Nesta quarta, 2, ao participar, em Salvador, das festividades do 2 de Julho, Dia da Independência da Bahia, Lula exibiu um cartaz que pedia a “taxação dos super ricos”. O petista compartilhou foto do ato em suas redes sociais. Na imagem, ele aparece ao lado da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
O governo vai dobrar a aposta
e fazer nova disputa política com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),
antecipando o tom da campanha de 2026. Depois de ressuscitar o “nós contra
eles”, a equipe de Lula prepara agora uma estratégia para atingir também a
classe média. A ideia é tentar mostrar que os mais ricos estão isolados porque,
pelos cálculos do Planalto, 99% da população defende “justiça tributária” e
apenas 1% é contra.
Lula será o “motor” do
conceito de que, para manter as contas públicas equilibradas, o governo vai
taxar “quem sempre pagou pouco ou quase nada”. Todos os ministros também foram
orientados a bater na mesma tecla, sem se importar com o impacto do enfrentamento
com o Congresso.
“Sei que existe uma disputa
ideológica no País, mas vamos para os resultados. Vamos falar português para as
pessoas”, disse o ministro da Fazenda nesta terça, 1º, Fernando Haddad, ao
participar da cerimônia de lançamento do Plano Safra Empresarial no Palácio do
Planalto. “São patriotas que pensam que, quando a economia está indo bem, o
País está mal?”, provocou ele.
Pano de fundo
Desde a semana passada, quando
o Congresso derrubou o decreto de Lula que aumentava o IOF, o Planalto entendeu
que o pano de fundo da briga ia muito além do tributo. Na lista dos fatores que
contribuíram para a derrota no Legislativo estão embates por cargos,
insatisfação com o atraso no pagamento de emendas parlamentares, queixas do
mercado e as eleições de 2026.
Lula ficou irritado com um
vídeo divulgado nas redes sociais pelo presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), dizendo que “quem alimenta o nós contra eles acaba
governando contra todos”.
O presidente defendeu nesta
quarta, 2, a judicialização do caso do aumento do IOF e disse que houve um
“descumprimento do acordo fechado” entre o Congresso e o governo sobre o
assunto. “Se eu não entrar com recurso no Judiciário, eu não governo mais o País.”
Lula foi duro ao chamar a decisão de Motta, de pautar o projeto de decreto
legislativo derrubando A elevação do IOF, de “absurda”.
O petista alegou que o decreto
por ele assinado sobre o IOF não era um “aumento de imposto”, mas um “ajuste
tributário para que os mais ricos paguem um pouco e a gente não precise cortar
dinheiro da educação e da saúde”. “Houve uma pressão das bets, das fintechs, eu
não sei se houve pressão do sistema financeiro” afirmou Lula, em entrevista à
TV Bahia, afiliada da TV Globo. “Os interesses de poucos prevaleceram na Câmara
e no Senado, o que é um absurdo.”
Campanha
Na ofensiva por uma “justiça
tributária”, o PT criou a campanha “Taxação BBB: Bilionários, Bancos e Bets”.
“É justo Bancos, Bets e Bilionários (BBB) não quererem pagar imposto?”,
perguntou o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira,
numa referência aos vídeos divulgados pelo partido. “Não se trata de pobres
contra ricos. A classe média também paga imposto alto. É 99% contra 1%”,
destacou ele, indicando a nova estratégia de comunicação.
Monitoramentos feitos pelo
Planalto mostram que, nas redes sociais, a versão recauchutada do “nós contra
eles” superou as expectativas, ultrapassando os posts bolsonaristas em número
de interações.
Ontem, o PT convocou
influenciadores digitais para reforçar a nova estratégia. Com apoio do
Planalto, a cúpula do partido reuniu cerca de 270 criadores de conteúdo e
apoiadores numa reunião virtual para incentivá-los a dar gás à “campanha
taxação BBB”.
Embora até mesmo aliados do
governo tenham receio dessa guinada à esquerda, o argumento usado por ministros
é o de que Lula não pode ceder porque, se assim o fizer, o Congresso derrubará
todas as medidas de interesse do Planalto.
Há, porém, uma expectativa no
próprio governo de que o Supremo conduza um acordo político antes de tomar uma
decisão. Ministros da Corte avaliam que uma conciliação seria a melhor saída
para o impasse envolvendo o IOF. O relator do caso é Alexandre de Moraes.
Ontem, em Buenos Aires, Haddad
reiterou ao Estadão/Broadcast que a equipe econômica depende do decreto que
elevou o IOF para garantir o cumprimento da meta fiscal do ano que vem, de
superávit de 0,25% do PIB. “Tudo isso é para recuperar a arrecadação líquida de
2011”, disse ele. Questionado sobre a possibilidade de o STF promover uma
conciliação sobre o tema, ele evitou se posicionar, mas reforçou que nunca se
furtou ao diálogo.
“Não sei como o ministro
Alexandre (de Moraes) vai encaminhar isso. Seria indelicado da minha parte me
adiantar antes de falar com ele. Ele está em Portugal, eu estou na Argentina. É
um assunto delicado. Precisa de um tratamento adequado, até para evitar
intriga”, disse Haddad. “Nunca me furtei ao diálogo.”
A Advocacia Geral da União
(AGU) – que apresentou o recurso ao Supremo – argumentou que a elevação do IOF
está dentro das competências exclusivas do Executivo. O Congresso, por sua vez,
entende que o governo extrapolou seu poder porque o tributo federal – pago por
pessoas físicas e jurídicas e que incide sobre diversas operações de crédito,
câmbio, seguro e outros – não poderia ser alterado com fins arrecadatórios.
Apesar das críticas dirigidas
ao presidente da Câmara, Lula disse não considerar que o seu governo vive em um
momento de “rompimento” com o Legislativo e afirmou que reconhece “os direitos
do Congresso”.
“O presidente da República não
rompe com o Congresso. O presidente da República reconhece o papel que o
Congresso tem, eles têm os seus direitos, eu tenho os meus direitos. Nem eu me
meto no direito deles nem eles se metem no meu direito. E, quando os dois não
se entenderem, a Justiça resolve.”
Lula disse que, quando voltar
da Cúpula dos Brics, que será realizada no próximo fim de semana no Rio de
Janeiro, pretende se reunir com Motta e com o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), para tentar chegar a um acordo.As informações são
do jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão Conteúdo

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