O Brasil registrou 335 novas
mortes pela covid-19 ontem e superou a barreira de 650 mil óbitos pela doença.
A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de
semana, ficou em 509, em queda pelo 10º dia seguido.
"Infelizmente nós temos vários estudos que mostram que no Brasil tivemos um número excessivo de óbitos. O porcentual de mortes evitáveis é algo que vem sendo calculado entre 40% e 60% se tivéssemos tomado as decisões corretas", explica Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O professor de Infectologia da Unesp afirma que era muito importante que tivesse tido um discurso mais coordenado entre governo federal, estadual e prefeituras em relação às medidas de circulação de pessoas, sobre o uso de máscaras e isolamento social. "Essas medidas não farmacológicas deviam ter sido coordenadas de maneira uniforme e isso não aconteceu. Isso levou à desconfiança da população em relação à efetividade dessas medidas."
"Outro ponto foi a questão dos imunizantes. Tivemos desde o começo, quando as vacinas começaram a ter resultados divulgados, uma politização desse debate que foi extremamente danosa. Muito antes de as vacinas chegarem, políticos questionaram a efetividade da vacina e gente do governo federal disse que não tinha pressa para comprar as vacinas. E isso realmente ocorreu. A vacinação começou em janeiro, e foi muito lenta, só engrenando tardiamente. E foi nesta época que tivemos a variante Gama, que foi nosso grande problema, com cerca de 400 mil óbitos concentrados", continuou.
Para Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, pandemia e mortes são conceitos intimamente relacionados. "Especialmente quando se trata de doença nova e de fácil alastramento, como é o caso da covid-19. No entanto, o número de mortos que um país alcança é resultado das estratégias de enfrentamento e mitigação adotadas. A marca de cerca de 650 mil mortes conhecidas no Brasil é tragicamente alta (segunda maior do planeta) e, na prática, é ao menos 15% maior, devido à subnotificação", lamenta.
O especialista cita ainda os
efeitos indiretos sobre a própria saúde pública como os casos de covid longa,
os gastos em contexto de subfinanciamento do SUS, o agravamento de outras
doenças pré-existentes (transtornos mentais, diabetes, pressão alta) ou até mesmo
a redução da expectativa de vida da população "Não é impossível chegarmos
a 700 mil ou mesmo 800 mil mortes conhecidas por covid-19, pois se continuarmos
colocando a agenda econômica acima da vida, seguiremos tendo mais e mais mortes
evitáveis, sem qualquer benefício econômico, tal como testemunhamos nestes dois
anos de pandemia no Brasil, um duplo desastre, sanitário e econômico",
avisa.
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