quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Tecnologia permite que pessoas com deficiência visual identifiquem cores

Um grupo da UFRN desenvolveu uma tecnologia voltada para ajudar pessoas com deficiência visual a identificar cores e texturas. Utilizando um sistema tátil que incorpora braille e diferentes texturas, a tecnologia pode ser aplicada em diversas áreas, como o ensino de artes, laboratórios científicos, ambientes industriais e até a tarefas do dia a dia. O sistema permite que deficientes visuais tenham acesso a informações sobre cores e texturas de maneira sensorial.

A inovação funciona por meio de um conjunto de pequenos pontos distribuídos ao longo de um arco semicircular no braille. A posição desses pontos no arco define a cor: se estiver no início, corresponde a uma cor, e conforme se move para o meio do arco, outra cor é identificada. A espessura da linha em relevo também desempenha um papel importante: uma linha mais grossa representa uma cor mais escura, enquanto uma linha mais fina indica uma cor mais clara. Todo o processo é informatizado, permitindo uma interpretação precisa e tátil das cores e suas intensidades por pessoas com cegueira ou baixa visão.

A nova tecnologia é descrita como mais acessível e intuitiva do que tecnologias como See Color e Color ADD – sistemas de codificação de cores desenvolvidos para ajudar pessoas com deficiência visual. Ela permite integrar informações sobre cor e textura diretamente no sistema Braille, sem a necessidade de legendas ou recursos adicionais.

“No braille, quando você fala em materiais se cria uma legenda. E essa legenda, geralmente, é lá no final da folha. Então, a pessoa está lá lendo esse material, aí tem que ir lá embaixo para poder ler a legenda, para poder entender o que estava se falando. O sistema torna a leitura mais fluida. A pessoa vai poder ler e já encontrar a informação da cor e textura”, afirmou o servidor técnico da UFRN, Kleison Leopoldino, um dos inventores do projeto.

A tecnologia não só facilita a identificação de cores, mas também a percepção das texturas dos materiais, proporcionando uma experiência tátil completa. O sistema foi projetado para ser integrado a outras ferramentas existentes, como os sistemas See Color e ColorADD. “A gente conseguiu um sistema que abrange mais cores, abrange mais intensidades”, disse Isaac Bezerra, doutorando em materiais e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da invenção.

A ideia para o desenvolvimento dessa tecnologia surgiu de uma necessidade observada em ambientes como laboratórios e áreas de desenvolvimento de novos materiais, como plásticos ou biofilmes. “Quando estamos desenvolvendo novos tipos de plásticos ou biofilmes, como ocorre na área de nutrição, surgem materiais que, para uma pessoa com cegueira, não têm um referencial tátil”, explicou Leopoldino.

De acordo com ele, a falta de um referencial tátil é um grande desafio, especialmente em ambientes industriais ou científicos, onde novos materiais estão constantemente sendo criados. Enquanto um indivíduo vidente pode observar visualmente um material e identificar informações com base na sua aparência, a pessoa cega não possui esse acesso. “A gente consegue colocar um sistema tátil dentro do próprio texto Braille para que a pessoa tenha uma experiência completa”, disse o servidor.

O sistema não só foca na percepção tátil, mas também inclui a identificação de cores, um elemento crucial em muitos contextos de análise e trabalho, como na indústria e nas ciências.

A invenção foi registrada como patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em julho deste ano.

Apesar de ainda não ter uma data definida para ser lançada ao público, a expectativa é de que, em breve, a população tenha acesso à inovação. “Nosso objetivo não é de nível financeiro, é disponibilizar uma tecnologia que ajude as pessoas”, concluiu Isaac Bezerra, que informou que o produto pretende ser disponibilizado gratuitamente.

Ele afirma que o sistema tem uma aplicação vasta, tanto a nível nacional quanto internacional, devido à sua flexibilidade. “O sistema é facilmente adaptável para outras linguagens internacionais”, comenta.

Segundo ele, o produto está em estágio de desenvolvimento e a validação já foi alcançada. “A validação já chegou. TRL 7, os estágios finais.” O nível TRL (Technology Readiness Level) 7 indica que a tecnologia já está em um estágio avançado e pronta para ser aplicada em um ambiente real, com a eficácia já confirmada em testes práticos.

Com isso, ele adianta que o próximo passo é a disponibilização pública da tecnologia, observando que o sistema está próximo de ser lançado. “TRL 8 já é pra gente deixar disponível para todos. Então, tecnicamente, ao chegar ao TRL 8, a tecnologia poderá ser disponibilizada para os que desejarem. E a ideia é de vasta adaptação para outras línguas, além da nacional”, conclui.

Não enxergar cores e texturas é um obstáculo

A falta de acesso a cores e texturas pode transformar a percepção do mundo de uma pessoa com deficiência visual, limitando sua interação com o ambiente. A estudante de psicologia Albanizia Campelo é deficiente visual e foi uma das autoras da invenção.

Ela conta que identificar texturas e cores dificulta tarefas simples da rotina, como comprar produtos de higiene pessoal: “Se tem dois frascos de xampu. Um é branco, o outro é amarelo. A gente não tem acesso a essa informação da cor. Então, se você me disser assim, pegue aquele vidro vermelho. Eu não consegui pegar”, exemplificou.

O sistema é de fácil aprendizado e pode ser facilmente integrado à educação de pessoas com deficiência visual, incluindo ambientes escolares. “É muito prático, muito intuitivo. A informação, de fato, chega”, afirmou a cientista. Durante todo o processo de pesquisa, o produto foi testado por Albanizia Campelo garantindo que atendesse às suas necessidades específicas.

Tribuna do Norte

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