipamentos privados dos funcionários. O ramal do escritório agora fica no bolso.

“Já deixei de responder amigos meus e familiares, porque a notificação chega ao mesmo tempo, e eu acabo priorizando o trabalho”, explica Érica.

Essa disponibilidade integral, no entanto, começa a cobrar seus custos. Cerca de 30% dos profissionais afirmam sentir pressão para estar disponível o tempo todo no trabalho, segundo pesquisa realizada pelo professor Paul Ferreira, da FGV, em parceria com as empresas Talenses e Gympass. No mesmo estudo, 43% deles afirmam estar com sobrecarga de trabalho.

Conteúdo: Estadão

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