A sub-representação feminina em cargos gerenciais não registrou melhora
expressiva na última década. Apesar de incentivos e formulações de políticas
públicas, a parcela de mulheres ocupando cargos de chefia ainda vem crescendo
muito lentamente, ressaltou Janaína Feijó, pesquisadora responsável pelo estudo
do Ibre/FGV.
No quarto trimestre de 2012, apenas 37,8% dos cargos de gerência eram ocupados
por mulheres. No quarto trimestre de 2022, essa participação feminina em
posições gerenciais subiu a 39,2%. "Aumentamos menos de 2 pontos
porcentuais em dez anos, é muito pouco", avaliou Janaína Feijó.
Como os cargos de gerência tendem a remunerar melhor, a sub-representação das
mulheres nessas funções contribui para a baixa proporção de profissionais do
gênero feminino nos extratos mais altos da distribuição de salários. No quarto
trimestre de 2022, no grupo que concentrava os trabalhadores com os maiores
rendimentos por hora trabalhada, apenas 36,6% eram mulheres. A região com maior
proporção de mulheres entre os 10% mais bem pagos foi o Sul, onde 41,7% desses
trabalhadores eram do gênero feminino. A menor proporção foi reportada no
Sudeste, onde apenas 34,8% dos mais bem remunerados eram mulheres.
Segundo Janaína Feijó, os resultados evidenciam o fenômeno "teto de
vidro", que funciona como uma barreira invisível ao acesso das mulheres a
níveis mais altos da hierarquia organizacional das empresas.
"A mulher, mesmo sendo educada, mesmo estando empregada dentro de uma
instituição, ela não consegue ascender profissionalmente. Ela não consegue
equiparar o salário dela ao de um homem, porque ela não consegue ocupar
posições de prestígio dentro das empresas. Ela tem os atributos, mas ela não
consegue aumentar o salário dela com esses atributos", explicou Janaína Feijó.
Além da sub-representação feminina em funções de gestão mesmo quando possuem as
mesmas habilidades e experiências que os homens, o fenômeno do teto de vidro
resulta também em discriminação salarial: a mulher tende a receber um salário
menor mesmo possuindo as mesmas competências do homem.
Os homens ganhavam uma remuneração 23,4% maior do que as mulheres em postos
equivalentes, ou seja, a defasagem salarial permanecia considerável quando
comparados profissionais com as mesmas características sócioeconômicas, como
raça, região, anos de estudo, experiência profissional e trabalhando a mesma
quantidade de horas na mesma função.
A boa notícia é que essa defasagem salarial entre homens e mulheres caiu cerca
de dez pontos porcentuais em uma década: no quarto trimestre de 2012, o
rendimento dos homens era 33,4% maior do que o das mulheres. Mudanças
socioculturais têm ajudado nessa melhora, diz a pesquisadora do Ibre/FGV.
"As gerações mais jovens são menos avessas à figura da mulher em qualquer
ambiente, principalmente no mercado de trabalho. Os jovens compreendem a
necessidade de ambientes plurais e equitativos, enquanto algumas pessoas de
gerações passadas ainda têm a mentalidade de que o lugar da mulher é cuidando
dos filhos Essas transformações sociais acontecem lentamente, mas ajudam sim a
diminuir esse gap", mencionou Janaína Feijó.
Outros fatores que ajudam na melhor inserção da mulher são políticas públicas
voltadas para reduzir essa desigualdade de gênero, como os investimentos em
rede de apoio e proteção legal a trabalhadoras quando se tornam mães, de forma
que não precisem abandonar seus empregos para se dedicar ao cuidado dos filhos,
mencionou a pesquisadora.
O estudo do Ibre/FGV foi elaborado tendo como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Precisamos valorizar mais as mulheres, tratá-las com igualdade, pois já provaram que são tão capazes quanto os homens pra desenvolverem suas habilidades.
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