quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Lira rejeita 96 emendas e inclui repasse a estados e municípios na isenção do IR

O ex-presidente da Câmara dos Deputados e relator, Arthur Lira (PP-AL), decidiu rejeitar a maioria das emendas apresentadas ao texto da reforma do Imposto de Renda, que estava sendo votado no plenário da Casa na quarta-feira (1), até o fechamento desta edição, com apoio unânime das bancadas e lideranças. Das 99 sugestões apresentadas ao projeto, o relator admitiu apenas três. A decisão confirmou a estratégia de levar ao plenário um projeto com poucas concessões.

As mudanças aceitas foram pontuais. Saiba quais foram: A primeira delas trata da transição para lucros e dividendos apurados até 2025: mesmo pagos nos anos seguintes, até 2028, esses valores continuarão isentos desde que a distribuição tenha sido aprovada até 31 de dezembro deste ano. A regra garante previsibilidade e atende a uma demanda de setores empresariais que pediam segurança jurídica diante da nova tributação de dividendos.

Outro ponto incorporado beneficia os titulares de cartórios. Embora o parecer de Lira tenha rejeitado a exclusão total da categoria, a emenda aceita prevê que os repasses obrigatórios incidentes sobre emolumentos não entrarão na base de cálculo da tributação mínima do IR. É uma saída intermediária: mantém os cartórios no radar da cobrança, mas reduz a pressão sobre parte da receita.

A terceira emenda acolhida ajusta a situação do Prouni. A partir de agora, as bolsas concedidas no âmbito do programa serão consideradas como “imposto pago” para fins de cálculo da alíquota efetiva das pessoas jurídicas. Na prática, evita que empresas que aderem ao Prouni sejam penalizadas ao apurar o limite da tributação mínima.

Fora esses pontos, todo o restante foi barrado. Ficaram de fora, por exemplo, as propostas de criar uma contribuição sobre apostas de quota fixa — a chamada Cide-Bets — ou de ampliar a faixa de isenção corrigindo valores pela inflação. Também foram rejeitadas emendas que buscavam aliviar empresas com incentivos regionais ou regimes especiais.

Ao apresentar o parecer, Lira fez questão de frisar que as mudanças aprovadas são ajustes técnicos, sem alterar o núcleo da proposta: isenção integral até R$ 5 mil, desconto decrescente até R$ 7.350, tributação mínima progressiva a partir de R$ 600 mil anuais e taxação de dividendos acima de R$ 50 mil mensais. Com isso, o relator tenta reduzir riscos de derrota no plenário e entregar ao Planalto um texto praticamente idêntico ao da comissão.

“Nós ainda temos uma batalha grande no plenário, vamos ter posições divergentes, mas esse não é qualquer assunto e vai atingir 16 milhões de brasileiros. É o primeiro passo para corrigir a justiça tributária no país — afirmou Lira.

Estados e Municípios

Em uma tentativa de avançar com a proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda, o relator do projeto, deputado Arthur Lira (PP-AL), incluiu a previsão de repasse trimestral a estados e municípios que tiverem perdas de arrecadação com as mudanças na tributação.

O parlamentar também estipulou que os rendimentos com debêntures incentivadas de infraestrutura não serão alvo do imposto mínimo criado para contribuintes de alta renda.

A nova versão do texto foi divulgada pelo relator no início da noite da quarta-feira (1º) e foi votado na sequência pelo plenário da Câmara dos Deputados. Os secretários Robinson Barreirinhas (Receita Federal) e Marcos Pinto (Reformas Econômicas), ambos auxiliares do ministro Fernando Haddad (Fazenda), acompanham a discussão dentro do plenário.

Nenhuma alteração afeta o coração da proposta, que envolve a isenção para quem ganha até R$ 5.000 mensais e a criação de um imposto mínimo de até 10% para quem ganha a partir de R$ 50 mil por mês.

O parecer anterior não estipulava qualquer prazo para o pagamento a estados e municípios, apenas obrigava a União a compensá-los em caso de perda de arrecadação diante do aumento da isenção.

O risco de perda existe porque o IR recolhido na fonte sobre salários de funcionários dos governos estaduais e municipais pertence a esses entes, e não à União. Ao isentar um número maior de contribuintes, eles também vão perder arrecadação.

O governo Lula, por sua vez, argumenta que a criação do imposto mínimo de 10% para contribuintes de alta renda e a previsão de uma retenção de 10% na fonte sobre dividendos distribuídos à pessoa física podem compensar ao menos parte dessa perda, se não toda. Isso porque o Imposto de Renda é um tributo repartido com estados e municípios, que ficarão com parte do ganho de receitas nessa frente.

O presidente Lula (PT) afirmou na quarta-feira (1º) que a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês representa o “1º passo para a justiça tributária” no país. Ele declarou estar convencido de que o projeto será aprovado no Congresso.“Estou convencido que a Câmara vai aprovar, estou convencido que o Senado vai aprovar”, disse.

Tribuna do Norte

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