“Chegou um pedido para tentar
ver essa análise de correlação estatística da concentração de votos em
territórios do CV [Comando Vermelho] no Rio de Janeiro, para saber se havia
correlação, para ver se o candidato à época, Lula, tinha maior concentração de
votos em áreas dominadas por facção criminosa”, disse Vieira.
O servidor prestou depoimento
como testemunha de acusação, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR),
em uma das ações penais abertas no Supremo para apurar uma tentativa de golpe
de Estado que teria sido colocada em curso por Bolsonaro e aliados.
Clebson Vieira contou que as
demandas sobre dados eleitorais começaram a ser feitas em 2022, quando era
chefiado pela delegada Marília de Alencar, então diretora de Inteligência da
Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça. Marília é ré na
ação penal.
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Em uma das demandas, pediu-se
a Vieira que identificasse em quais localidades do país cada candidato havia
recebido mais de 75% dos votos no primeiro da eleição presidencial, mas, de
acordo com o analista, somente os dados sobre Lula foram de fato
considerados pela chefia.
A testemunha confirmou que
costumava contar à sua esposa na época, por aplicativo de mensagem, a chegada
de demandas com "algum tipo de viés político, referente a tentar ajudar o
governo”. Em uma dessas mensagens, ele confirmou ter dito à esposa que
ficava “muito mal” com “uma demanda daquelas, diretamente da diretora”.
Ações da PRF
Também foi ouvido nesta
segunda-feira Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de Inteligência da
Polícia Rodoviária Federal (PRF). Conforme já havia declarado em depoimento anterior, Alcântara
voltou a confirmar que ocorreram orientações de “policiamento direcionado”
durante as eleições de 2022.
Segundo ele, a impressão é que
tais ações para a abordagem de vans em ônibus foi intensificada em estados como
Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, de onde normalmente partem
muitos eleitores para o Nordeste, região onde Lula tradicionalmente concentra
maior votação.
“Foram orientações gerais, mas
para esses estados [RJ, SP, MG e GO], [onde] a fiscalização foi mais
intensificada”, disse Alcântara, repetindo o que já havia dito como testemunha
em outra ação penal do golpe.
Depoimentos
As testemunhas de acusação
foram ouvidas na ação penal que tem como alvo o Núcleo 2 da trama golpista,
aquele apontado pela PGR como tendo sido responsável por ações estratégicas,
como o monitoramento de opositores e a elaboração de minutas e dados para subsidiar
a tomada de poder.
Fazem parte desse núcleo
Filipe Martins (ex-assessor de Assuntos Internacionais do então presidente Jair
Bolsonaro); Marcelo Câmara (também ex-assessor de Bolsonaro); Silvinei Vasques
(ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal); Mário Fernandes (general de
Exército); Marília de Alencar (ex-diretora de Inteligência da Secretaria de
Operações Integradas do Ministério da Justiça) e Fernando de Sousa Oliveira
(ex-secretário-adjunto de Segurança do Distrito Federal).
Na tarde desta segunda, está
sendo novamente ouvido o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens
de Bolsonaro e delator da trama golpista. De manhã, a audiência foi conduzida
pelo juiz Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que atua como auxiliar no
gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais.
Agência Brasil

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