No terceiro
trimestre de 2021, 8,818 milhões de pessoas estavam ocupadas em
atividades rurais, uma alta de 9,5% em relação a igual período de 2020,
puxada pelo bom desempenho das lavouras de grãos.
Os dados foram
organizados pela economista Nicole Rennó, do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP, com base em informações do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Todos os tipos
de contrato de trabalho tiveram alta, mas o maior percentual ocorreu no emprego
sem carteira assinada e por conta própria, indicando um aumento da
informalidade, uma característica antiga do trabalho no campo.
Assim como tem
ocorrido com a renda média nacional,
os ganhos do trabalhador rural também caíram no período, cerca de 3%,
em função do aumento do desemprego e da inflação.
Atualmente, os trabalhadores do campo representam 11,7% de toda a mão de obra
do país, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre), da FGV.
Do total de
ocupados, a maioria trabalha na agricultura,
principalmente nas lavouras de grãos e cereais. Em seguida, está a pecuária, com destaque para a criação de gado (veja no infográfico abaixo).
Veja
nesta reportagem:
A variação do
emprego em cada setor do agro;
Por que a renda
no campo caiu;
Assalariados sem
carteira têm o pior rendimento;
A informalidade
no campo.
Recuperação por setor
O crescimento do número de pessoas empregadas no campo reflete, de um
lado, uma recuperação dos postos que foram perdidos em 2020 e,
de outro, os preços elevados dos grãos, que têm
favorecido os resultados da agricultura, diz Nicole Rennó, pesquisadora de macroeconomia
do Cepea.
Em relação ao 3º trimestre de 2020, ela detalha que houve alta na ocupação de todos os setores do agro no
3º trimestre deste ano:
Agricultura (+9,8%): no grupo de cereais (arroz, milho,
trigo), houve um aumento de 34% na ocupação. Na produção de soja, o avanço foi
de 22%. Nesses dois, a queda do emprego na pandemia não foi relevante e, por
isso, a alta se explica pela boa conjuntura no mercado de grãos.
Pecuária (+8,8%): o crescimento foi puxado,
principalmente, pela bovinocultura, seja de corte (produção de carne) ou leite. Boa parte do avanço é apenas recuperação, pois o
número de ocupados no terceiro trimestre (cerca de 2 milhões de pessoas) é bem
próximo à média dos trimestres anteriores à pandemia.
Produção florestal (+40%) e outras
lavouras (+11,1%): nesses
ramos, também houve apenas uma recuperação dos empregos
perdidos durante a pandemia, diz Nicole.
Emprego sem carteira lidera
alta
Já os dados por tipo de contrato de trabalho mostram que o aumento do emprego no campo foi puxado, principalmente, pelos
trabalhadores sem carteira assinada e pelos que atuam por conta própria.
A variação entre o 3º trimestre de 2020 e o 3º trimestre de 2021 foi a
seguinte:
Empregado sem carteira assinada: +14%, para 2 milhões de pessoas;
Conta própria: +12%, para 3,9 milhões de pessoas;
Empregado com carteira assinada: +6%, para 1,5 milhão de pessoas;
Empregador: +3,7%, para 276 mil pessoas;
Trabalhadores familiares auxiliares,
militares e servidores: +0,26%,
para 1,1 milhão de pessoas.
Segundo o IBGE , os
trabalhadores por conta própria são os que trabalham em sua própria
propriedade, sozinhos ou com outras pessoas, sem ter um empregado, podendo ou
não contar com a ajuda de um trabalhador familiar auxiliar. Eles não são,
necessariamente, agricultores familiares.
"Os agricultores familiares podem entrar como conta própria, como
empregadores ou, ainda, como trabalhador familiar auxiliar", ressaltou o
órgão ao g1.
Leia também: Aplicativos conectam
consumidor a alimentos da agricultura familiar
Rendimento teve queda
Os ganhos do trabalhador rural também têm diminuído, assim como a renda média nacional. No
terceiro trimestre de 2021, o rendimento médio por mês dessa população recuou
3,3% em termos reais (descontada a inflação), para R$ 1.517 mil.
