O sonho de Gabriela Novazzi, de 27 anos, é conseguir um emprego para dar uma vida melhor ao filho, de 3 anos. Ela nunca teve um trabalho fixo, com carteira assinada. Apenas bicos que consegue em eventos. Desde 2016, quando foi obrigada a abandonar a faculdade de Educação Física por questões financeiras, Gabriela não estuda nem trabalha. "Era minha mãe que me ajudava nos estudos, mas ela ficou sem trabalho e parou de pagar a universidade", diz.
Sem experiência, ela está à procura de qualquer oportunidade de entrar no mercado de trabalho. Mas a busca não tem sido fácil. "A maioria das empresas exige uma experiência anterior. É uma dificuldade", diz. Além de dar estabilidade ao filho, Gabriela também sonha em terminar a faculdade. "Nunca é tarde para recomeçar."
Gabriela faz parte de um contingente de jovens de até 29 anos que cresceu muito nos últimos tempos. São os chamados "nem-nem", um grupo de pessoas que nem estuda nem trabalha. Segundo a consultoria IDados, até o segundo trimestre de 2021, essa população representava 30% dos jovens dessa faixa etária. Isso significa 12,3 milhões de pessoas, cifra que supera a população da Bélgica.
"Isso representa uma ineficiência enorme para o Estado, já que muitas dessas pessoas tiveram um investimento público por trás", diz a pesquisadora da consultoria, Ana Tereza Pires, responsável pelo levantamento. Além da questão econômica, tem também o lado individual de cada um dos jovens, sem experiência.
A cada ano, diz ela, novos estudantes se formam e não conseguem ser absorvidos no mercado, o que cria um bolsão de nem-nem. Sem emprego nem renda, eles não conseguem estudar e muitos param no meio do caminho, como no caso de Gabriela. Segundo Ana Tereza, terminar a faculdade numa fase de recessão pode ter reflexos para toda a vida profissional. Os que conseguem emprego podem ter salários mais achatados comparados a quem se forma durante a expansão econômica.
Entre 2017 e 2019, o Produto
Interno Bruto (PIB) cresceu numa média de 1,4% ao ano - resultado muito abaixo
da capacidade. "Para empregar todos os jovens que entram no mercado de
trabalho, o Brasil precisaria crescer, pelo menos, 3% ao ano", diz
presidente da Trevisan Escola de Negócios, Vandyck Silveira.
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