As medidas são de prevenção, segundo a SMS Natal. Segundo Sônia Fernandes, chefe do setor de Fiscalização de Alimentos e Bebidas, vinculado à Divisão de Vigilância em Saúde, as medidas já ocorrem semanalmente em Natal, tendo o setor um atendimento 24h para eventuais intoxicações de maneira geral.
“A vigilância já tem um serviço de plantão que funciona de segunda a segunda e
esse serviço já faz trabalhos nos estabelecimentos de bares, casas noturnas,
especialmente em finais de semana. Em função do ocorrido, estaremos priorizando
ainda mais esses segmentos para poder estarmos acompanhando como está esse
processo nesses estabelecimentos”, disse.
Ainda segundo a representante da SMS Natal, o serviço atua na cidade como um todo, com ações também no setor turístico da capital. No geral, o procedimento da inspeção é acompanhar questões relacionadas às boas práticas, manuseio, processo e utilização da matéria-prima. “Todo o controle de boas práticas envolve essa fiscalização. Tanto na área de alimentos quanto de bebidas, especialmente agora que estamos tendo em vista essas questões relacionadas ao metanol”, complementa.
Da mesma forma vai ocorrer com o Procon Natal. Segundo informações do agente de
fiscalização Carlos Alberto Freire, o órgão vai notificar as distribuidoras de
Natal, que somam mais de 100 empresas. “A Secretaria Nacional de Defesa do
Consumidor soltou uma nota técnica reforçando que os Procons fiquem atentos a
essa situação. O Procon vai atuar nas distribuidoras de bebidas, notificando
essas empresas a terem esse cuidado redobrado da origem de onde eles compram
essas bebidas, principalmente as destiladas, como whisky, vodka e gin, para ver
se conseguimos ter um acompanhamento disso”, cita.
Ainda segundo Carlos Alberto Freire, essa notificação é de forma preventiva e educativa e será tanto para distribuidores quanto para quem faz a revenda, seguindo as diretrizes da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom). As fiscalizações preventivas vão ocorrer nos próximos dias, segundo ele.
O professor e coordenador da Liga Acadêmica de Toxicologia da UFRN, Herbert
Sisenando, aponta que o “batismo” de bebidas é uma prática ilegal comum no
Brasil. Ele cita dados recentes da Associação Brasileira de Bebidas Destiladas
(ABBD), que apontam que um quinto das bebidas brasileiras são adulteradas. Na
avaliação do professor da UFRN, a situação demanda cuidados iniciais.
“Sempre que trabalhamos com etanol vai existir o risco do metanol. O controle de qualidade tira esse metanol e deixa só o etanol. Então, é preciso ter cuidado? Sim. Mas toda vez que acontecem esses casos de alarde nacional, sempre dá aquela coisa para a população para que as pessoas fiquem atentas a isso e mais cuidadosas com relação ao produto falsificado”, acrescenta.
“Tínhamos antigamente casos pontuais. O problema foi que esses casos pontuais
apareceram num período curto. Se acontecesse isso em festas de rua, temos uma
situação. Agora, se temos isso dentro de bares com poder aquisitivo alto, o
risco maior é essa bebida adulterada estar dentro do processo comercial normal.
E aí tem um problema: como foi essa produção? Tanto a PF quanto a Polícia de
São Paulo estão tentando descobrir se não tem uma indústria, uma fábrica de
adulteração de grande porte”, explica.
Abrasel teme queda no faturamento
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Estado (Abrasel-RN), Thiago Haddad, aponta que o faturamento do setor de bares e restaurantes pode ser afetado. Ele cita que o segmento tem sido “crucificado” e lembra que há apenas um registro de morte confirmada por intoxicação por metanol no Brasil.
“Das 5 mortes, só essa foi comprovada e as autoridades demoraram 22 dias para
comunicar. Se fosse um surto, algo gigantesco, muito mais pessoas teriam
morrido. Temos medo que isso esteja causando um efeito de pânico coletivo, pois
está afetando muito os bares e restaurantes. Segundo a USP, desde que existem
falsificações, um terço das bebidas têm adulteração. Essa é uma ineficiência do
Poder Público, nas fiscalizações, principalmente nas fábricas de bebidas”,
aponta.
Ainda segundo Thiago Haddad, o temor é de que o alarde gere queda de movimento nos restaurantes e bares, que têm as bebidas alcoólicas, em boa parte dos casos, como carro-chefe. Ele cita ainda que o setor no Estado até agora não registrou impactos no movimento, segundo os associados da entidade.
O presidente da Abrasel no RN aponta ainda que os associados têm comprado
bebidas em fontes confiáveis e que devem desconfiar de vendas de produtos com
preços fora do praticado no mercado. “O aumento da carga tributária no país é
um dos fatores que acabam impulsionando esse tipo de bebida [falsificada]. No
setor em geral, sempre orientamos — e a maioria já faz isso — comprar bebida
destilada em supermercados, distribuidoras qualificadas, isso quando não
compramos direto das grandes distribuidoras do país, como Ambev e Coca-Cola,
que representam em suas plataformas de vendas”, finaliza.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) e a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) estão realizando uma série de treinamentos online, gratuitos e com certificado, com orientações práticas para que empreendedores saibam identificar bebidas falsificadas de produtos autênticos.
Durante o treinamento, os participantes receberam orientações detalhadas sobre
como identificar sinais de falsificação em garrafas, tampas, rótulos e
líquidos.
Tribuna do Norte
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