Apesar de muitos consumidores
associarem produtos “zero” ou “fit” a escolhas mais saudáveis, a realidade é
mais complexa. Esses alimentos rotulados como zero lactose, zero gordura, zero
calorias, muitas vezes são vistos pelos consumidores como sinônimo de um
alimento saudável e, na verdade, não é assim”, explicou a nutricionista Leticya
Almeida.
Muitas vezes, a indústria
retira o açúcar de um alimento para classificá-lo como zero açúcar, mas, para
compensar sabor e textura, acaba aumentando outros ingredientes, como sódio ou
gordura. “É muito importante ter atenção na embalagem do produto. A gente sabe
que a indústria está aí com marketing bem pesado, apelativo e chamativo, então
ler de fato e ter atenção à embalagem do produto é muito importante”,
aconselha.
Um exemplo são os aditivos
alimentares, como os edulcorantes — naturais ou sintéticos — que conferem sabor
doce aos alimentos e bebidas. De forma geral, quando usados de maneira
indiscriminada, em grandes quantidades ou com frequência excessiva, ingredientes
como esses podem trazer prejuízos à saúde.
Segundo a endocrinologista
Anna Karina, presidente da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia RN
(SBEM/RN), em alimentos zero, o açúcar é geralmente substituído por adoçantes,
que podem ser artificiais ou naturais. “Muitas vezes esse adoçante é considerado
um remédio, então, como todo remédio, ele pode ter efeitos positivos e
negativos”, explica.
A especialista lembra que
adoçantes em altas quantidades podem causar efeitos colaterais e até prejudicar
a saúde. Ela cita exemplos de tipos de adoçantes: a sacarina já foi associada
ao câncer de bexiga, o aspartame pode aumentar o risco de enxaqueca e há
estudos que indicam potencial ligação com Alzheimer ou quadros de Parkinson, e
a sucralose, antes considerada mais segura, pode alterar e causar desequilíbrio
da microbiota intestinal.
Débora Campos, de 23 anos,
iniciou uma dieta por conta própria para melhorar a saúde. Ela lembra que
costumava consumir refrigerantes e biscoitos regularmente e, por não conseguir
ficar sem, passou a substituí-los por produtos light. “Para mim, quando olho
escrito zero já acho que está tudo bem para a minha saúde e como sem culpa”,
conta enquanto escolhe um lanche zero nas prateleiras do mercado.
Maria de Fátima Xavier, 63
anos, diz que se sente mais saudável comendo produtos light. “Quando eu chego
no mercado, é o que eu procuro mais. As coisas light, zero açúcar, esse tipo de
coisa. Consigo conciliar com frutas, mas gosto de light”, disse enquanto fazia
compras em um supermercado no Alecrim.
Produtos low carb também podem
ser um risco para o organismo se usados com frequência. Anna Karina explica que
o cérebro depende principalmente de carboidratos como fonte de energia. “O
cérebro não consegue metabolizar muito bem a gordura e a proteína para gerar
energia. Quando estamos pensando, raciocinando, usando nossa mente, ele precisa
de carboidrato”, afirma.
Segundo ela, o foco deve ser
na redução do açúcar simples e de farinhas refinadas, enquanto carboidratos
complexos, como arroz integral, frutas e legumes, são bem-vindos. “Tirar o
açúcar simples contribui para a perda de peso, mas não podemos eliminar todos
os carboidratos. O ideal é uma dieta low carb equilibrada”, explica.
Ela orienta que dietas
extremamente restritivas, como a zero carboidrato, devem durar no máximo cinco
dias, após os quais é essencial reintroduzir carboidratos saudáveis, como
frutas, legumes e cereais integrais. “Esses carboidratos complexos são metabolizados
mais lentamente, evitando picos de açúcar no sangue”, afirma.
Sobre as orientações para uma
alimentação saudável, a nutricionista Leticya Almeida recomenda que os
alimentos zero sejam usados com moderação e de forma estratégica, em momentos
pontuais. “A base da alimentação deve ser alimentos naturais, minimamente processados,
in natura, como as frutas, os legumes, os grãos, as proteínas magras. Não deve
ser substituída de forma alguma por alimentos que são rotulados como zero. Deve
entrar aí como um complemento em um contexto que já deve estar organizado”,
informou.
Emagrecer
Para perder peso, a
endocrinologista defende a importância de diferenciar o que é saudável do que
ajuda a perder peso. “Um suco de laranja puro, por exemplo, é altamente
saudável, mas um copo de 200 ml tem mais calorias que um copo de refrigerante.
