Apesar da intenção da
Prefeitura de Parnamirim de transformar o “buraco azul” em um ponto turístico,
o destino do aquífero de cor azul-turquesa ainda é incerto. Isso porque há um
impasse do Município com a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte
(Caern) e o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (Idema), que
orientam pela continuidade da obra de saneamento. Enquanto não há definição, o
“lago” segue atraindo quem passa pela região. A parada para uma selfie no local
é quase obrigatória.
Na última quinta-feira (2), o
prefeito da cidade, Rosano Taveira, anunciou a pretensão de transformar o local
em um balneário turístico e designou a Secretaria de Obras para analisar a
possibilidade. Nesta segunda-feira (6), o Executivo confirmou que está
trabalhando no projeto. “Até o momento não decidimos, estamos em fase de
análise. A partir da análise apresentada estamos considerando a possibilidade
de tornar o lugar um ponto turístico”, informou a Prefeitura em nota enviada à
TRIBUNA DO NORTE.
A obra que “deu origem” ao aquífero foi paralisada e é uma etapa do projeto de
implantação do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) de Parnamirim, que
começou em 2018. O “buraco azul” foi descoberto durante escavações para
construção de uma Estação Elevatória de Esgotos (EEE) tocadas pela Caern. De
acordo com a companhia, o custo global do serviço é de R$ 196 milhões entre
recursos federais, do Município e da Caern. Ainda segundo o órgão, a ideia é
que Parnamirim saia dos atuais 5% de cobertura de esgoto para 70% com a
conclusão da obra. Segundo a Prefeitura, a paralisação não afeta o saneamento e
permanece dentro do cronograma, que prevê testes neste ano.
A necessidade de sanear a cidade alinhada com impactos financeiros e ambientais
são fatores que pesam para a Caern orientar pela continuidade da obra, diz o
diretor-presidente do órgão Roberto Linhares. “Aquela obra tem um custo de R$
196 milhões. São R$ 120 milhões do Orçamento Geral da União, que não reajusta
se atrasar, R$ 55 milhões do Fundo de Garantia que o Município paga num
financiamento, que também não reajusta nada se atrasar e R$ 21 milhões da
Caern. Ou seja, se atrasa um mês essa obra dá algo em torno de R$ 2 milhões de
reajuste adicional. Seis meses daria R$ 12 milhões, por exemplo”, destaca.
Ele acrescenta que caso a obra seja realocada e postergada por mais seis meses,
o reajuste seria de até R$ 26 milhões. “Se não continuar a obra e tiver que
levar a Estação para outro local, vai ter que instalar as redes, que são
quilômetros de rede, nesse novo local. Teria um custo, por baixo, de R$ 20
milhões a R$ 26 milhões. Se tiver que mudar para outro local, muda projeto,
adequação de licença”, afirma Roberto Linhares.
O Idema segue o entendimento da Caern. Para o órgão ambiental, a preservação do
aquífero passa pela continuidade da obra. O instituto reforça que não recebeu
nenhum tipo de pedido de readequação de licença para transformar o local em
ponto turístico por parte da Prefeitura de Parnamirim. Até o momento, a
manifestação partiu do prefeito Rosano Taveira durante a leitura anual na
Câmara Municipal. “A ideia é que ali seja um ponto turístico de Parnamirim. Com
certeza, a população merece”, alegou Taveira.
O Idema compreende que “o mais adequado para preservar a qualidade ambiental do
aquífero é manter a obra prevista”. O Instituto de Desenvolvimento Econômico e
Meio Ambiente do Rio Grande do Norte esclarece ainda que “até o momento a
prefeitura de Parnamirim não deu entrada em nenhum pedido para a abertura de
novo processo de licenciamento ambiental, para transformar a obra de
esgotamento sanitário, localizada na Av. João Paulo Segundo, em um balneário
turístico”.
Caern e Idema convergem também nas implicações ambientais. Segundo os órgãos, o
aquífero aflorou em uma região que possui muitos esgotos a céu aberto, com
infiltrações condominiais através de fossas sépticas e sumidouros que podem
contaminar a água com nitrato. Além disso, a transformação em um balneário pode
poluir a “lagoa”. O “buraco azul” surgiu em Parnamirim, na Grande Natal, no
último dia 25 de janeiro. O aquífero está localizado na Rua João Paulo II,
bairro Nova Esperança, em uma área de expansão urbana da cidade.
“Em Natal, por exemplo, nós tivemos que fechar 78 poços pela contaminação com nitrato. Os poços de Natal ficam a 50, 60 metros de profundidade. Lá a gente viu o lençol aflorar – que é normal numa obra de esgotamento – a dez metros. A consequência é uma água de excelente qualidade, sem contaminante nenhum, praticamente igual à água mineral, pode vir a ser contaminada por nitrato”, explica Roberto Linhares.
“Não para de aparecer gente”, diz moradora
É comum que moradores,
motoristas e motociclistas deem uma paradinha no local para observar a água de
cor azulada e garantir uma foto. O açougueiro José Jorge de Lima diz que sempre
passava pela região e via o local isolado, mas agora resolveu parar para
conferir o “tal do buraco azul que tanto falam”. Vindo do distrito de
Japecanga, ele aproveitou para trazer parte da família chegada de São Pedro, no
Agreste Potiguar, para conhecer o aquífero.
“Moro em Parnamirim há muito tempo, passava por aqui e via a área isolada aqui
por causa da obra. Depois que apareceu essa lagoa a gente ouviu falar muito.
Aproveitei e trouxe aqui os rapazes para conhecer porque eles queriam tirar
foto, ver como era de perto. Eu acho muito interessante porque é um negócio
natural, o pessoal estava cavando e apareceu esse lago dessa cor. É muito
bonito mesmo vendo assim de perto”, comenta Jorge.
Já Maria Aparecida, moradora do condomínio que fica na frente do novo ponto
famoso, diz que está ansiosa para uma definição sobre o “lago azul”. Ela diz
que nunca viu tanta gente na porta de casa e torce para que o local seja
transformado em um ponto de turismo e lazer. “Moro aqui há 11 anos e a gente
sempre pedia atenção aqui para a região, construir uma praça, uma academia de
bairro, mas não tinha. Agora com esse buraco pode ser que isso vá para a
frente. Desde que isso apareceu não para de passar gente aqui. É gente de todo
canto, um passa-passa de carro e moto”, diz.
Na segunda-feira (6), homens trabalhavam no isolamento do local. A ideia é
evitar que pessoas invadam o local e pulem na água. “O pessoal não respeita a
sinalização e quer pular na água e ainda desrespeita quem está trabalhando. A
pessoa vir aqui, olhar, tirar uma foto tudo bem, agora tomar banho não pode”,
diz um dos trabalhadores do local.
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