“Inicialmente, é preciso
ressaltar que, apesar do número de casos de infecção pelo consumo de Arabaiana,
essa toxina não é encontrada apenas nessa espécie, então é importante falar
também, de forma geral, das espécies que podem estar infectadas e transmitir
para o homem através do consumo”, explica o biólogo.
Segundo o DVS, os sintomas
apresentados pelas vítimas são compatíveis com ciguatera, apesar de não ser
confirmado e ainda estar em análise. A intoxicação é causada pela ingestão de
peixes contaminados com ciguatoxinas, compostos produzidos por microalgas em
recifes tropicais.
A ciguatera é uma intoxicação
alimentar causada por um grupo de toxinas produzidas por microalgas presentes
em ambientes recifais. Essas substâncias entram na cadeia alimentar e se
acumulam em peixes maiores, chegando ao ser humano. O biólogo explica: “A
ciguatera é uma intoxicação alimentar causada por um grupo de ficotoxinas,
entre elas a ciguatoxina, maitotoxinas e ácido okadáico. A toxina é transferida
das microalgas para peixes herbívoros, que por sua vez a transferem para os
seus predadores, atingindo assim o consumidor humano via concentração ao longo
da cadeia trófica.”
Os sintomas mais comuns são
náuseas, vômitos, diarreia, formigamentos e alterações neurológicas, como a
sensação invertida de frio e calor. O diagnóstico pode ser confirmado com
exames laboratoriais, por meio da técnica de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
(HPLC), associada a detectores como fluorímetros ou espectrômetros de massa
(LC-MS/MS).
“A HPLC pode ser usada para
identificar e quantificar essa toxina. A HPLC (Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência) é uma técnica analítica que separa e identifica componentes de uma
mistura líquida. Ao ser acoplada a diferentes tipos de detectores, como um
fluorímetro que detecta a emissão de luz (fluorescência) de analitos que são
fluorescentes ou que podem ser derivados para tornarem-se fluorescentes, ou um
espectrômetro de massa (LC-MS/MS).”, afirma Luciano.
Quem é a Arabaiana?
Luciano explica que o peixe arabaiana é uma espécie encontrada em costões
rochosos, recifes de corais, ilhas e bancos de areia costeiros, podendo atingir
até 50 metros de profundidade, mas que pode se aproximar da zona de
arrebentação durante a caça. Pode ser descrito como um peixe predador
solitário, embora possa formar cardumes.
Segundo o biólogo: “São
predadores oportunistas no período do dia, indivíduos alimentam-se
principalmente de pequenos peixes, cefalópodes e crustáceos. Aqui é a principal
questão em relação à bioacumulação da ciguatera”.
Ou seja, como predador, a
Arabaiana pode acumular toxinas ao longo da cadeia alimentar, mas isso não é
uma condição constante da espécie, e sim de determinadas circunstâncias
ambientais.
Outras espécies podem conter
ciguatera?
Embora o surto em Natal esteja relacionado à Arabaiana, conforme confirmado
pelo DVS, Luciano afirma que várias outras espécies podem apresentar risco de
contaminação por ciguatera. Ele explica que mais de 400 espécies de diferentes
famílias de peixes recifais estão relacionados a ciguatera, como por exemplo,
peixes da família Acanthuridae (peixe cirurgião ou caraúna, cirurgião azul) que
podem transferir a toxina para peixes carnívoros principalmente das famílias
Serranidae (piraúna), Scombridae (atum, albacora, bonito listrado), Lutjanidade
(vermelho, guaiúba ou cioba) Carangidae (Guarajuba), Haemulidade (peixes
roncadores), Scaridae (peixe papagaio) e Lethrinidae (peixe imperador,
Imperador dourado).
“No Brasil de forma geral, os
casos de intoxicação são raros, mas em Fernando de Noronha desde 2022 têm se
registrado um aumento no número de casos, associados a diversas espécies,
principalmente no mês de agosto. Devido a proximidade de Natal da ilha e as
correntes marítimas que podem favorecer a dispersão de algumas espécies para a
costa, é preciso ter cautela no consumo, principalmente de espécies de maior
porte”, diz Luciano.
Informação é prevenção
O alerta é válido, mas o
consumo de peixe deve continuar sendo feito de forma consciente, sem pânico. A
orientação é simples: prefira peixes de procedência confiável. É essencial que
o consumidor esteja atento à origem do peixe, prefira comprar de fornecedores
confiáveis, Luciano afirma que toxinas como a ciguatera não estão associadas de
forma exclusiva a nenhuma espécie.
As investigações sobre o caso
seguem em andamento. Até o momento, a DVS salientou que não há confirmação
laboratorial definitiva da presença da toxina, mas os sintomas relatados são
compatíveis com o quadro.
Jessyanne Bezerra
Repórter.
Tribuna do Norte

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