quarta-feira, 30 de julho de 2025

Relatório da CEI solicita ao MP indiciamento de líderes do MLB

A Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara Municipal que investigou as invasões de prédios públicos e privados em Natal aprovou – por maioria (3 votos a 1) -, relatório do vereador Matheus Matheus pedindo indiciamento de lideres do MLB – o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.

Ao fim de 120 dias de trabalhos iniciados em 2 de abril, o relator Matheus Faustino concluiu que “há indícios de que os representantes do grupo tenham cometido crimes como esbulho possessório”, previstos no artigo Art. 161, §1º, II do Código Penal) e extorsão (Art. 158 do Código Penal), motivo pelo qual pede o indiciamento dos militantes do MLB Marcos Antônio Ribeiro, Bianca Soares Evangelista e Kívia Moreira Nunes.

“Não resta dúvida acerca da complexidade dos trabalhos dessa Comissão Especial de Inquérito e da robustez de todo o material levantado neste relatório. Toda a sociedade natalense a partir dos trabalhos da CEI se depara com a realidade atroz de pessoas instrumentalizadas por agentes da perpetuação da pobreza e da miséria”, concluiu Faustino.

Nos encaminhamentos feitos por Faustino, também é requerido ao Ministério Público Federal que se apure a conduta da deputada federal Natália Bonavides (PT), apontando possível improbidade administrativa por parte da parlamentar.

De acordo com o documento, Bonavides teria disponibilizado um advogado lotado em seu gabinete para atuar na defesa do MLB em processo judicial, o que, segundo Faustino, pode configurar desvio de função.

Segundo o relatório, diante da análise detalhada dos depoimentos, evidências materiais e documentais reunidas na CEI das Invasões, “restou demonstrado, de maneira inequívoca, que as invasões ocorridas no Município de Natal não constituem eventos isolados ou espontâneos, mas sim ações coordenadas e estruturadas, lideradas sobretudo pelo MLB”.

Para Faustino, “ficou claramente evidenciado que a atuação desses movimentos vai muito além de uma suposta reivindicação legítima por moradia, revelando-se como ações orquestradas que utilizam métodos ilegais como forma de pressão política, extorsão econômica e instrumentalização de pessoas em situação de vulnerabilidade social”.

Faustino relatou que “diversas contradições foram constatadas nos depoimentos prestados pelos representantes e líderes desses movimentos, principalmente quanto à justificativa da “função social da propriedade”, que se mostrou apenas uma alegação retórica, sem respaldo concreto em ações efetivas de melhoria dos espaços ocupados, agravando ainda mais as condições de precariedade e insalubridade”.

No relatório consta que as práticas identificadas durante os trabalhos da CEI configuram potenciais crimes como esbulho possessório, ameaça, constrangimento ilegal e, especialmente, a prática reiterada de extorsão contra estabelecimentos comerciais, conforme fartamente demonstrado nos depoimentos e provas documentais, inclusive por vídeos e registros nas redes sociais dos próprios integrantes do movimento.

“Também ficou evidente a ocorrência de possíveis irregularidades administrativas e eleitorais, especialmente quanto ao uso indevido de verbas públicas para financiamento de viagens de lideranças dos movimentos e utilização da estrutura organizacional do MLB em campanhas eleitorais”, segundo o relatório, o que contraria explicitamente a legislação eleitoral vigente (Resolução nº 23.607/19 do TSE).

O presidente da CEI das Invasões, vereador Subtenente Eliabe, disse que durante os trabalhos de investigação, “a Comissão ouviu, atentamente, todos os lados envolvidos, analisou documentos e buscou compreender os impactos social, econômico e legal das invasões a imóveis na cidade”, bem como “a atuação do MLB, eventuais prejuízos a setores econômicos, situação do déficit habitacional e a necessidade de políticas públicas efetivas para enfrentar esse problema social”.

O Subtenente Eliabe disse que o relatório será encaminhado as autoridades “para medidas cabíveis, de forma a garantir a proteção do direito à propriedade e contribuir para a busca de soluções estruturantes na questão da moradia”.]

Eliabe disse, ainda, que o relatório final “poderia ter sido mais aprofundado se as instâncias da gestão estadual tivesse contribuído com mais informações”, mas houve dificuldades em obtê-las junto governo Fátima Bezerra (PT), principalmente das áreas de habitação e segurança.

O presidente da CEI informou que o relatório será encaminhado à deliberação do plenário da Casa, na volta do recesso legislativo em agosto, dentro de 15 dias úteis. “Pode acrescentar dados, apresentar projeto de lei para consubstanciar os trabalhos da Comissão, mas não pode modificar o relatório”, explicou.

A vice-presidente da CEI, vereadora Camila Araújo (PL) votou pela aprovação do relatório e disse que concluiu-se “com gosto de vitória, respostas e esclarecimentos que Natal precisava ter”.

Para o vereador Daniel Santiago (PP), que também acompanhou o relator Faustino, o fim da CEI “será um começo nos encaminhamentos de processos legais para que direitos não sejam violados, como o direito à moradia de famílias que precisam do poder público e também as pessoas que tenham o patrimônio extorquido e intimidadas por atos de invasões”.

O vereador Daniel Valença (PT) foi o único a votar contra o relatório e, reclamou da inquisição feita contra o MLB, por ter sido o único movimento pró-moradia a ser investigado dentre outros existentes em Natal: “Pessoas foram chamadas como testemunhas, mas no dia da escuta das pessoas do MLB, elas foram direcionadas a uma salinha, porque eram testemunhas diferentes, testemunhas suspeitas e estão saindo como indiciadas”.

Tribuna do Norte

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