domingo, 5 de outubro de 2025

Produtos zero calorias nem sempre são saudáveis, alertam especialistas

Os alimentos “zero” conquistaram as prateleiras e se tornaram presença constante na rotina de quem busca emagrecimento ou uma alimentação mais equilibrada. Porém, especialistas alertam: zero nem sempre é sinônimo de saudável. Muitos desses produtos contêm aditivos químicos, e o consumo excessivo ou sem orientação de um nutricionista pode trazer efeitos adversos à saúde, como enxaqueca, gastrite e até aumento de risco para doenças mais graves.

Apesar de muitos consumidores associarem produtos “zero” ou “fit” a escolhas mais saudáveis, a realidade é mais complexa. Esses alimentos rotulados como zero lactose, zero gordura, zero calorias, muitas vezes são vistos pelos consumidores como sinônimo de um alimento saudável e, na verdade, não é assim”, explicou a nutricionista Leticya Almeida.

Muitas vezes, a indústria retira o açúcar de um alimento para classificá-lo como zero açúcar, mas, para compensar sabor e textura, acaba aumentando outros ingredientes, como sódio ou gordura. “É muito importante ter atenção na embalagem do produto. A gente sabe que a indústria está aí com marketing bem pesado, apelativo e chamativo, então ler de fato e ter atenção à embalagem do produto é muito importante”, aconselha.

Um exemplo são os aditivos alimentares, como os edulcorantes — naturais ou sintéticos — que conferem sabor doce aos alimentos e bebidas. De forma geral, quando usados de maneira indiscriminada, em grandes quantidades ou com frequência excessiva, ingredientes como esses podem trazer prejuízos à saúde.

Segundo a endocrinologista Anna Karina, presidente da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia RN (SBEM/RN), em alimentos zero, o açúcar é geralmente substituído por adoçantes, que podem ser artificiais ou naturais. “Muitas vezes esse adoçante é considerado um remédio, então, como todo remédio, ele pode ter efeitos positivos e negativos”, explica.

A especialista lembra que adoçantes em altas quantidades podem causar efeitos colaterais e até prejudicar a saúde. Ela cita exemplos de tipos de adoçantes: a sacarina já foi associada ao câncer de bexiga, o aspartame pode aumentar o risco de enxaqueca e há estudos que indicam potencial ligação com Alzheimer ou quadros de Parkinson, e a sucralose, antes considerada mais segura, pode alterar e causar desequilíbrio da microbiota intestinal.

Débora Campos, de 23 anos, iniciou uma dieta por conta própria para melhorar a saúde. Ela lembra que costumava consumir refrigerantes e biscoitos regularmente e, por não conseguir ficar sem, passou a substituí-los por produtos light. “Para mim, quando olho escrito zero já acho que está tudo bem para a minha saúde e como sem culpa”, conta enquanto escolhe um lanche zero nas prateleiras do mercado.

Maria de Fátima Xavier, 63 anos, diz que se sente mais saudável comendo produtos light. “Quando eu chego no mercado, é o que eu procuro mais. As coisas light, zero açúcar, esse tipo de coisa. Consigo conciliar com frutas, mas gosto de light”, disse enquanto fazia compras em um supermercado no Alecrim.

Produtos low carb também podem ser um risco para o organismo se usados com frequência. Anna Karina explica que o cérebro depende principalmente de carboidratos como fonte de energia. “O cérebro não consegue metabolizar muito bem a gordura e a proteína para gerar energia. Quando estamos pensando, raciocinando, usando nossa mente, ele precisa de carboidrato”, afirma.

Segundo ela, o foco deve ser na redução do açúcar simples e de farinhas refinadas, enquanto carboidratos complexos, como arroz integral, frutas e legumes, são bem-vindos. “Tirar o açúcar simples contribui para a perda de peso, mas não podemos eliminar todos os carboidratos. O ideal é uma dieta low carb equilibrada”, explica.

Ela orienta que dietas extremamente restritivas, como a zero carboidrato, devem durar no máximo cinco dias, após os quais é essencial reintroduzir carboidratos saudáveis, como frutas, legumes e cereais integrais. “Esses carboidratos complexos são metabolizados mais lentamente, evitando picos de açúcar no sangue”, afirma.

Sobre as orientações para uma alimentação saudável, a nutricionista Leticya Almeida recomenda que os alimentos zero sejam usados com moderação e de forma estratégica, em momentos pontuais. “A base da alimentação deve ser alimentos naturais, minimamente processados, in natura, como as frutas, os legumes, os grãos, as proteínas magras. Não deve ser substituída de forma alguma por alimentos que são rotulados como zero. Deve entrar aí como um complemento em um contexto que já deve estar organizado”, informou.

