O avião que caiu na
sexta-feira (5) e matou cinco pessoas, entre elas a cantora
Marília Mendonça, era de uma outra categoria — táxi aéreo. Um
total de 6,35% dos acidentes no período ocorreram em aeronaves que prestam esse
tipo de serviço, segundo o Cenipa.
Em contrapartida, a
chamada aviação regular — ou seja, voos
comerciais para transporte de passageiros feito pelas companhias aéreas —
responde só por 0,87% dos acidentes registrados no período. Na aviação regular, foram apenas 16 ocorrências do
tipo de 2011 para cá — o último acidente fatal do Brasil nessa categoria
ocorreu há mais de 10 anos, na queda de um avião da NOAR Linhas Aéreas em
Recife, quando 14
passageiros e dois tripulantes morreram.
Os dados do Cenipa incluem
aviões, helicópteros, ultraleves, dirigíveis e outras aeronaves. Veja os
números completos abaixo:
Aviação particular: é o
uso da aeronaves em viagens privadas — a pessoa tem um avião ou um helicóptero
e pode usá-lo para viajar. Não pode, no entanto, cobrar para levar alguém; pode
só fazer transporte próprio, de familiares ou de amigos.
Táxi aéreo: é feito por
empresas de aviação contratadas para levar uma pessoa ou um grupo de um lugar
para o outro — ou seja, há uso comercial. Deve seguir uma série de exigências
mais rígidas sobre treinamento de pilotos e manutenção do que a aviação
particular.
Aviação regular: são os
voos das companhias aéreas, marcados com um número, que fazem transporte entre
os aeroportos em um horário e uma linha pré-definidos.
Os especialistas ouvidos
pelo g1 pedem cautela em relação
a esses números: afinal, cada acidente é único e demanda análise profunda para
estabelecer qualquer tipo de relação de causa e consequência. Eles dizem também
que a aviação geral brasileira é, sim, segura, mas
que os níveis de segurança podem sempre ser aprimorados e melhorados. Além
disso, a discrepância se explica em parte pela enorme diferença numérica
entre aeronaves particulares, que chegam a 47% do total, sobre os aviões
comerciais, que são apenas 3%, segundo dados de 2020 da Anac. Serviços de táxi
aéreo respondem por 6% do total. Ou seja, são percentuais próximos dos
observados na proporção dos acidentes por segmento da aviação.
"A capilaridade é muito
maior na aviação particular. Tem avião que voa de uma fazenda para a
outra", exemplifica George William Sucupira, conselheiro da Associação de
Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Aopa)
Vale lembrar que as causas do
acidente que matou Marilia Mendonça e mais quatro pessoas ainda estão
sob investigação. Documentos mostram que a aeronave acidentada perto
de Caratinga (MG) estava habilitada para o serviço de táxi aéreo — que era, de
fato, a categoria do voo que levava a cantora.
Ainda assim, a fiscalização
dos voos privados levanta mais preocupações. Veja abaixo por quê.
Primeiro, é preciso entender
que todas as aeronaves devem seguir uma série de normas e estar em dia com
as documentações para poder levantar voo. Isso vale tanto para
equipamentos comerciais regulares quanto para táxi aéreo e aviões particulares.
"Todo avião tem que fazer
a inspeção anual de manutenção em uma oficina homologada. Sem isso, um avião
não consegue fazer o voo e é suspenso", afirma George William Sucupira,
conselheiro da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Aopa).
No entanto, as companhias
aéreas e as empresas de táxi aéreo passam por ainda mais etapas de checagem,
com uma fiscalização bastante rígida, no Brasil, pela Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac).
Essa diferença de critérios
para cada tipo de serviço precisa ser seguida à risca — e há fiscalização da
Anac. Em 2018, num outro caso completamente diferente do ocorrido na semana
passada, um outro avião que levava a mesma cantora Marília Mendonça precisou
ser desviado porque a empresa dona daquela aeronave não estava
homologada para o táxi aéreo na ocasião.
Então, por que o setor da
aviação privada preocupa mais? O diretor de segurança do Sindicato
Nacional dos Aeronautas, Eduardo Antunes, aponta as seguintes razões:
Aeronaves menores nem sempre
pousam ou decolam de grandes aeroportos com estrutura de ponta para pousos e
decolagens em condições adversas;
As exigências da Anac para
avaliações periódicas, como visto na tabela acima, são menores na comparação
com os critérios do táxi aéreo e, mais ainda, na aviação comercial regular;
Os procedimentos de manutenção
são muito custosos, então nem sempre um proprietário de aeronave particular
terá condições financeiras de arcar com revisões além das obrigatórias.
Outro problema é que alguns
pequenos operadores ou donos de avião burlam as regras e forjam documentos —
o que também estaria por trás de uma série de acidentes na aviação particular,
apontam relatórios finais de investigação pelo Cenipa.
"Se você for olhar o
relatório de acidentes, dá para ver que são problemas relacionados com
manutenção, maus hábitos e treinamento", explica Antunes.

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