Segundo dados do Observatório
Mais RN, da Federação das Indústrias do Estado (Fiern), as exportações totais
do RN para os Estados Unidos somaram US$ 67,1 milhões no primeiro semestre
deste ano, um crescimento de 120% no comparativo com o mesmo período de 2024,
quando as vendas de produtos potiguares aos EUA totalizaram US$ 30,5 milhões.
Em entrevista coletiva à
imprensa nesta quinta-feira (10), Roberto Serquiz, presidente da Fiern, disse
que a taxação vai provocar impactos significativos para a competitividade do
Estado. Serquiz externou preocupação especial com as exportações de petróleo,
uma vez que esse produto responde por 45% do PIB industrial do Rio Grande do
Norte, com crescimento significativo de vendas para o mercado americano no
comparativo entre o primeiros seis meses de 2024 e 2025.
“No ano passado, de janeiro a
junho, as vendas de petróleo para os Estados Unidos somaram US$ 4 milhões.
Neste ano, foram US$ 24 milhões no primeiro semestre, liderando nossa balança
comercial. Além disso, outros setores perdem totalmente a competitividade, como
o atum, cuja venda é 100% para os EUA. O sal também fica completamente sem
competitividade. Esse cenário é bastante preocupante. Esperamos um diálogo do
governo brasileiro para voltarmos a ter uma condição satisfatória”, afirmou
Serquiz ao lembrar que em abril o governo americano já havia taxado os produtos
brasileiros em 10%.
Com o cenário que se desenha a
partir do novo aumento tarifário, previsto para ser aplicado a partir de
agosto, as exportações do pescado potiguar – atum e meca – ficam inviáveis,
segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do Rio Grande do Norte
(Sindipesca-RN), Arimar Filho. “Nosso peixe é totalmente voltado para o mercado
americano. Diante disso, as empresas daqui já se adiantaram para antecipar o
máximo os embarques que podem ser agilizados àquele país”, informou o
presidente.
As vendas de itens como melão
e melancia aos Estados Unidos também se tornarão inviáveis, de acordo com Fábio
Queiroga, presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do RN (Coex). “As
exportações desses itens para os EUA representam cerca de 5% do que é vendido
para a Europa, nosso principal mercado, mas ainda assim há impactos de pequena
magnitude, porque os produtores estão receosos. Estamos na fase inicial de
plantio da próxima safra e a expectativa é reduzi-lo em cerca de 3%.
Felizmente, teremos uma produção 10% superior à da safra passada, então,
avaliamos esse impacto com sendo algo menor”, explica Queiroga.
A indústria salineira potiguar
também será impactada pela taxação dos EUA. O presidente do Sindicato da
Indústria de Sal do RN (Siesal), Airton Torres, disse que 25% da produção
salineira do Estado vai para o mercado norte-americano. “Estamos muito preocupados
com essa taxação. Se ela for mantida, vai ficar totalmente impossível continuar
exportando sal para os Estados Unidos. Isso terá um prejuízo grande, se
considerarmos que 25% de todo o sal que sai pelo Porto Ilha de Areia Branca vai
para os Estados Unidos. Estamos falando de uma perda de mercado da ordem de 500
mil toneladas/ano”, disse.
Para o vice-presidente da
Associação de Empresas Fornecedoras de Bens e Serviços para a Cadeia de
Petróleo, Gás, Petroquímica e Energia (RedePetro), Ubiratan Santos, o anúncio
da tarifa é “preocupante” e afeta a cadeia como um todo. “O mercado de óleo e gás
precisa comprar muitos produtos, principalmente dos Estados Unidos. Vai causar
tanto na compra quanto na venda. Mesmo os Estados Unidos não sendo um potencial
comprador do nosso óleo, mas vai afetar toda a cadeia”, disse.
