A Câmara dos
Deputados adiou mais uma vez nesta terça-feira (17) a votação do projeto
de reforma do Imposto de Renda de Pessoa Físicas, empresas e
investimentos. Por 390 votos a 99, os parlamentares aprovaram um requerimento
do PSOL para retirar a matéria de pauta.
Na quinta-feira (12), o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia adiado
a discussão a pedido de líderes partidários e disse que pautaria o
texto para votação nesta terça.
Mesmo com o novo prazo, os
deputados não alcançaram um acordo para votar o projeto.
Segundo o líder do governo na
Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), a maioria dos parlamentares é a favor
da taxação dos dividendos (parcela do lucro das empresas distribuída aos
acionistas) em 10% no primeiro ano, e só depois em 20%, um dos pontos polêmicos
da proposta. Atualmente, os dividendos são isentos de tributação. O governo
propôs a tributação em 20% dos dividendos já em 2022.
A mudança sugerida pelos
parlamentares causaria perda de arrecadação aos municípios, segundo Barros.
“Para nós atendermos ao pedido
da maioria dos parlamentares que é de reduzir [a tributação sobre] os
dividendos para 10% no primeiro ano e depois 20 [%], nós temos perdas para os
municípios. A gente atende um lado e desatende outro”, explicou.
“Eu sugiro então que nós
concordemos com a solicitação dos parlamentares e em vez de votarmos o texto
hoje e deixarmos os destaques para a próxima semana, nós deixamos toda a
votação para a próxima semana para que a gente possa dar uma solução”,
completou o líder do governo.
Barros disse, ainda, que os
partidos apresentariam em plenário muitos destaques (pedidos pontuais de
alteração), o que poderia desvirtuar o projeto.
“Os destaques podem desvirtuar
o equilíbrio que foi garantido pelo próprio presidente Arthur Lira que, se
tiver perda para os municípios, a matéria não vai a voto. Na dúvida se há ou
não perda para os municípios, vamos concordar com a fala do deputado [Marcelo]
Freixo (PSB-RJ), com a oposição, que aqui no plenário, vários pediram mais
tempo para ajustar o texto.”
Sem consenso
Além da falta de consenso
sobre a tributação dos dividendos, empresários, governadores e prefeitos de
capitais pressionaram pelo adiamento da votação, pois afirmam que a reforma vai
resultar em perda de arrecadação para os cofres dos governos locais e aumento
da carga tributária para alguns setores da economia.
Mesmo com as mudanças feitas
pelo relator no quarto parecer apresentado, secretários estaduais de Fazenda
calculam perdas de R$ 11,7 bilhões por ano para os cofres estaduais e
municipais. A Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais
(Abrasf) fala em perda de R$ 1,5 bilhão somente para as capitais e maiores
cidades do país.
A Confederação Nacional da
Indústria (CNI) diz que o novo texto aumenta a carga tributária sobre
investimentos produtivos dos atuais 34% para, no mínimo, 39,2%.
O relator nega. Ele diz que a
reforma terá, ao final, impacto neutro para a arrecadação e que a carga
tributária sobre as empresas vai ser reduzida em 10 pontos percentuais,
passando de 34% para 24% na maioria dos casos, considerando as mudanças
propostas para o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Acordo com CMN
Antes da votação do texto,
governo e relator chegaram a tentar um acordo com a Confederação Nacional dos
Municípios (CNM).
Os prefeitos das capitais,
representados pela Abrasf, não entraram no acordo. "A associação não
concorda com o que foi combinado com a CNM", diz a Abrasf em nota.
Para apoiar a reforma, a CNM
pediu em troca aumento permanente do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), uma transferência constitucional de recursos por parte da União aos
municípios, e mudança no índice de correção do piso nacional do magistério.
Pelo acordo, o aumento no FPM será votado por meio de propostas de emendas à Constituição (PECs). Já a mudança no índice de correção do piso do magistério foi votada nesta terça. Porém, a mudança foi rejeitada após mobilização da oposição e da bancada dos professores, já que o novo índice de correção traria perdas para os professores.
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