Emagrecer

Para perder peso, a endocrinologista defende a importância de diferenciar o que é saudável do que ajuda a perder peso. “Um suco de laranja puro, por exemplo, é altamente saudável, mas um copo de 200 ml tem mais calorias que um copo de refrigerante. Então, ser saudável não significa necessariamente ser baixo em calorias”, explica.

Ela ressalta que, para perder peso de forma eficaz, é necessário criar um déficit calórico — ingerir menos do que se gasta. “O ideal é que o paciente faça uma dieta equilibrada, adaptada às suas necessidades, incluindo produtos saudáveis que promovam tanto a saúde quanto a perda de peso”, orienta.

Nem sempre alimentos saudáveis são aliados na perda de peso, é preciso fazer escolhas corretas. “Uma manga, por exemplo, é rica em fibras e vitaminas como A e C, então é altamente saudável, mas também é calórica”, afirma. Por isso, os pacientes devem buscar orientação nutricional especializada.

Industrializados diet também podem não ajudar no emagrecimento. “O próprio chocolate diet, por exemplo, pode ter mais calorias do que outro chocolate tradicional. Por isso, se o paciente quer perder peso ou ter uma dieta saudável, o ideal é procurar um nutricionista para elaborar um plano personalizado”, orienta. Ela reforça que não existe uma receita única para todos e que a dieta deve respeitar o gosto de cada pessoa, tornando a alimentação um ato prazeroso.

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O açúcar é geralmente substituído por adoçantes, que podem ser artificiais ou naturais. Pode haver efeitos negativos | Foto: Magnus Nascimento

Alimentos zero açúcar são indicados para diabéticos

Para pessoas com diabetes ou pré-diabetes, os alimentos zero açúcar podem ser bastante úceis, mas seu consumo precisa ser avaliado individualmente, segundo especialistas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que adoçantes e produtos zero açúcar não sejam utilizados como estratégia para controle de peso ou prevenção de doenças não transmissíveis (DNTs). A orientação, porém, não se aplica a pessoas com diabetes, que podem consumir esses produtos com moderação para reduzir calorias e carboidratos na alimentação.

A nutricionista Leticya Almeida explica que a alimentação deve priorizar alimentos naturais e considerar todo o contexto do indivíduo, incluindo a ingestão de fibras, carboidratos, gorduras e o índice glicêmico das refeições. “Mesmo para quem tem diabetes, o foco não deve ser apenas consumir alimentos zero açúcar, mas equilibrar os nutrientes, controlar as porções, evitar ultraprocessados e construir uma base alimentar sólida que auxilie no controle da doença”, afirma.

Em alguns casos, os alimentos zero açúcar podem trazer benefícios específicos para a saúde, mas ainda exigem atenção quanto à sua composição. “Uma pessoa que tem diabetes e precisa ter um controle glicêmico ali maior e acaba consumindo um alimento zero açúcar. Isso é muito positivo. Porém, não é sinônimo de um alimento saudável”, relata.

Ela reforça que o consumo desses produtos pode fazer parte de um plano alimentar individualizado e sempre com acompanhamento de um profissional de nutrição: “O consumo dos alimentos zero pode fazer parte de um plano alimentar individualizado, mas ele deve ser muito bem estruturado”.

Adjeilza Queiroz tem uma filha de 20 anos com diabetes. Para acompanhar a saúde da filha, ela realiza regularmente o exame de hemoglobina glicada, que verifica como o corpo está reagindo à alimentação e permite ajustar a dieta conforme necessário.

A mãe relata dificuldades em encontrar produtos zero açúcar que sejam realmente saudáveis. “Eu acho que o mercado precisa oferecer mais opções saudáveis. Costumo ler o rótulo para analisar a quantidade de carboidratos, porque muitos produtos diet têm um teor altíssimo, o que também impacta no valor do açúcar”, conta.

Leticya Almeida alerta que é preciso avaliar a lista de ingredientes, procurando produtos com menos componentes e mais próximos do natural. “A lista de ingredientes está em ordem decrescente de quantidade. Então, por exemplo, o primeiro ingrediente que aparece na lista é o que está presente em maior quantidade e o último em menor quantidade. Observar também a tabela nutricional ajuda a entender a quantidade de fibras, carboidratos e gorduras presentes”, explicou a especialista.

A endocrinologista Anna Karina explica que, para pacientes diabéticos, o uso de produtos zero açúcar é indicado, pois o açúcar tradicional eleva a glicemia, causa inflamação e pode agravar doenças associadas à metabolização da glicose. “Esse paciente diabético tem um defeito na metabolização dessa glicose. Então para esse paciente realmente vale a pena usar o alimento zero açúcar.”

Tribuna do Norte

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