Então, ser saudável não significa necessariamente ser baixo em calorias”,
explica.
Ela ressalta que, para perder
peso de forma eficaz, é necessário criar um déficit calórico — ingerir menos do
que se gasta. “O ideal é que o paciente faça uma dieta equilibrada, adaptada às
suas necessidades, incluindo produtos saudáveis que promovam tanto a saúde
quanto a perda de peso”, orienta.
Nem sempre alimentos saudáveis
são aliados na perda de peso, é preciso fazer escolhas corretas. “Uma manga,
por exemplo, é rica em fibras e vitaminas como A e C, então é altamente
saudável, mas também é calórica”, afirma. Por isso, os pacientes devem buscar
orientação nutricional especializada.
Industrializados diet também
podem não ajudar no emagrecimento. “O próprio chocolate diet, por exemplo, pode
ter mais calorias do que outro chocolate tradicional. Por isso, se o paciente
quer perder peso ou ter uma dieta saudável, o ideal é procurar um nutricionista
para elaborar um plano personalizado”, orienta. Ela reforça que não existe uma
receita única para todos e que a dieta deve respeitar o gosto de cada pessoa,
tornando a alimentação um ato prazeroso.
O açúcar é geralmente substituído
por adoçantes, que podem ser artificiais ou naturais. Pode haver efeitos
negativos | Foto: Magnus Nascimento
Alimentos zero açúcar são
indicados para diabéticos
Para pessoas com diabetes ou
pré-diabetes, os alimentos zero açúcar podem ser bastante úceis, mas seu
consumo precisa ser avaliado individualmente, segundo especialistas.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda que adoçantes e produtos zero açúcar não sejam utilizados como
estratégia para controle de peso ou prevenção de doenças não transmissíveis
(DNTs). A orientação, porém, não se aplica a pessoas com diabetes, que podem
consumir esses produtos com moderação para reduzir calorias e carboidratos na
alimentação.
A nutricionista Leticya
Almeida explica que a alimentação deve priorizar alimentos naturais e
considerar todo o contexto do indivíduo, incluindo a ingestão de fibras,
carboidratos, gorduras e o índice glicêmico das refeições. “Mesmo para quem tem
diabetes, o foco não deve ser apenas consumir alimentos zero açúcar, mas
equilibrar os nutrientes, controlar as porções, evitar ultraprocessados e
construir uma base alimentar sólida que auxilie no controle da doença”, afirma.
Em alguns casos, os alimentos
zero açúcar podem trazer benefícios específicos para a saúde, mas ainda exigem
atenção quanto à sua composição. “Uma pessoa que tem diabetes e precisa ter um
controle glicêmico ali maior e acaba consumindo um alimento zero açúcar. Isso é
muito positivo. Porém, não é sinônimo de um alimento saudável”, relata.
Ela reforça que o consumo
desses produtos pode fazer parte de um plano alimentar individualizado e sempre
com acompanhamento de um profissional de nutrição: “O consumo dos alimentos
zero pode fazer parte de um plano alimentar individualizado, mas ele deve ser
muito bem estruturado”.
Adjeilza Queiroz tem uma filha
de 20 anos com diabetes. Para acompanhar a saúde da filha, ela realiza
regularmente o exame de hemoglobina glicada, que verifica como o corpo está
reagindo à alimentação e permite ajustar a dieta conforme necessário.
A mãe relata dificuldades em
encontrar produtos zero açúcar que sejam realmente saudáveis. “Eu acho que o
mercado precisa oferecer mais opções saudáveis. Costumo ler o rótulo para
analisar a quantidade de carboidratos, porque muitos produtos diet têm um teor
altíssimo, o que também impacta no valor do açúcar”, conta.
Leticya Almeida alerta que é
preciso avaliar a lista de ingredientes, procurando produtos com menos
componentes e mais próximos do natural. “A lista de ingredientes está em ordem
decrescente de quantidade. Então, por exemplo, o primeiro ingrediente que aparece
na lista é o que está presente em maior quantidade e o último em menor
quantidade. Observar também a tabela nutricional ajuda a entender a quantidade
de fibras, carboidratos e gorduras presentes”, explicou a especialista.
A endocrinologista Anna Karina
explica que, para pacientes diabéticos, o uso de produtos zero açúcar é
indicado, pois o açúcar tradicional eleva a glicemia, causa inflamação e pode
agravar doenças associadas à metabolização da glicose. “Esse paciente diabético
tem um defeito na metabolização dessa glicose. Então para esse paciente
realmente vale a pena usar o alimento zero açúcar.”
Tribuna do Norte
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