A Polícia Federal (PF) segue
tentando identificar o homem que destruiu um relógio de grande valor histórico
durante o ataque ao Palácio do Planalto, em Brasília, no último dia 8. Imagens
das câmeras de segurança internas registraram o momento em que o homem acessa o
terceiro andar do palácio, onde fica o gabinete presidencial, e lança ao chão a
peça que Dom João VI trouxe ao Brasil em 1808, ao transferir a Corte portuguesa
para o país, fugindo das tropas de Napoleão.![]()
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Exibidas pelo programa
Fantástico, da Globo, no último domingo, as imagens do sistema de segurança
expõem o rosto do vândalo e viralizaram nas redes sociais
Fotógrafos da Agência Brasil que
cobriam os atos antidemocráticos do último dia 8 registraram o mesmo homem
enfrentando as forças de segurança ainda do lado de fora do Palácio do
Planalto, na Praça dos Três Poderes. Em uma imagem do repórter fotográfico
Marcelo Camargo, da Agência
Brasil, o homem aparece em primeiro plano, em meio a outras
pessoas que enfrentavam a polícia. Ao fundo, é possível ver o prédio do STF já
depredado, com várias vidraças quebradas e pichadas. A Agência Brasil é
uma agência pública de notícias mantida pela Empresa Brasil de
Comunicação (EBC),
Quem tiver alguma informação
sobre a identidade do homem ou de outras pessoas que tenham participado do
ataque ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal
(STF) pode fazer denúncias por meio do e-mail criado pelo Ministério da Justiça
e Segurança Pública para receber informações. O e-mail é o denuncia@mj.gov.br.
Valor histórico e simbólico
O relógio de pêndulo destruído
é atribuído ao famoso relojoeiro francês Balthazar Martinot. Embora Martinot
tenha produzido várias peças para a corte francesa, apenas dois exemplares
resistiram ao tempo – um deles, o que foi dado de presente a dom João VI e
trazido ao Brasil em 1808. O outro está guardado no Palácio de Versalhes,
em Paris.
De acordo com o diretor de
Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, o valor material do
relógio destruído é enorme, mas seu valor histórico e simbólico é ainda maior.
Segundo Carvalho, é possível restaurar a peça, mas a eficácia do serviço é
incerta.
“Tudo pode ser recuperado, mas
não necessariamente de forma integral. Estamos acertando quem vai executar o
restauro. Já recebemos algumas ofertas de cooperação técnica e só saberemos o
quanto dele poderá ser restaurado quando finalizarmos estas conversas”, disse
Carvalho à Agência Brasil, confirmando que o relógio já não funcionava.
“Em 2010, fizemos uma
tentativa, mas os relojoeiros que tentaram não conseguiram fazer com que ele
funcionasse, pois é um mecanismo muito específico e antigo”, acrescentou
Carvalho, explicando que, por este motivo, o relógio não estava marcando a hora
certa quando foi arremessado ao chão.
A diferença, percebida por
pessoas que assistiram as cenas gravadas pelo sistema de segurança do Palácio
do Planalto, motivou muitos internautas a divulgarem, nas redes sociais, que o
homem ainda não identificado seria um “infiltrado” no movimento golpista e
antidemocrático que teve acesso ao Palácio horas antes da multidão chegar a
Praça dos Três Poderes e invadir os prédios públicos.
“Isso é coisa de gente que não
tem o que fazer ou coisa pior. O relógio não estava funcionando. Por isso
estava marcando a hora errada. Desde ontem, tenho respondido isso a vários
jornalistas, desmentindo estas fake news, que são um problema, porque depois
que são lançadas, alcançam um grande número de pessoas e, depois, fica muito
difícil desmenti-la para todos”, frisou Carvalho.
Os estragos ao patrimônio
artístico e arquitetônico durante o último dia 8 foram enormes. Só no
Palácio do Planalto, um balanço preliminar apontou danos em uma tela do pintor
Di Cavalcanti, As Mulatas, cujo valor está estimado em cerca de R$ 8
milhões. Ao menos duas importantes esculturas foram danificadas: O
Flautista, de Bruno Giorgi, cujos pedaços foram espalhados pelo salão do
terceiro andar, e uma peça de Frans Krajcberg, cujas partes em madeira foram
quebradas e lançadas longe.
Uma mesa usada pelo
ex-presidente da República Juscelino Kubitscheck que estava exposta no mesmo
salão também foi danificada ao ser usada como barricada. Além disso,
muitos quadros pendurados nos corredores dos três andares foram quebrados ou
rasurados e, em muitos casos, não foi possível avaliar a dimensão do dano.
Para Carvalho, parte das obras
destruídas ou estragadas pode, futuramente, vir a compor uma espécie de
memorial dedicado a lembrar o mais grave ataque às instituições democráticas
brasileiras, mas, a seu ver, isso não impede que elas sejam restauradas, sem
perder suas características.
“A ideia de um memorial é
muito importante, mas não vejo necessidade de manter os objetos
desconfigurados. Tendo a concordar com a importância de expor todas as marcas
do tempo, mas, se possível, preservando o funcionamento [ou características
essenciais] de cada objeto. Em relação ao relógio [de Martinot], o que pretendo
é que ele fique disponível para a população, no próprio Palácio do Planalto, e
restaurado até onde seja possível”, acrescentou o diretor de Curadoria dos
Palácios Presidenciais.
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