Atualmente, cerca de 23% dos casos de câncer de mama são registrados em mulheres entre 40 e 49 anos | Foto: Envato
O câncer de mama,
tradicionalmente mais comum em mulheres acima dos 50 anos, tem apresentado
crescimento preocupante entre mulheres por volta dos 40 anos. Dados do Painel
Oncologia Brasil, analisados pelo CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem), indicam que mais de 108 mil mulheres com menos de 50
anos foram diagnosticadas com câncer de mama no Brasil de 2018 a 2023 – uma
média de uma em cada 3 mulheres diagnosticadas com a doença.
Hoje, o Ministério da Saúde aponta que cerca de 23% dos casos da doença são registrados em mulheres com idade entre 40 e 49 anos. “Essa mudança no cenário está diretamente ligada aos hábitos de vida, com o aumento da obesidade, do sedentarismo e da predisposição genética como agentes potencialmente carcinogênicos”, explica a oncologista do Hospital São Marcelino Champagnat e do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), Aline Vieira.
Em resposta a esse cenário, o
Ministério da Saúde anunciou recentemente que vai garantir o acesso à
mamografia no SUS a mulheres entre 40 e 49 anos, mesmo que não apresentem
sinais ou sintomas da doença, com o objetivo de antecipar o diagnóstico e
tratamento.
Além disso, a mudança de
comportamento deve se basear, principalmente, em manter os exames de rotina em
dia. “A partir dos 40 anos de idade, todas as mulheres devem realizar a
mamografia de rastreamento anual e prestar atenção no próprio corpo. Ao identificar
algum nódulo ou alteração na mama, é preciso buscar avaliação médica
especializada”, reforça Aline. Segundo ela, cuidados com a alimentação, a
prática de atividade física e evitar, além do tabagismo, o uso indiscriminado
de hormônios são primordiais para reduzir o risco de desenvolver a doença.
Tratamento multidisciplinar
De acordo com o Instituto
Nacional do Câncer (Inca), estima-se que, em 2025, serão diagnosticados mais de
73 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. A incidência é de 66,5 casos
por 100 mil mulheres, número considerado alto. Em 2023, mais de 20 mil mortes
foram registradas no país pela doença.
“A detecção precoce aumenta em
90% a chance de cura; já no diagnóstico tardio, essa possibilidade cai para
menos de 30%, e o tratamento se torna mais agressivo. A mulher fica debilitada
com o diagnóstico positivo, e o cuidado integral é fundamental”, frisa a
oncologista.
Tratamento
O tratamento do câncer, muitas
vezes, envolve quimioterapia e imunoterapia. Esses medicamentos são eficazes no
combate às células tumorais, mas também podem afetar algumas células saudáveis
do organismo, como as do coração e dos vasos sanguíneos. Isso pode causar
inflamação, enfraquecimento do músculo cardíaco e alterações na pressão
arterial ou nos batimentos. “É essencial que o tratamento dos cânceres
diagnosticados tardiamente seja acompanhado por um cardiologista, porque
alterações provocadas pelas terapias e não identificadas precocemente podem
gerar falta de ar, inchaço, arritmias ou outros problemas cardiovasculares”,
esclarece a cardio-oncologista, Ana Paula König.
Entre os tratamentos mais
associados a efeitos cardíacos estão as antraciclinas (como a doxorrubicina),
que podem causar perda de força no coração, especialmente em doses elevadas, a
trastuzumabe, amplamente utilizada no tratamento do câncer de mama, e algumas
imunoterapias, que podem provocar miocardite (inflamação do músculo cardíaco).
A radioterapia torácica também pode endurecer artérias e alterar válvulas ou o
próprio músculo cardíaco. “Nem todos pacientes apresentam complicações, mas o
monitoramento contínuo é fundamental para reduzir riscos”, orienta a
médica.
Antes do início do tratamento,
König reforça que é importante realizar uma avaliação cardiológica completa. A
especialista explica que, durante a quimioterapia, exames como ecocardiograma,
eletrocardiograma e laboratoriais devem ser repetidos para garantir que o
coração esteja reagindo bem. “Modelos de risco permitem planejar um tratamento
individualizado e prevenir complicações cardiológicas”, finaliza Ana Paula.
Tribuna do Norte
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