quinta-feira, 3 de julho de 2025

Baobá do Poeta: análise inicial indica presença de fungos na árvore

A primeira análise feita a partir de matéria seca coletada no Baobá do Poeta indica a presença de espécies de fungos saprófitas, que são aqueles que se nutrem de matéria orgânica em decomposição. O trabalho de investigação sobre as condições da árvore centenária iniciou após um grande galho se soltar no final de maio, o que gerou preocupação. O resultado indica que os fungos, portanto, não estavam se alimentando de tecidos vivos da planta. A conclusão de uma segunda análise, feita em tecidos internos, no entanto, ainda é aguardada. As amostras estão sendo avaliadas pelo professor Rui Sales, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).

O professor Sidney Praxedes, da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), que participa da equipe responsável por acompanhar a situação, explicou que, embora as amostras ainda estejam em laboratório esperando a esporulação dos fungos (ou seja, a criação de esporos – estruturas reprodutivas que permitem a sobrevivência em condições diversas), já é possível identificar algumas espécies. “Dentre elas, fungos da família Botryosphaeriaceae, possivelmente do gênero Lasiodiplodia, que são patogênicos e aparecem em plantas debilitadas. São agentes secundários, mas podem causar problemas. É preciso aguardar o resultado da análise para decidir o que fazer para proteger a planta”, explica Praxedes.

Segundo ele, até o momento foi retirada toda a matéria orgânica em decomposição, além de uma abertura em formato de porta no caule para evitar o acúmulo de água da chuva. “O trabalho tem sido demorado por conta da grande quantidade de matéria orgânica e também porque a largura do caule era maior do que imaginávamos. Além disso, o baobá tem madeira muito porosa, o que dificultou o corte com motosserra”, falou o professor sobre a abertura da porta. “Além disso, choveu bastante em junho e durante alguns dias não foi possível trabalhar”, acrescentou o professor.

De acordo com Praxedes, não há mais acúmulo de água e o planejamento agora é aplicar fungicida na parte interna da árvore. Outra medida ainda em análise, é a poda de alguns galhos para aliviar o peso que a planta precisa suportar. O Baobá do Poeta está situado em um terreno no bairro de Lagoa Seca, em Natal. O trabalho de análise está sendo realizado por pesquisadores de várias instituições, incluindo a Uern, a Ufersa e o Idema. O engenheiro agrônomo Marcelo Gurgel é quem comanda a equipe que acompanha as condições da planta.

A árvore tem cerca de 19 metros de altura e um tronco com 6 metros de diâmetro, sendo considerado patrimônio afetivo e cultural de Natal. A estimativa é de que a árvore tenha entre 300 e 400 anos. A base da planta possui circunferência de 22,6 metros. O episódio de queda do galho, em maio, revelou um cenário preocupante: uma cavidade de quase 6 metros quadrados no interior do tronco, com sinais de apodrecimento, paredes úmidas e presença de fungos e cogumelos.

De acordo com Marcelo Gurgel, o baobá é uma planta originária da savana africana, uma região mais seca do que o semiárido nordestino. As condições de umidade a que a árvore se submeteu ao longo de mais de um século na capital potiguar, podem explicar o porquê da situação atual, uma vez que, segundo o engenheiro agrônomo, é perceptível que o baobá começou a represar água juntamente com matéria orgânica proveniente de pássaros, folhas e floração.

Tribuna do Norte

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