Economista prevê alta na
cotação do dólar
Na avaliação do economista e
ex-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN), Helder Cavalcanti,
a taxação anunciada por Donald Trump pegou a macroeconomia brasileira “de
surpresa”, uma vez que o Brasil está em superávit primário na balança comercial,
estando entre os 10 maiores países na relação com os Estados Unidos.
“Isso significa que nós vamos
ter grandes impactos. Essa taxação vai refletir na subida do dólar, que
consequentemente vai atingir nossos supermercados, o combustível. É algo
preocupante e o mercado já está com muita incerteza e sinalizando com uma preocupação
gigantesca. Essa medida impacta e não é movida por nenhum fator econômico,
sendo mais uma questão política”, analisa.
Em relação ao Rio Grande do
Norte, estado que tem uma forte relação de exportação com o país
norte-americano, Helder Cavalcanti explica que a situação pode afetar
investimentos e empregos. “Isso terá um reflexo negativo também no emprego. Se
o empresário diminui sua produção, teremos menos dinheiro circulando e,
consequentemente, chegaremos a ter desemprego também”, cita.
Entidades do RN pedem
diplomacia
Para Luiz Roberto Barcelos,
presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e
Derivados (Abrafrutas), o setor vê a decisão do governo americano com muita
preocupação. “Esperamos diplomacia e bom senso para que as relações institucionais
prevaleçam e possamos remover essa barreira para a existência de um comércio
justo com os Estados Unidos”, comentou.
O presidente da Federação da
Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, explicou que alguns
produtos, com a nova taxação, podem alcançar tarifas de até 75%, fator que
levanta bastante preocupação no mercado exportador em razão dos reflexos significativos.
“Os contratos de mercadorias em negociação, sem sombra de dúvida, sofrerão
impactos muito grandes, inclusive até de cancelamento por parte do governo
americano por conta da alta tarifa. Por isso, essas questões precisam ser
resolvidas de forma diplomática. A Federação da Agricultura está bastante
preocupada”, pontuou Vieira.
Marcelo Queiroz, presidente da
Fecomércio-RN, diz ter recebido o anúncio da tarifa comercial com surpresa e
preocupação, destacando que o mercado americano é hoje o segundo principal
destino das exportações nacionais. “A nova alíquota deverá deteriorar a balança
comercial brasileira, depreciando a taxa de câmbio e aumentando a inflação.
Assim, o Banco Central poderá entender necessário majorar a já elevada taxa
básica de juros, ou deixá-la em patamar elevado por mais tempo, com impacto
direto sobre os investimentos e custos de capital de giro para a atividade
comercial”, avaliou Queiroz.
A Confederação Nacional da
Indústria (CNI) afirmou que a imposição tarifária também foi recebida com
preocupação e surpresa. “A prioridade deve ser intensificar a negociação com o
governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar
entre os países. A CNI reforça a importância de intensificar uma comunicação
construtiva e contínua entre os dois governos”.
A Confederação da Agricultura
e Pecuária do Brasil (CNA) afirmou que acompanha a decisão com atenção. “Esta
medida unilateral não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre
os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de
equilíbrio, em estrita conformidade com os melhores princípios do livre
comércio internacional. Nossa esperança é que os canais diplomáticos sejam
intensamente acionados”.
Impactos
O secretário da Fazenda do RN,
Carlos Eduardo Xavier, afirmou que a medida pode trazer sérios impactos para os
empregos. “Em setores como pescado e sal marinho, as exportações para os EUA
podem chegar a 70% e isso deverá provocar um impacto devastador na geração de
emprego do nosso Estado”, disse.
A Secretaria de
Desenvolvimento Econômico do RN pediu uma atuação articulada com o Governo
Federal e os setores produtivos. “As exportações e importações para o mercado
norte-americano têm participação expressiva. Entre janeiro e março deste ano, o
RN exportou US$ 26,2 mi para os EUA, enquanto as importações somaram US$ 9,8
mi, resultando em um superávit de US$ 16,4 mi na balança comercial bilateral”,
disse a pasta.
Tribuna do Norte

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