"Os dados não permitem uma conclusão exata sobre isso, mas há
indicativos de que a queda no rendimento reflete uma volta ao mercado de
trabalho de trabalhadores com rendimentos menores (sem carteira e conta
própria) – que foram aqueles que perderam os empregos no segundo
trimestre de 2020 e voltaram aos poucos", diz Nicole.
Veja também: Mais ricos recebem quase 35
vezes mais que a metade dos pobres
Além da informalidade, o desemprego e a disparada da inflação também têm
sido determinantes na queda da renda do campo, segundo o assessor da
Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais
(Contar) Carlos Eduardo Chaves Silva.
"A agricultura não sofreu impacto da pandemia, mas temos um
exército de desempregados no país. O setor produtivo sabe disso e começa a
pagar mais barato para o trabalhador, a contratar em condições precárias",
diz Silva.
"Por outro lado, as pessoas acabam se submetendo a esses trabalhos
precários porque houve uma diminuição da condição socioeconômica no país...
Aumentou o número de pessoas abaixo da linha pobreza", acrescenta.
Outro problema, segundo o assessor da Contar, é que os salários não
estão conseguindo acompanhar a inflação, que chegou a acumular alta de
10,74% em 12 meses até novembro.
A situação da renda é pior para os que estão na informalidade, segundo
um levantamento feito pelo professor da Universidade de Brasília (UNB) Mauro DelGrossi.
"Entre os ocupados na agricultura, os piores em termos de
remuneração continuam sendo os assalariados sem registro em carteira, que
recebem, em média, de 70% a 80% de um salário-mínimo", afirma.
Leia também: Empobrecimento, arrocho
salarial, juros mais altos: entenda os efeitos da inflação
'Carne de ossos': cortes de terceira também
ficaram mais caros
Informalidade histórica no
campo
Atualmente, os trabalhadores sem carteira assinada
representam 56,7% dos assalariados rurais.
O alto índice de informalidade não é uma novidade nas relações de
trabalho do campo, que sempre se caracterizaram por contratações temporárias, seguindo a sazonalidade de safras
agrícolas.
"Essa característica, porém, não deveria desobrigar o empregador de
assinar a carteira. Mesmo que um trabalhador fique por um mês, três meses, ele
deveria ser formalizado. Isso garante que, pelo menos, ele ganhe um salário
mínimo", diz Souza, da Contar.
O assessor conta que o índice de informalidade já foi um pouco maior no
campo há 20 anos, em torno de 65%, e que esse percentual
foi recuando ao longo dos anos por causa de uma mecanização de lavouras, como
as de cana-de-açúcar e de soja.
"Então, houve uma queda da informalidade por causa de um
desaquecimento de postos de trabalhos no campo", afirma.
Os dados por região mostram que o Centro-Sul do país tem uma maior
formalização dos seus trabalhadores, o que tem relação com um uso maior de máquinas e novas tecnologias nas propriedades.
Os índices
de informalidade por
região são:
Centro-Oeste (26,4%);
Sul (40,6%);
Sudeste (46,5%);
Norte (75,6%);
Nordeste (79,4%).
As informações acima foram organizadas pelo Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos, com dados do IBGE.
Perspectivas
Para o próximo ano, Nicole Rennó, do Cepea, prevê que as ocupações devem continuar crescendo no campo devido
às boas perspectivas para a colheita de grãos no país e aos
preços favoráveis das principais commodities que o Brasil produz e
comercializa.
A safra de grãos 2021/22 deve aumentar 15,1% em relação ao ciclo
anterior, para 291 milhões de toneladas, com destaque para a soja e milho,
mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
O faturamento das lavouras também deve ter alta de 4,5%, para 1,164
trilhão, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Por outro lado, o elevado nível de desemprego e atividade econômica fraca ainda devem continuar reduzindo os ganhos dos assalariados rurais, ressalta Souza, da Contar.
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