A comparação regional reforça
a singularidade potiguar. Na Bahia, o maior estado da região, havia 2,46
milhões de famílias beneficiadas contra 2,18 milhões de vínculos formais. Em
Pernambuco, os dados apontaram 1,58 milhão de famílias no Bolsa Família e 1,52
milhão de vínculos CLT. No Ceará, 1,45 milhão de atendidos pelo programa social
e 1,42 milhão de empregos. Maranhão (1,23 milhão / 666 mil), Paraíba (667 mil /
515 mil), Alagoas (533 mil / 454 mil), Piauí (590 mil / 368 mil) e Sergipe (378
mil / 344 mil) completam o quadro em que a dependência do Bolsa Família segue
superando o emprego formal.
Para o presidente da Federação
do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do RN (Fecomércio-RN),
Marcelo Queiroz, os números refletem o vigor da economia local e o papel
decisivo do setor produtivo. “Os dados mais recentes revelam um cenário muito
positivo para a economia do Rio Grande do Norte. O Estado é o único da região
onde o número de trabalhadores com emprego formal supera o total de
beneficiários do Bolsa Família. Esse resultado demonstra a força do setor
produtivo local e o avanço no mercado de trabalho”, diz Marcelo.
Queiroz destaca ainda a
importância da renda formal para o dinamismo da economia potiguar. “O
trabalhador formal no RN tem uma renda média superior a R$ 2 mil, o que
representa um ganho significativo em relação ao valor do benefício social. Isso
significa mais poder de compra, maior circulação de recursos e estímulo direto
a setores como indústria, comércio e serviços”. Segundo ele, os resultados não
são isolados. “Em 2024, o Estado foi responsável por mais de 10% dos postos de
trabalho criados em todo o Nordeste, mesmo tendo um peso econômico na região em
torno de 7%”, completa.
O economista Helder Cavalcanti
Vieira ressalta que o bom desempenho potiguar está ancorado em três vetores
principais: turismo, energias renováveis e agronegócio. “O Rio Grande do Norte
tem algumas características bem favoráveis. Nós temos hoje fatores de extrema
importância no olhar econômico, como o turismo. Dezembro foi um período
bastante favorável para as nossas atividades turísticas. Com uma repercussão
bem ampla no emprego, a cadeia do turismo alcança várias camadas sociais,
trazendo emprego, geração de renda, melhor qualidade de vida para as pessoas”.
Para o especialista, o papel
estratégico do Estado na produção de energia e na exportação agrícola tem se
intensificado. “Nós temos as energias renováveis, que é outra área que o RN tem
um favorecimento natural bem expressivo, que também repercutiu muito no
crescimento do nível de emprego. E o agronegócio, notadamente as exportações, a
fruticultura irrigada, o sal, o melão, são fatores que incrementaram a economia
de uma maneira bastante substancial, chegando a esse resultado em que os
empregos formais ultrapassam o número de beneficiários do Bolsa Família”,
pontua.
Helder afirma que o momento é
promissor, ainda que a sustentabilidade da tendência exija atenção. “Eu não
chegaria a colocar como algo sustentável, de uma maneira contínua, mas a gente
pode sinalizar como algo bastante promissor, e de uma certa forma até algo que
venha a gerar um processo de continuidade”, ressalta o economista, que também é
conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN).
Para Marcelo Queiroz (Fecomércio),
o resultado demonstra a força do setor produtivo local | Foto: Adriano Abreu
No RN, CLT supera Bolsa
Família há 14 meses
O resultado registrado em
abril de 2025 — com mais empregos formais que famílias beneficiadas — não foi
um ponto fora da curva no Rio Grande do Norte. A “virada” ocorreu em março de
2024, quando os vínculos com carteira assinada atingiram 505.018, superando
pela primeira vez as 503.206 famílias registradas no Bolsa Família naquele mês.
De lá para cá, o Estado mantém esse padrão por 14 meses consecutivos. A
evolução mostra uma curva estável e ascendente. Em abril de 2024, o estado
registrou 507.741 empregos e 502.504 famílias no programa. Nos meses seguintes,
a diferença entre CLTs e beneficiários foi se ampliando (ver box).
Para o novo chefe da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte (Sedec), Alan
Silveira, os dados refletem o êxito das políticas públicas de incentivo ao
setor produtivo. “Isso é fruto do resultado do trabalho do governo junto com a
Sedec, de trazer o desenvolvimento para o Rio Grande do Norte de forma
sustentável em diversas áreas do comércio exterior, indústria, fruticultura,
energias renováveis, comércio local, e com isso tudo elevando a questão da
geração de emprego e renda”, diz o gestor, que assume a pasta nesta semana.
O secretário destaca que o
Estado vive um momento de crescimento em diferentes frentes. “É um dado
bastante positivo, reflexo do trabalho, do empenho em trazer mais investimentos
para o Rio Grande do Norte, aproveitando os nossos potenciais. Entendemos que a
gente tem o comércio exterior crescendo. No último quadrimestre foram mais de
R$ 500 milhões em movimentações econômicas”, comenta.
Silveira também reforça a
importância da qualificação profissional e do fortalecimento das cadeias
produtivas locais. “Quando você faz parceria, incentiva as entidades como a
Fiern, a Fecomércio, a FCDL, o Sistema S, Sebrae, Senac, Senai, você vai gerando
emprego e renda e também o principal: capacitar a população. Quando você
prepara a população para o mercado de trabalho, você consegue deixar a mão de
obra qualificada para quando as empresas se instalarem nos municípios”, diz.
Seguindo a linha de raciocínio
da Sedec, a secretária de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência
Social (Sethas), Íris Maria de Oliveira, diz que o cenário atual é resultado de
um conjunto de ações coordenadas, como a criação do Programa de Estímulo ao
Desenvolvimento Industrial (Proedi). “É o resultado, primeiro, das políticas
dos governos Federal e do Estado com relação ao desenvolvimento econômico e
social, porque se você tem uma política que estimula a geração de emprego, a
fixação de empresas no Estado, se você tem um investimento também em educação,
esse dado do RN só confirma o esforço e a decisão acertada, por exemplo, do
Governo do Estado, quando criou o Proedi”.
Para Iris, os dados ilustram que o maior desafio enfrentado por parte da população é a falta de oportunidade — e não de vontade de trabalhar. “Na maioria das vezes, as pessoas não ficam fora do mercado de trabalho por opção, mas por falta de oportunidade, não só de emprego, mas de qualificação, de dignidade. Por exemplo, uma mãe solo de três crianças não consegue trabalhar 46 horas por semana, sem ter uma creche para os filhos e muitas fazem essa opção pelo Bolsa Família, porque faltam políticas públicas nesse sentido”, acrescenta a secretária.
Bruno Vital
Repórter
Tribuna do Norte

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