Os testes foram realizados em
camundongos geneticamente modificados – mais suscetíveis ao vírus zika –, e
mostraram que a vacina induziu à produção de anticorpos que neutralizaram
o vírus. O imunizante também não permitiu que a infecção prosperasse,
levando a sintomas e lesões.
Os pesquisadores investigaram
ainda os efeitos da infecção pelo vírus zika em diversos órgãos de camundongos,
como rins, fígado, ovários, cérebro e testículos, com sucesso principalmente
nos dois últimos.
O imunizante usa plataforma do
tipo “partículas semelhantes ao vírus” (VLPs, da sigla em inglês de virus-like
particles), uma opção em outros imunizantes, como aqueles para Hepatite B e
para HPV. Com este tipo de produção a formulação dispensa substâncias que
potencializem resposta imune, os adjuvantes.
Biotecnologia
A equipe também adotou uma
estratégia de produção com biotecnologia, usando sistemas procarióticos, no
caso bactérias, que permitem produção alta, embora demandem atenção com
antitoxinas bacterianas.
A estratégia já havia sido usada pelo grupo na produção de uma vacina contra a
covid-19.
Gustavo Cabral de Miranda,
o médico que lidera o grupo de pesquisadores, esteve em Oxford entre 2014
e 2017 e participou da plataforma de desenvolvimento realizada pelo Instituto
Jenner. Deste grupo saiu a base da tecnologia adaptada com a empresa AstraZeneca,
um dos primeiros imunizantes ocidentais utilizados na pandemia de 2020.
"Lá estudamos o ChAdOx1
(um adenovírus de Chimpanzés alterado em laboratório) para aplicações em
malária, zika, chikungunya, entre outras. E isso gerou tanto conhecimento da
capacidade da tecnologia que, quando surgiu a pandemia, surgiu um financiamento
muito grande e a tecnologia avançou de maneira muito rápida em direção às
aplicações práticas", contou Miranda à Agência Brasil.
Ele explica que a tecnologia
costuma ser dividida, basicamente, em dois componentes: a partícula carreadora
(VLP), aquela que "chama a atenção" do sistema imune e é reconhecida
por ele como um vírus, e o antígeno viral, responsável por estimular o sistema
imune a produzir anticorpos específicos, que por sua vez impedirão a entrada do
patógeno nas células.
A estrutura usada foi o
antígeno EDIII, uma parte da proteína do envelope do vírus zika cuja função é
se conectar a um receptor nas células humanas.
Testes em humanos
O grupo busca financiamento
para as próximas fases de pesquisa, envolvendo populações humanas. Como isto
envolve milhões de reais, é um processo demorado.
Enquanto isso, testam outras
soluções, como vacinas de RNA mensageiro, além de diferentes estratégias
heterólogas e homólogas de imunização. As pesquisas, até o momento, tiveram
financiamento da agência estadual de pesquisas, a Fapesp.
"Toda e qualquer produção
vacina é um processo não tão simples. Para montar uma planta, como a gente diz
na ciência, montar uma fábrica de produção de vacina, sempre vai haver essa
necessidade de buscar mudanças. Hoje o mais comum são fábricas de vacinas
tradicionais. Então, naturalmente, o que tem mais chance de avançar são
pesquisas com vacinas tradicionais", explica Miranda.
O pesquisador explica ainda
que a tecnologia vem avançando. Segundo Miranda, fábricas capazes de
trabalhar com outras plataformas de imunizantes abrem um leque enorme, em
termos de tecnologia e de capacidade de resposta rápida, como ocorreu com a
pandemia de Covid-19.
"Eu citei a vacina de
adenovírus, enfim, esse é o nosso objetivo principal. O que desenvolvo é parte
do processo tecnológico para que a gente possa ter condições de produzir as
nossas vacinas aqui no Brasil. Se não for agora ou daqui a dez anos, mas que a
gente precisa ter essa continuidade, seja curto, médio ou longo
prazo."
Agência Brasil

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