Nascida em Salvador, Julia
é a 4° geração a plantar cacau na família e tem bastante interesse na
lavoura da fazenda Santa Rita, na cidade de Ilhéus (BA).
“A gente produz o cacau com
carinho e eu sabia que outras pessoas faziam o chocolate com o nosso cacau. E
aí eu pensei: se outras pessoas fazem, por que a gente não pode fazer também?”,
lembra.
Apesar da empreitada ser
recente, a menina faz sucesso nas redes sociais do “Chocolate da Ju” e a barra
70% cacau ficou em 3° lugar no prêmio CNA Brasil Artesanal, sendo considerada
uma das melhores do país.
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maior produtor mundial de cacau; saiba tudo sobre o cultivo
A brincadeira ficou séria
Desde que Julia nasceu, seu
pai, Lucas Arléo, já trabalhava na fazenda e, assim, ela cresceu frequentando
as plantações de cacau. Com a pandemia e a paralisação das escolas, Lucas e sua
esposa, Juliana, tornaram o campo ainda mais presente na vida da menina.
“Ela sempre gostou, sempre ia
aos finais de semana e aí começou a me acompanhar um pouco mais na fazenda,
mais de perto. Também foi uma forma de a gente sair de casa. Ela ia me
acompanhando nas quebras (do cacau) e aí foi tomando gosto e foi se apaixonando
também”, explica o pai.
Hoje, Julia consegue
narrar todo o processo da produção de cacau como gente grande, desde o
plantio até a preparação de fato do chocolate. (Confira no vídeo no início
da reportagem).
Antes da comercialização do
chocolate, 100% da colheita ia para terceiros, incluindo outros produtores do
doce, que seguem a linha bean-to-bar, ou seja, fazem o chocolate a partir do
cacau in natura, sem conservantes e aromatizantes.
“A gente sempre provava esse
chocolate que os nossos clientes faziam. E nesse meio de caminho surgiu a ideia
da parte dela de por que a gente não pode fazer o próprio chocolate, já que o
cacau - que é a matéria-prima, que é o principal - a gente já faz?”, relata
Lucas.
Na Páscoa, a família decidiu
“brincar de produzir chocolate” e até conseguiu vender alguns ovos. A Julia,
então, ficou ainda mais apegada à ideia de ter a sua loja e, em seu
aniversário de 8 anos, pediu de presente uma melanger, máquina que ajuda a
transformar o grão em chocolate.
“Um dia eu entrei no quarto
(dos pais) e aí eu fui lá, já cheguei com nome, logo tudo”, lembra Julia.
Lucas relata que, na ocasião,
a filha apresentou um plano de ação, que apontava quem faria o que na fábrica.
“E nós compramos essa ideia.
Na verdade veio agregar também ao nosso trabalho, é um complemento ao nosso
trabalho com o cacau especial. Então unimos o útil ao agradável e começamos,
como ela falou, em uma brincadeira e tudo foi tomando corpo, ficando sério,
gostamos da coisa”, diz Lucas.
As vendas são feitas pelas
redes sociais para todo o Brasil, mas o perfil no Instagram também tem outro
propósito. Os vídeos publicados, estrelados pela Julia, têm a ideia de mostrar
ao público de onde vem o chocolate, desde a roça do cacau.
Devastação
Muitos anos antes da Julia nascer, há 55 anos, o bisavô dela iniciou o cultivo de cacau na fazenda Santa Rita. A princípio, tudo prosperou e a família chegou a ter quatro fazendas com plantios da variedade forasteiro.
A prosperidade, entretanto,
foi freada entre as décadas de 80 e 90, após a crise da vassoura-de-bruxa
deteriorar as fazendas de cacau da Bahia.
O fungo é considerado um
dos mais destrutivos do cacaueiro, podendo diminuir em até 50% o rendimento da
lavoura. Estima-se que a colheita baiana do fruto caiu em 60% por causa dele na
época.
Saiba mais sobre a crise da
vassoura-de-bruxa em reportagem da GloboNews exibida em 2018:
De quatro fazendas, duas
tiveram que ser vendidas. As operações, que contavam com cerca de 70
funcionários em período de colheita, tiveram de ser feitas com apenas 4
trabalhadores e a produção caiu de 9 mil arrobas para mil.
Nos anos 2000, Lucas passou a
acompanhar mais de perto a fazenda e, com a ajuda de um tio, tentou
reestruturar o negócio da família.
“Hoje o meu trabalho é esse:
tentar recuperar esse patrimônio de meu avô. A questão financeira é importante,
necessária, mas é secundária. Meu objetivo é pôr o patrimônio que ele construiu
com tanto carinho de pé, principalmente essa fazenda, que ele tinha uma
verdadeira paixão por ela”, afirma Lucas.
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Perpetuando o legado
O sistema de plantação
permaneceu o mesmo, o “cabruca”, que é o agroflorestal,
em que o cacaueiro fica em meio a árvores nativas da Mata Atlântica.
Com isso, a fazenda conseguiu
o selo de indicação de procedência do sul da Bahia, que garante, além da
localização, que o cultivo é neste sistema.
Em 2016, para agregar valor à
lavoura, os agricultores investiram no cacau
especial, que se diferencia por ser selecionado conforme a qualidade do
grão. Apesar de não encontrarem compradores de imediato, eles comercializam o
fruto para outros produtores de chocolate.
Atualmente, o cacau especial
representa 25% da produção e vai também para a fabricação do Chocolate da Ju.
Além do cacau, a família tem
apostado na criação de abelhas sem ferrão. A ideia é aumentar os enxames da
fazenda para, no futuro, também trabalharem com mel.
Hoje o legado é passado para
Julia e o irmão dela, Pedro, de apenas 3 anos. Mas, Lucas explica que eles não
trabalham de fato, apenas convivem no ambiente e podem experimentar como é
fazer cada serviço, supervisionados, para irem “pegando gosto” pela fazenda.
E o plano tem dado certo
porque Julia adora fazer parte do processo e fala logo quais são seus planos:
“Vou falar o meu sonho para o futuro: é ter uma loja de chocolate e fazer uma estrutura de dinossauro para colocar em frente da loja. Vai derreter? Vai. Mas eu quero fazer“. A paixão por esses animais fica explícita também na estampa da camiseta usada durante a conversa com o g1.

Maravilha de se ver.
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