O contrato para a implantação
do Museu da Rampa foi questionado pelo Ministério Público, que investiga
suspeitas de irregularidades. O acordo original, com a Casa da Ribeira, foi
suspenso e deve ser extinto, segundo declarou o Governo do Estado em reportagem
da TRIBUNA DO NORTE. Com isso, a abertura do espaço ficou a cargo da Fundação
José Augusto. As exposições são divididas em cinco espaços. Os interessados
podem visitar o acervo disponibilizado no Museu da Rampa de terça-feira a
domingo, das 10h às 17h. Nesses dias, os portões ainda ficam abertos até às 18h
para que os cidadãos e turistas tenham vista ao pôr do sol às margens do rio
Potengi.
A visita começa na sala 'Natal, a Encruzilhada do Mundo", de curadoria do
pesquisador sobre a participação de Natal na Segunda Guerra, Fred Nicolau.
Trata-se de um ambiente imersivo, com paredes pintadas na cor azul,
simbolizando o céu. No centro da sala, fica posicionada uma miniatura Boeing
B-314 Dixie Clipper, hidroavião usado por Roosevelt e que pousou no rio
Potengi no dia 28 de janeiro de 1943 para o famoso encontro com o presidente
Getúlio Vargas.
As paredes contam com textos que explicam o encontro e dão mais informações
acerca da Conferência do Potengi, junto de um poema de Câmara Cascudo sobre o
assunto. Para completar a experiência, a sala tem caixas de som que tocam
músicas da época e simulam barulhos que o avião fazia, como se ele estivesse
passando por perto naquele momento. A miniatura do hidroavião fica suspensa em
cabos e, abaixo dela, é exemplificada a importância geográfica de Natal na
grande guerra, com a capacidade de ser rota aérea estratégica para o sucesso
militar.
A visita continua com a saída para a varanda com vista ao rio Potengi. A visão
aponta para onde oito décadas atrás os hidroaviões pousaram e os navios da
delegação americana atracaram. Arcos foram posicionados no local com fotos das
aeronaves e embarcações para que o público possa comparar o hoje com o passado.
A próxima sala entra de vez nos acordos firmados entre Brasil e Estados Unidos
para culminar na Força Expedicionária Brasileira (FEB). O ambiente tem estilo
militar, com as paredes pintadas em cores verdes, em alusão aos uniformes dos
combatentes. A sala com um vasto acervo de material original dos
expedicionários brasileiros, com fardamentos, insígnias, medalha, cantil,
capacetes, entre outros artigos.
Uma parte do material de exposição fica disposta em caixotes também de temática
militar. Há mais fotos da Conferência do Potengi e até uma escultura da famosa
foto dos dois presidentes sorrindo dentro de um carro militar. Há textos
espalhados pelo ambiente que explicam mais detalhes da FEB, inclusive a origem
do brasão com uma cobra fumando.
Ainda dentro dessa sala, há uma porta que dá acesso a um pequeno cômodo chamado
de blecaute. Dentro, tem apenas um rádio e duas luzes ligadas. O aparelho de
comunicação repete uma mensagem de um locutor que pede para a população apagar
as luzes de casa, registrando um temor de ataque aéreo na cidade, na época.
“A importância de você estar aqui é que você vai ver ao vivo e colorido o que o
pessoal usava nas guerras. As fardas, o bibico, os dog tags, tudo coisa
original e autêntica, tudo de verdade, dá para ver que está tudo usado. Eu
pesquiso isso há 20 anos, então eu montei essa exposição aqui para comemorar os
80 anos do encontro entre os presidentes”, disse o curador Fred Nicolau.
Depois da guerra, a paz
Para contrapor a guerra, a visita segue com a sala da paz. A sala é repleta de
pessoas que lutaram pela paz mundial e mensagens que reforçam a ideia de um
mundo sem guerras e sem violência. Na entrada há uma escultura da obra
Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso, ressignificada com palavras que
conclamam a paz.
Responsável por desenvolver o ambiente, o diretor do Museu da Rampa,
Crispiniano Neto, afirmou que o objetivo é aliviar a experiência dos
visitantes, para que a carga da guerra e da violência fiquem de lado e se
cultive a paz.
“A gente teve o cuidado de não endeusar a guerra. O contraponto da guerra é a
paz. Não é que a gente está querendo dizer: 'ah, que legal, teve a guerra'.
Não, teve guerra porque houve uma situação no mundo que precisou mudar. Se o
Nazismo toma conta do mundo, imagine a tragédia. Já foi uma tragédia em si, com
60 milhões de mortes entre militares e civis”, disse Crispiniano Neto.
Ele lembra das dezenas de guerras espalhadas pelo mundo em andamento neste
momento, para reforçar essa reflexão no público. O diretor ainda disse que as
exposições são temporárias, até que haja uma definição para a implementação
definitiva do Complexo da Rampa, após o cancelamento do acordo anterior.
“Daqui a alguns meses vamos
ver o espaço de Augusto Severo, museu da aviação, que fica no outro prédio.
Agora é uma questão de consolidação, o Museu da Rampa está aberto, o start já
foi dado”, afirmou o diretor.
Museu traz telas com Natal do século XX
Para finalizar o passeio, o
último ambiente é uma exposição de pinturas do artista visual potiguar Pedro G
rilo, morto no ano passado. São cerca de 60 quadros que representam uma Natal
provinciana do século XX, que conecta o visitante à capital potiguar da época
temática do museu.
A responsável pela curadoria é a presidente da Sociedade dos Poetas Vivos e
Afins, Adélia Costa, que também era amiga do artista. Ela diz que os quadros
mostram uma Natal que não existe mais.
“Ele pintou Rocas, Ribeira, muitos monumentos que não existem mais, muitos
ligados a questão do Rio Potengi, onde girava toda a industrialização e
modernização de tecnologia, em primeiro momento pelos trens e também com os
hidroaviões”, destacou Adélia Costa.
Quem for visitar ainda pode conferir o pôr do sol de um dos lugares mais
privilegiados de Natal. Quem esteve no Museu da Rampa no dia da inauguração foi
o bugueiro e guia turístico Roberto Lira. E ele gostou do que viu, tanto que
agora leva os seus clientes para conhecer.
Nessa terça, ele levou o turista paraguaio Ricardo Ortiz. “É um espetáculo.
Precisava ter isso e aberto ao público. Ele, que é paraguaio vai conhecer um
pouco da nossa história, isso aqui é nossa história e culturar”, declarou o
bugueiro.
Serviço
Exposições no Museu da Rampa
Quando: aberto de terça a domingo
Horário: das 10h às 17h para visitação das exposições (até às 18h para ver o
pôr do sol)
Entrada: Gratuita

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