A inovação funciona por meio
de um conjunto de pequenos pontos distribuídos ao longo de um arco semicircular
no braille. A posição desses pontos no arco define a cor: se estiver no início,
corresponde a uma cor, e conforme se move para o meio do arco, outra cor é
identificada. A espessura da linha em relevo também desempenha um papel
importante: uma linha mais grossa representa uma cor mais escura, enquanto uma
linha mais fina indica uma cor mais clara. Todo o processo é informatizado,
permitindo uma interpretação precisa e tátil das cores e suas intensidades por
pessoas com cegueira ou baixa visão.
A nova tecnologia é descrita
como mais acessível e intuitiva do que tecnologias como See Color e Color ADD –
sistemas de codificação de cores desenvolvidos para ajudar pessoas com
deficiência visual. Ela permite integrar informações sobre cor e textura diretamente
no sistema Braille, sem a necessidade de legendas ou recursos adicionais.
“No braille, quando você fala
em materiais se cria uma legenda. E essa legenda, geralmente, é lá no final da
folha. Então, a pessoa está lá lendo esse material, aí tem que ir lá embaixo
para poder ler a legenda, para poder entender o que estava se falando. O
sistema torna a leitura mais fluida. A pessoa vai poder ler e já encontrar a
informação da cor e textura”, afirmou o servidor técnico da UFRN, Kleison
Leopoldino, um dos inventores do projeto.
A tecnologia não só facilita a
identificação de cores, mas também a percepção das texturas dos materiais,
proporcionando uma experiência tátil completa. O sistema foi projetado para ser
integrado a outras ferramentas existentes, como os sistemas See Color e
ColorADD. “A gente conseguiu um sistema que abrange mais cores, abrange mais
intensidades”, disse Isaac Bezerra, doutorando em materiais e um dos
responsáveis pelo desenvolvimento da invenção.
A ideia para o desenvolvimento
dessa tecnologia surgiu de uma necessidade observada em ambientes como
laboratórios e áreas de desenvolvimento de novos materiais, como plásticos ou
biofilmes. “Quando estamos desenvolvendo novos tipos de plásticos ou biofilmes,
como ocorre na área de nutrição, surgem materiais que, para uma pessoa com
cegueira, não têm um referencial tátil”, explicou Leopoldino.
De acordo com ele, a falta de
um referencial tátil é um grande desafio, especialmente em ambientes
industriais ou científicos, onde novos materiais estão constantemente sendo
criados. Enquanto um indivíduo vidente pode observar visualmente um material e identificar
informações com base na sua aparência, a pessoa cega não possui esse acesso. “A
gente consegue colocar um sistema tátil dentro do próprio texto Braille para
que a pessoa tenha uma experiência completa”, disse o servidor.
O sistema não só foca na
percepção tátil, mas também inclui a identificação de cores, um elemento
crucial em muitos contextos de análise e trabalho, como na indústria e nas
ciências.
A invenção foi registrada como
patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em julho
deste ano.
Apesar de ainda não ter uma
data definida para ser lançada ao público, a expectativa é de que, em breve, a
população tenha acesso à inovação. “Nosso objetivo não é de nível financeiro, é
disponibilizar uma tecnologia que ajude as pessoas”, concluiu Isaac Bezerra,
que informou que o produto pretende ser disponibilizado gratuitamente.
Ele afirma que o sistema tem
uma aplicação vasta, tanto a nível nacional quanto internacional, devido à sua
flexibilidade. “O sistema é facilmente adaptável para outras linguagens
internacionais”, comenta.
Segundo ele, o produto está em
estágio de desenvolvimento e a validação já foi alcançada. “A validação já
chegou. TRL 7, os estágios finais.” O nível TRL (Technology Readiness Level) 7
indica que a tecnologia já está em um estágio avançado e pronta para ser
aplicada em um ambiente real, com a eficácia já confirmada em testes práticos.
Com isso, ele adianta que o
próximo passo é a disponibilização pública da tecnologia, observando que o
sistema está próximo de ser lançado. “TRL 8 já é pra gente deixar disponível
para todos. Então, tecnicamente, ao chegar ao TRL 8, a tecnologia poderá ser
disponibilizada para os que desejarem. E a ideia é de vasta adaptação para
outras línguas, além da nacional”, conclui.
Não enxergar cores e texturas
é um obstáculo
A falta de acesso a cores e
texturas pode transformar a percepção do mundo de uma pessoa com deficiência
visual, limitando sua interação com o ambiente. A estudante de psicologia
Albanizia Campelo é deficiente visual e foi uma das autoras da invenção.
Ela conta que identificar
texturas e cores dificulta tarefas simples da rotina, como comprar produtos de
higiene pessoal: “Se tem dois frascos de xampu. Um é branco, o outro é amarelo.
A gente não tem acesso a essa informação da cor. Então, se você me disser
assim, pegue aquele vidro vermelho. Eu não consegui pegar”, exemplificou.
O sistema é de fácil
aprendizado e pode ser facilmente integrado à educação de pessoas com
deficiência visual, incluindo ambientes escolares. “É muito prático, muito
intuitivo. A informação, de fato, chega”, afirmou a cientista. Durante todo o
processo de pesquisa, o produto foi testado por Albanizia Campelo garantindo
que atendesse às suas necessidades específicas.
Tribuna do Norte
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